Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Penguin e Random anunciam fusão

A Bertelsmann, empresa alemã de mídia, e a Pearson, sua rival no Reino Unido, fundem a Random House e a Penguin, suas respectivas editoras de livros, numa reação aos desafios surgidos com a revolução dos livros digitais. Marjorie Scardino, CEO da Pearson, disse que a empresa resultante da fusão terá mais recursos para investir em publicações digitais, o que poderá incluir o desenvolvimento de uma plataforma na internet para vender livros diretamente aos consumidores ou a criação de seu próprio leitor eletrônico para enfrentar o Kindle, da Amazon.

Numa iniciativa que provavelmente desencadeará mais consolidação, as empresas anunciaram ontem que 53% da Penguin Random House será propriedade da Bertelsmann e que os 47% remanescentes serão controlados pela Pearson, também proprietária do Financial Times. As duas empresas de mídia concordaram em conservar suas participações durante pelo menos três anos. Provavelmente a Bertelsmann buscará, posteriormente, ampliar sua participação, de acordo com uma pessoa informada pela empresa alemã. A Bertelsmann e a Pearson têm o direito de promover uma oferta pública inicial de ações (IPO) depois de cinco anos.

O anúncio aconteceu após um fim de semana frenético para concluir negociações iniciadas há cinco meses. Depois que, na semana passada, o Financial Times divulgou a possibilidade do negócio, a News Corp, dona da HarperCollins, contatou a Pearson informalmente, mas “em mais alto nível”, sobre uma possível contraproposta em dinheiro.

Especulações sobre a fusão

Mas a Bertelsmann parecia estar tranquila, descartando a possibilidade de a News Corp perturbar o negócio. Uma pessoa próxima aos alemães disse que a Pearson informou a Bertelsmann sobre uma oferta informal, que não considerou séria. Além disso, a empresa britânica afirmou que ainda considerava uma associação com a Random House como a melhor opção para agregar valor à sua atividade livreira.

Duas pessoas na Pearson disseram que uma venda da Penguin criaria passivos tributários substanciais sobre os ganhos provenientes da negociação. A venda era, portanto, menos atraente, a menos que concretizada a “múltiplos significativos”, segundo uma das fontes. John Makinson, presidente e CEO da Penguin, será presidente do conselho da nova editora, e Markus Dohle, que comanda a Random House, será seu CEO. A Random House é a maior editora de livros do mundo e a Penguin está entre as quatro primeiras numa lista das seis maiores editoras em todo o mundo.

Após vários dias de intensas especulações sobre uma fusão, as companhias disseram que a associação combinará as atividades das editoras nos EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Índia e África do Sul, bem como operações da Penguin na China e as subsidiárias da Random House em idioma espanhol na Espanha e na América Latina.

Mais fusões e aquisições

A Verlagsgruppe Random House, pertencente à Bertelsmann, editora em língua alemã com sede em Munique, não fará parte do negócio. Devido a essa exclusão, a proporção de controle na fusão pendeu a favor da Pearson, embora pessoas próximas à companhia alemã tenham dito que isso deveu-se à inexistência de sinergias e não por exigências do grupo britânico.

Thomas Rabe, CEO da Bertelsmann, disse esperar que a fusão permita que a empresa combinada “publique com eficácia ainda maior tanto em tradicionais como em emergentes formatos e canais de distribuição”, como livros digitais e a internet móvel. Marjorie Scardino, CEO da Pearson, disse que a fusão permitirá à Penguin e à Random House “compartilhar uma grande parte dos seus custos, investir mais em benefício de seus autores e leitores e assumir mais riscos na experimentação de novos modelos”, à medida que a internet imprime grandes mudanças no setor.

Companhias do setor de tecnologia, como Amazon, Apple e Google, têm desenvolvido negócios na área de livros digitais e redefiniram o setor livreiro desafiando editoras tradicionais. A Random House e a Penguin já são produto de rodadas anteriores de consolidação, mas observadores da indústria do livro já esperavam há algum tempo mais fusões e aquisições em um setor que opera com uma margem de lucro relativamente baixa.

Lucro de US$ 1,4 bilhão

Bertelsmann e Pearson esperam concluir o negócio “no segundo semestre de 2013”, após a aprovação de agências governamentais competentes, o que a empresa alemã considera possível em todas as instâncias, inclusive no Reino Unido. A Bertelsmann nomeará cinco membros em um conselho diretor de nove participantes; a Pearson nomeará quatro. As notícias sobre a fusão surgiram no mesmo momento em que a Pearson reportou receitas inalteradas nos primeiros nove meses de 2012, em relação a igual período do ano anterior, resultantes de taxas de câmbio desfavoráveis.

A moedas constantes, as vendas da Pearson cresceram 5% nos nove meses até 30 de setembro, puxadas pelo crescimento em educação internacional e no Grupo FT. O lucro operacional caiu 5%, refletindo a venda, em 2011, da participação de 50% da Pearson na FTSE International; custos de integração de aquisições; além do esfriamento das atividades em sua unidade de treinamento profissional no Reino Unido.

Apesar das difíceis condições de mercado, a Pearson reafirmou estar a caminho de cumprir as metas de crescimento das vendas e do lucro, a taxas de câmbio constantes, divulgadas ao mercado. Analistas acreditam que a Pearson anuncie um lucro em torno de 900 milhões de libras (US$ 1,4 bilhão), antes dos impostos, sobre vendas de 6,2 bilhões de libras (US$ 9,9 bilhões).

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[Gerrit Wiesmann e Rob Budden, do Financial Times, em Berlim e Londres]