Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Livro revisita teses de complô contra os irmãos Kennedy

Em 22 de novembro próximo, completam-se 50 anos do assassinato de John Fitzgerald Kennedy em Dallas.

Neste meio século, centenas de pessoas se dedicaram a tentar provar que o relatório Warren, resultado das investigações oficiais sobre o crime, estava errado, e que o presidente havia sido morto não por um atirador solitário, como se concluiu, mas sim vítima de uma conspiração.

Entre os céticos, houve malucos, oportunistas, ingênuos, místicos, e até alguns pesquisadores sérios, como o jornalista David Talbot, autor de “Irmãos – A História por Trás do Assassinato dos Kennedy” –livro de 2007, que a editora Benvirá lança agora no Brasil, em tempo para talvez surfar na onda que a efeméride daqui a seis meses levantará.

Talbot, fundador e editor por muitos anos de uma das primeiras e melhores revistas eletrônicas da história, a “Salon”, e repórter de publicações icônicas como “The New Yorker”, “Rolling Stone” e “Time”, fez um levantamento exaustivo do trabalho de vários de seus predecessores “conspiracionistas” confiáveis e acrescentou alguns dados novos, coletados em suas próprias entrevistas.

Há um ponto comum e central em todas as teorias segundo as quais a morte de John Kennedy (e, cinco anos depois, a de seu irmão Robert) foi produto de articulado plano de pelo menos uma organização poderosíssima, e talvez mais de uma (CIA, Máfia, Pentágono etc.).

A razão para eliminar os Kennedy, de acordo com quase todas essas teses, reside no fato de que eles estariam dispostos a contrariar interesses estupendos para mudar radicalmente o mundo.

Ou seja: John e Robert estariam dispostos a tudo para acabar com a Guerra do Vietnã, reatar relações com a Cuba de Fidel, chegar a um entendimento duradouro pela paz com a União Soviética, garantir absolutos direitos civis para os negros nos EUA.

Sem provas

Talbot indica no livro que acredita piamente nessas hipóteses.

Qualquer análise política realista mostra que os Kennedy foram políticos profissionais, talentosos, que muito improvavelmente embarcariam, exceto na retórica, em qualquer aventura contra o establishment (a exemplo, aliás, de Barack Obama) e que, ao contrário, se valeram dele com frequência para atingir seus objetivos.

Claro que inimigos dos Kennedy poderiam, ainda que equivocadamente, achar que eles eram revolucionários. Ou mesmo que ninguém os considerasse assim, é possível que Lee H. Oswald não tenha agido só.

Mas Talbot não consegue provar de maneira convincente seus pontos. Ainda assim, é interessante acompanhar seu raciocínio e o esforço metódico que ele dedicou para demonstrá-los.

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Carlos Eduardo Lins da Silva é editor da revista Política Externa