[do release da editora]
Ele chegou em São Paulo pela onda de migração dos muitos italianos que vieram ao Brasil em busca de trabalho. Mas logo ficou claro que sua trajetória teria pouco em comum com a da maior parte de seus conterrâneos. Na Paulicéia de meados do século 20, Gino Meneghetti era um artista, mas um artista na arte de roubar. Esta obra apresenta o perfil desse anti-herói italiano que ganhou notoriedade por seus roubos e fugas espetaculares.
Com uma linguagem irreverente, o jornalista Mouzar Benedito resgata a lendária ‘carreira’ de Meneghetti, que foi avidamente acompanhada pela sociedade da época e gerou muitas histórias transmitidas até hoje na capital. Conhecido por roubar somente dos ricos e por sua politização contestadora, Meneghetti fez sua fama por empreender assaltos, pelas fugas da polícia, por suas passagens pela prisão e por protagonizar muitos ‘causos’ na cidade no início do século 20.
A pesquisa biográfica de Marcel Gomes e Antonio Biondi complementa o retrato de um dos maiores larápios que São Paulo já conheceu. O resgate desta história é completado ainda por frases extraídas de entrevistas publicadas e de cartas enviadas por Gino aos jornais. O livro traz também a história em quadrinhos, criada em 1976 por Luiz Gê para o jornal Versus, que inspirou o curta metragem de Beto Brant sobre a história do italiano.
Trecho da obra
Meneghetti era isso: uma lenda, até então viva. Seu nome virou sinônimo de ladrão em boa parte do Brasil. Na minha infância no sul de Minas, por exemplo, eu me lembro que, para xingar alguém de ladrão, chamava-se a pessoa de Meneghetti ou de Sete Dedos. Eram os ladrões mais famosos da história de São Paulo. Os dois chegaram a conviver na prisão, numa das passagens de Meneghetti. Sete Dedos era um mulato bem falante, que tinha mesmo apenas sete dedos. Era famoso também.
Mas aqui, na Paulicéia, embora Meneghetti e Sete Dedos fossem sinônimos de ladrão, os dois xingamentos tinham sentidos diferentes. Chamar alguém de Sete Dedos equivalia a xingá-lo de ladrão. Mas de Meneghetti era diferente. Era ladrão, mas não um ladrão ruim. Era esperto, humano, adepto da não violência, anarquista, contestador da sociedade capitalista, da burguesia e da aristocracia… Enfim, um herói popular. Um sujeito que fazia com a burguesia o que muita gente tinha vontade de fazer: roubá-la e gozá-la. O mesmo em relação à polícia, que ele provocava pelos jornais. Era uma polícia violenta e extremamente preconceituosa contra imigrantes pobres, como a maioria dos italianos. Meneghetti, enfim, ‘era isso’, ‘era aquilo’… Parecia uma figura da literatura, resultado da imaginação de um escritor policial e incorporado ao imaginário popular.
Sobre o autor
Mouzar Benedito, jornalista e geógrafo, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros, MG, Brasil Mulher) e publicou diversos livros, entre eles Pobres, porém perversos (Scritta) e Pequena Enciclopédia Sanitária, pela Boitempo. Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo e também um pouquinho de chinês e de tupi. É um exímio observador de Sacis e valoriza a cultura nacional.