Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Demanda por qualificação requer novas estratégias

A demanda por qualificação profissional e o crescimento econômico brasileiro sustentam as vendas no mercado de livros de negócios. Ainda é cedo para falar em expansão, mas a importância do segmento está refletida no número de lançamentos previstos e na entrada de editores no ramo. “É um mercado conservador e de alto risco, que depende muito do comportamento da economia. No ano passado, as vendas cresceram cerca de 6%. Mas em 2010 não houve nenhum avanço”, explica Igdal Parnes, diretor da Campus/Elsevier.

Segundo os Retratos da Leitura no Brasil, estudo realizado pelo Instituto Pró-Livro, 23% dos leitores afirmam que a atualização profissional é uma de suas motivações para ler. Já as exigências do trabalho contribuem com 9%, enquanto a demanda escolar ou acadêmica responde por 36%. A pesquisa ainda aponta que 64% dos brasileiros ouvidos acreditam que ler bastante pode fazer uma pessoa “vencer na vida” e melhorar a sua situação socioeconômica.

Na Livraria Cultura – onde os livros de administração e negócios representam 15% do catálogo –, o perfil de quem busca aprimoramento por meio da leitura é de profissionais na faixa dos 30 anos com interesse em temas como empreendedorismo, liderança, desenvolvimento profissional, marketing e redes sociais. “O leitor quer exemplos, dicas, casos de sucesso e livros que ajudem a melhorar rapidamente o desempenho no trabalho”, comenta o gestor de compras, Ricardo Schil.

A estante inclui desde livros sobre economia mundial – cujo interesse avança à medida que as turbulências acontecem – até a autoajuda, segmento que, na visão da Sextante, perdeu 30% de mercado nos últimos anos. “Os livros de autoajuda continuam no topo das listas dos mais vendidos, mas sentimos que o leitor tem mudado e quer mais densidade na leitura”, afirma Marcos Pereira, sócio da Sextante.

Segmento de alto risco

Para manter o interesse em seus títulos, a editora aposta no mercado de biografias. Está fazendo sucesso com O X da Questão, história do empresário Eike Batista editada pelo selo Primeira Pessoa que já vendeu mais de 130 mil exemplares. O êxito dos empreendedores brasileiros deve comandar os principais lançamentos. Entre eles, a Sextante vai publicar outro livro sobre Abílio Diniz ainda neste ano. “Temos de encontrar o que o leitor quer. Por isso, vamos atrás de novidades.” Além das personalidades, a editora acredita em temas como empreendedorismo e mundo corporativo. Na área das finanças pessoais, aposta no título O Segredo dos Casais Inteligentes, de Gustavo Cerbasi, que pretende colocar nas prateleiras nos próximos meses.

Tradicional na publicação de autores reconhecidos e grandes gurus nas áreas de administração, economia e negócios, a Campus/Elsevier lançou perto de 50 títulos no ano passado. Pretende repetir o número em 2012 e confia no poder de vendas de especialistas consagrados, como Philip Kotler, com a tradução de Good Works! Marketing and Corporate Iniciatives That Build a Better World… And the Bottom Line(ainda sem nome em português). “Nosso catálogo é formado por livros específicos, que adensam conhecimento em diferentes áreas de trabalho”, informa Parnes.

Sua lista de boas vendas inclui títulos como O Que Importa agora, de Gary Hamel, e 28 Mentes Que Mudaram o Mundo, de Rhymer Rigby. A Campus/Elsevier vai investir ainda em uma série de livros sobre o comportamento de celebridades no papel de CEO. “Vamos editar a versão de líderes como Napoleão e Winston Churchill.” Além dos lançamentos, o mercado, segundo ele, é cativo para bons livros. Os consagrados A Estratégia do Oceano Azul, de W. Chan Kim e Renne Mauborge, e Marketing 3.0, de Philip Kotler, devem manter o bom desempenho. “É um segmento de alto risco”, repete Parnes. “São muitos títulos e o desafio é publicar os que vão conquistar o leitor.”

Mudanças profundas

Em 2013, a Companhia das Letras entra no páreo para disputar o mercado de livros de negócios. Essa entrada no segmento é estratégica para a editora, que pretende segmentar cada vez mais seu catálogo. “O atendimento a diversos nichos é uma tendência mundial. Temos de ampliar nossas opções”, comenta o publisher Matinas Suzuki. O selo Penguin concentrará a oferta de títulos de alta qualidade nas áreas de negócios, economia, gestão empresarial e marketing.

A parceria com a britânica Penguin – que adquiriu 45% da Companhia das Letras – não limita a editora brasileira. “Tem livros que simplesmente não viajam. Com sucesso no exterior, não geram interesse para o brasileiro. Teremos autonomia para escolher o que publicar por aqui, inclusive títulos de outros editores”, avisa Suzuki, lembrando que o plano é publicar entre 10 e 12 títulos de negócios por ano.

Com o grande sucesso da biografia de Steve Jobs, por Walter Isaacson (que vendeu mais de 200 mil exemplares em dois meses), a Companhia das Letras iniciou sua experiência no segmento de negócios e deve esquentar a disputa. “A economia mudou muito. As empresas que mais valem hoje simplesmente não existiam há 15 anos. Por isso, há interesse crescente em títulos de negócios”, diz Suzuki.

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[Cristina Santos, do Valor Econômico]