O cientista político e ensaísta Renato Lessa será o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), substituindo Galeno Amorim, demitido pela ministra Marta Suplicy. A notícia foi antecipada na quarta-feira (27/3) pela coluna “Direto da Fonte”, de Sonia Racy [no Estado de S.Paulo]. A crise que derrubou Galeno Amorim começou com a queda da ex-ministra Ana de Hollanda, de quem era próximo, e teve um lance decisivo há alguns dias: duas coordenadoras da área de educação da FBN, Elisa Machado e Cleide Soares, deixaram a instituição disparando críticas públicas à gestão do presidente. Agora, do período de Ana de Hollanda, sobram poucos colaboradores ligados à ex-ministra – o mais proeminente é o presidente da Funarte, Antonio Grassi, além de Glauber Piva.
Amorim foi responsável por uma grande concentração das atividades da política nacional do livro na fundação Biblioteca Nacional. O processo teve início já no começo de sua gestão. O Plano Nacional do Livro e da Leitura foi desmontado e o seu coordenador, José Castilho Marques Neto, se demitiu. Em abril, a FBN passou a concentrar atividades como a instalação de bibliotecas, feiras internacionais do livro, bolsas de tradução, ida de autores ao Exterior, compras de livros e incentivo à produção literária. É atribuído a Amorim também o esvaziamento do projeto do Fundo de Leitura, exigência de contrapartida pela desoneração de imposto dos livros feita pelo governo em 2003.
Em 2012, um documento do Colegiado Setorial do Livro, Leitura e Literatura, formado por representantes da sociedade civil, foi enviado à presidente Dilma Rousseff reclamando da “intervenção antidemocrática” de Amorim, e acusando um retrocesso no setor.
“Prazos e recursos”
Também se reclamava, no governo, de uma certa inoperância da gestão de Amorim. Um dos raros projetos de cultura que a presidente Dilma foi a público anunciar, o Programa do Livro Popular (PLP), divulgado em setembro de 2011 e entregue a Galeno para sua condução, nunca saiu do papel. Visava a fomentar a produção e a comercialização de livros a R$ 10.
Há meses, a ministra Marta Suplicy já demonstrava que interviria na Biblioteca Nacional. No dia 14, nomeou Maristela Rangel Pinto, sua chefe de gabinete, como diretora executiva da fundação, uma espécie de intervenção velada. Galeno Amorim, nos últimos meses, também enfrentou outras dificuldades, como uma greve de servidores e problemas estruturais na sede da Biblioteca Nacional: goteiras, inundações e defeito no sistema de ar condicionado, o que causava temperaturas internas de até 40ºC.
Galeno Amorim não foi localizado para comentar a demissão. Em sua página no Twitter, afirmou que acertou “com a ministra a sua saída” e entregara a ela “todo o programa de recuperação da Biblioteca para prepará-la para os próximos anos, com prazos e recursos”. Renato de Andrade Lessa, seu substituto, escreve com constância no Estado e dirige o Instituto Ciência Hoje.
Duas vagas
Doutor em Ciências Sociais, Lessa graduou-se pela Universidade Federal Fluminense em 1976. Estudou na American University (Washington, 1994); na Universidade de Lisboa (2004); e na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris).
Marta Suplicy teria afastado também o secretário de Articulação Institucional do ministério, Roberto Peixe, e a assessora especial da pasta, Morgana Eneile. A assessoria de Comunicação do MinC não confirmou. A recondução de Manoel Rangel, do PCdoB, à direção da Agência Nacional de Cinema (Ancine), também não foi confirmada pela Ancine. O governo tem até o dia 20 de maio para preencher duas vagas na agência.
******
Jotabê Medeiros, do Estado de S.Paulo