Na contramão da previsão apocalíptica de alguns de que as novas tecnologias iriam pôr fim ao livro tradicional, surgem cada vez mais empresários que apostam no mercado editorial. Nos últimos anos, têm aparecido cada vez mais empresas pequenas do ramo, muitas comandadas por profissionais egressos de grandes casas editoriais, mostrando que o segmento está, na verdade, bastante aquecido e ainda tem espaço para se desenvolver.
Depois de nove anos trabalhando em uma editora multinacional, Zélia de Oliveira decidiu, em janeiro deste ano, que era hora de se lançar em voo solo. Foi quando surgiu a Aped, especializada em assessorar autores e oferecer serviços que englobam todas as etapas do processo editorial e gráfico, da revisão do texto à impressão do livro. Com um escritório montado em sua casa, na Barra da Tijuca, Zélia conta com uma equipe com mais dois profissionais fixos e outros que trabalham de forma temporária, de acordo com as demandas de serviço.
– Quando você trabalha em uma editora grande, você é apenas parte da engrenagem. Na minha empresa, eu sou o todo. O que também aumenta as minhas responsabilidades – afirma Zélia.
A parte burocrática do processo de abertura de uma empresa não precisou ser enfrentada por ela, que já tinha uma firma em função dos trabalhos freelancers que sempre desenvolveu no segmento.
– Abri a editora mais para oferecer os serviços que fazia, de revisão, diagramação e editoração. Mas alguns autores começaram a me procurar e expandi o foco do negócio – explica ela, que trabalha principalmente com livros de ficção e romance.
Segmentação é aposta de empresa
Michelle Strzoda, depois de anos trabalhando em empresas de grande e médio porte, como Record, Tinta Negra e Casa da Palavra, abriu, com os sócios Daniella Riet e Rafael Nobre, a Babilonia Cultura Editorial, numa sala de um prédio comercial no Largo do Machado. A Babilonia nasceu, segundo Michelle, por conta da existência de lacunas no mercado editorial.
– Quando surgiu a ideia da Babilonia, não tive a pretensão de inventar a roda, mas também não queria fazer mais do mesmo. O mercado vive um momento de reoxigenação, com empresas novas de diferentes perfis, com olhares múltiplos, mas alguns repetecos. Por isso atuamos em frentes conjugadas de gestão e produção de conteúdo cultural e editorial, desde a leitura do original do livro até o fim do processo editorial – diz Michelle.
Foi apostando na segmentação do mercado que Guilherme Tolomei, tendo trabalhado na editora Multifoco, abriu a sua 5W, ao lado de Guilherme Sucena. O foco são os nichos: publicações universitárias, livros de entretenimento e humor e os de ficção para grande venda, como policial e sobrenatural.
– Hoje em dia é possível ter vários pequenos selos dentro de uma mesma empresa, o que também abre mais possibilidades – acredita Tolomei, que também aposta na liberdade que ter a sua própria empresa permite. – Vamos publicar um livro do personagem do YouTube Fantoche Marcelinho, que é um obra de humor erótico e que quase ninguém quis publicar.
Já Valéria Martins fez esse movimento há quatro anos mais por “intuição” do que por identificação de uma tendência de mercado. Com experiência nas grandes editoras Campus Elsevier e Record, em 2008, ela decidiu usar sua reserva de dinheiro para investir em seu próprio negócio, a Shahid Produções Culturais, especializada em organização de palestras e feiras de livros.
– O meu maior patrimônio foram os contatos que fiz nos empregos anteriores – afirma Valéria. – Nos últimos quatro anos, houve um movimento de valorização do livro e dos eventos literários que muito me ajudou.
Experiência prévia pode ajudar
No caso dos quatro empreendedores, a experiência prévia no ramo ajudou na formatação do novo negócio.
– Isso não é determinante para o sucesso ou não da empresa, mas certamente traz uma bagagem maior e possibilita maior conhecimento da cadeia de fornecedores, prestadores de serviços. Mas o fundamental mesmo é se manter atualizado – acredita Zélia. – Pois, como funcionária, as novidades chegam até você por meio da empresa. Como dono de uma empresa, é preciso correr atrás e buscar o que há de mais novo no mercado.