Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os vampiros brasileiros

[do release da editora]

O jornalismo investigativo nunca esteve tão em alta no Brasil. Vide a recente queda em cascata de ministros do governo Dilma Rousseff, sem contar os grandes escândalos desmascarados nas últimas duas décadas, entre os quais o chamado mensalão. Já era hora de registrar os principais casos num livro, um suporte mais duradouro, antes que tudo caia no esquecimento total. Assim surgiu Sanguessugas, publicado pela Geração Editorial.

O jornalista gaúcho Lúcio Vaz, 54 anos, sendo 34 de profissão, atualmente na Folha de S.Paulo, reúne casos notórios de corrupção e alguns de abuso econômico, que redundaram em exploração desenfreada dos nossos recursos naturais por empresas brasileiras e multinacionais. São reportagens próprias, ocorridas nas últimas duas décadas. A obra começa pelo mensalão e volta ao passado recente para expor as vísceras da Máfia dos Sanguessugas, que dá título ao livro, prosseguindo com uma radiografia dos lobistas em Brasília, desvios de verbas de infraestrutura, fraudes na distribuição de remédios, obras inacabadas, crimes ambientais praticados por indústrias papeleiras, fraudes na Ferrovia Norte-Sul e até – quem diria? – a apropriação escandalosa de bolsas de estudos destinadas aos indígenas.

A conquista da credibilidade

Mas não se trata de uma denúncia feita a partir das redações dos jornais, no conforto do ar-condicionado. Lúcio Vaz deixa o lar e a família para passar dias, semanas, em busca de provas, enfrentando viagens cansativas, comendo poeira, arriscando a vida. Numa narração envolvente, ele leva o leitor às cidades mais remotas do país, onde passa as noites em hotéis simples, toma um chimarrão (bom gaúcho que é) nos poucos momentos de sossego, um lanche rápido numa birosca qualquer e segue em frente, nos transmitindo a tensão de quem está cada vez mais perto da presa, dos corruptos que não titubeariam em mandá-lo matar. Não estamos apenas diante de um texto-denúncia, mas na linha de frente de uma batalha, como um detetive atrás das pistas.

Costumamos nos horrorizar com crimes de sangue, esquecendo que os crimes de terno e gravata, sapatos lustrosos, camisas engomadas, perfume discreto, causam, direta ou indiretamente, a morte e o sofrimento de milhares, milhões de pessoas. Sanguessugas mostra como o sangue do brasileiro é chupado, ora de canudinho, ora por transfusão completa.

Por todas as suas reportagens corajosas, Lúcio Vaz conquistou a credibilidade de um grande jornalista. Em seu primeiro livro, A ética da malandragem, também publicado pela Geração Editorial, abordando as maracutaias do Congresso, ele já mostrou a que veio. Muitos devem estar torcendo pela sua aposentadoria precoce. Ele vem fazendo a sua parte e pode fazer muito mais.

O autor

O jornalista Lúcio Vaz, 54 anos, nasceu em São Gabriel (RS) e cursou jornalismo na Universidade Católica de Pelotas, onde começou a trabalhar. Foi fotógrafo e cinegrafista, até estrear como repórter do Diário da Manhã, em 1979. Ainda em Pelotas, atuou na sucursal do Correio do Povo, de Porto Alegre. Naquele período, foi líder estudantil e sindical, como membro do Partido Comunista do Brasil.

Transferiu-se para Brasília em 1985, no início da Nova República. No mesmo ano, iniciou a cobertura do Congresso como correspondente do Jornal do Comércio de Porto Alegre. Paralelamente, integrava a equipe de esportes do Correio Braziliense. Contratado pelo jornal O Globo em 1987, cobriu toda a elaboração da Constituinte. Dois anos mais tarde, ingressou na Folha de S.Paulo para cobrir as primeiras eleições diretas para presidente. Acompanhou o comitê de Fernando Collor no segundo turno.

Nos anos seguintes, especializou-se na cobertura do chamado “baixo clero” do Congresso – parlamentares de pouca expressão política ávidos por cargos e verbas federais, além de mordomias, privilégios. Fez reportagens de repercussão sobre nepotismo, compra de votos, aluguel de mandato. Em 2000, foi coordenador de política da sucursal de O Globo, mas retornou à Folha no ano seguinte. Após uma passagem rápida pelo Estado de Minas, em 2003, chegou ao Correio Braziliense.

Na nova casa, publicou a reportagem sobre a Máfia das Ambulâncias em dezembro de 2005. Seis meses mais tarde, o caso seria desvendado pela Polícia Federal na Operação Sanguessuga. Em 2006, a série de reportagens ganharia o prêmio Barbosa Lima Sobrinho, oferecido pela Embratel, e o 1º lugar no Prêmio Latino-Americano de Reportagem Investigativa, do Instituto Prensa y Sociedad, do Peru, com apoio da Transparência Internacional. Em novembro de 2011, Lúcio Vaz voltou a trabalhar no jornal Folha de S.Paulo, na sucursal de Brasília.

Veneno para os ratos

Você quer saber como os ratos roem o queijo enquanto você dorme após um dia exaustivo de trabalho honesto? Acorde no meio da noite para surpreendê-los no Celeiro Brasil. Em Sanguessugas do Brasil, o escritor e jornalista Lúcio Vaz sai a campo para mostrar os bastidores da corrupção que vem envergonhando o país nas últimas décadas. Não só envergonhando, mas empobrecendo a nação em todos os sentidos. Se já é difícil criticar alguém por um deslize qualquer, imagine, então, colher provas para desmascarar corruptos que até mandam matar os denunciantes. O repórter sai a campo de peito aberto, embora munido das cautelas da profissão.

Nesta obra, Lúcio Vaz nos surpreende ao esmiuçar 12 escândalos nacionais com uma linguagem rápida e leve, entremeada por passagens pitorescas que humanizam o que poderia nos deixar simplesmente revoltados. Depois de ler as 12 denúncias que compõem este livro, só nos resta pressionar para que a impunidade esteja com os dias contados. Cada vez mais, a população vem saindo às ruas para protestar e mostrar a sua indignação. Guerrilheiro da palavra, Lúcio Vaz abre caminho ao nosso lado. Cada um luta como pode. Este livro é um veneno para os ratos.

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