Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Biografia do guerrilheiro sem medo

A vida de Carlos Marighella (1911-1969) foi tão frenética quanto surpreendente. Militante comunista desde a juventude, deputado federal constituinte e fundador do maior grupo armado de oposição à ditadura militar – a Ação Libertadora Nacional –, esse mulato de Salvador era também um profícuo poeta, homem irreverente e brincalhão.

Nesta narrativa repleta de revelações, o jornalista Mário Magalhães investiga as várias facetas do biografado. Em ritmo de thriller, reconstitui com realismo desconcertante passagens pela prisão, resistência à tortura, operações de espionagem na Guerra Fria e assaltos da guerrilha a bancos, carros-fortes e trem-pagador. Também recupera a célebre prova de física respondida em versos no Ginásio da Bahia e poemas de amor.

Isso sem negligenciar a influência internacional de Marighella e seu Minimanual do guerrilheiro urbano, guia que correu o mundo e virou cult nos anos 1960 e 1970. Traduzido para dezenas de idiomas, é tido hoje como um clássico da literatura de combate político. Jean-Paul Sartre, admirador do estilo de seu autor e de sua disposição para a ação audaz, publicou artigos de Marighella na revista Les Temps Modernes.

A controversa vida de Marighella é também uma história dos movimentos radicais e da esquerda no Brasil e no mundo. Coadjuvantes de luxo, que tangenciaram a vida do protagonista, povoam estas páginas: Fidel Castro, Getúlio Vargas, Che Guevara, Carlos Lacerda, Stálin, Luiz Carlos Prestes e Carlos Lamarca, além de figuras-chave da cultura, como os escritores Jorge Amado e Graciliano Ramos; os pintores Cândido Portinari e Joan Miró; os dramaturgos Augusto Boal e Dias Gomes; e os cineastas Glauber Rocha, Jean-Luc Godard e Luchino Visconti.

Proclamado inimigo número um pela ditadura, o guerrilheiro foi morto em uma emboscada policial em São Paulo, na noite de 4 de novembro de 1969. Do início ao fim, esta biografia de tirar o fôlego apresenta informações inéditas sobre a trajetória de Marighella e o atribulado e apaixonante tempo em que ele viveu.

Anos de militância

“Cuidado, que o Marighella é valente”, disse Cecil Borer, diretor do Dops carioca, antes de despachar uma equipe para capturá-lo em seguida ao golpe de 64. De fato, Carlos Marighella, um dos mais destacados revolucionários do século XX, demonstrou muita valentia nos trepidantes 57 anos e onze meses de que dispôs. Foi dirigente comunista, deputado e guerrilheiro. Assaltou banco, escreveu manuais para a luta armada e poemas. Considerava-se discípulo de Marx e Lênin, mas condenava a ortodoxia: esse tipo de rigor, costumava dizer, é coisa de religião.

Monitorado tanto pela CIA quanto pelo KGB, Marighella manteve-se ativo por quase quarenta anos de militância, da década de 1930 à de 1960. Viveu clandestino, articulou greves e conspirou por revoluções. Neto de escravos, o guerrilheiro recusava a tutela do medo. E foi intrépido até o fim.

O autor

Mário Magalhães nasceu no Rio de Janeiro, em abril de 1964. Formou-se em jornalismo na Escola de Comunicação da UFRJ. Trabalhou nos jornais Tribuna da Imprensa, O Globo, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, no qual foi repórter especial, colunista e ombudsman. Recebeu cerca de vinte prêmios e menções honrosas no Brasil e no exterior, entre os quais o Every Human Has Rights Media Awards, o Prêmio Vladimir Herzog, o Prêmio Dom Hélder Câmara e o Prêmio Esso de Jornalismo.