O esforço do governo de Barack Obama para apagar as marcas da conturbada relação do governo Bush com o mundo muçulmano ficou claro nesta semana, quando o novo presidente dos EUA concedeu sua primeira entrevista formal no cargo. O canal escolhido foi o árabe al-Arabiya, transmitido via satélite de Dubai, e Obama fez questão de enfatizar a mensagem de que os americanos não são inimigos dos muçulmanos.
O presidente ressaltou que os EUA cometeram erros no passado, mas que não há razão para não restaurar as relações que o país tinha com as nações muçulmanas há 30 anos. Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington, George Bush deu início a um longo período de guerra, com conflitos no Afeganistão e Iraque – o que certamente danificou estas relações e a imagem dos EUA nestas nações.
Talvez por isso, a reação – cautelosa – do mundo árabe contrastou com a do resto do mundo diante da vitória de Obama nas eleições americanas. O que se vê é muito ceticismo diante da promessa de mudança substancial na região. ‘Qualquer um pode dizer palavras bonitas, mas elas devem vir seguidas por ações’, afirmou o engenheiro Hatem al-Kurdi, morador da Cidade de Gaza, após assistir à entrevista, veiculada na terça-feira (27/1). ‘Ele parece muito interessado na questão do Oriente Médio, mas não disse exatamente o que vai fazer a respeito’.
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A facção Hamas, que controla a Faixa de Gaza, inicialmente comparou as políticas de Obama às de Bush, mas esta semana suavizou as declarações sobre o novo presidente. ‘Nos últimos dias, ele fez diversas declarações, algumas positivas, e escolheu este George Mitchell como enviado’, afirmou um oficial do Hamas em entrevista à rede al-Jazira. ‘Acho que há algumas coisas positivas que devemos levar em conta’. O ex-senador Mitchell chegou ao Egito na terça-feira e deveria seguir em uma visita a Israel, Cisjordânia, Jordânia, Turquia e Arábia Saudita.
Curiosamente, Bush concedeu algumas entrevistas à al-Arabiya durante seu governo. ‘Os EUA vêem a al-Arabiya como um canal árabe amigo, enquanto vêem a al-Jazira como oposição’, analisa Lawrende Pintak, diretor do centro de treinamento de jornalismo na Universidade Americana no Cairo. Ainda assim, surpreendeu o fato de Obama ter escolhido a emissora para sua primeira entrevista formal.
O presidente lembrou, durante a entrevista, de sua relação com o islamismo, já que seu pai, queniano, apesar de se declarar ateu, nasceu muçulmano, e muitos de seus parentes no Quênia seguem a religião. Ele também falou sobre os anos que passou na Indonésia, país com a maior população muçulmana do mundo, quando criança. ‘Ele é diferente dos presidentes anteriores, talvez por causa de sua cor e de sua experiência islâmica’, resume Youssef Ali, que trabalha para o governo iraquiano. Informações de Paul Schemm [Associated Press, 27/1/09].