Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Excelente livro que ainda não li

Este livro só não é melhor por não ter por título A Ditadura Geral e a Ditadura da Mídia no Brasil… Pelo que já conheço do trabalho de Altamiro Borges e pelo título, ele avança neste setor, mas a realidade é ainda muito pior e maior do que a que ele enfoca parcialmente no nome da obra.

Em seu comentário sobre a ela, Renato Rovai afirma:

‘A mídia na Berlinda na América Latina Rebelde’ e ‘A concentração sui generis e os donos da mídia no Brasil’, capítulos 2 e 3, fazem um balanço bastante interessante de como os grupos midiáticas tradicionais e decadentes contribuíram para a construção de ditaduras no continente e depois ‘se travestiram de democratas e passaram a pregar o receituário neoliberal’ [ver aqui].

Carecemos imensamente que intelectuais do porte de ambos vinculem uma coisa com a outra, ditadura da mídia com ditadura política, econômica, racial, de gênero etc., em letras garrafais, mesmo colocando em risco sua segurança pessoal e profissional. Ou teremos chegado realmente ao fim da História, como defendeu Francis Fukuyama.

Alguém mais se habilita a tal sacrifício para dar cobertura a quem ousar desafiar o sistema assim? Caso negativo, teremos de dar razão ao filósofo e economista nipo-estadunidense!… Está todo mundo satisfeito ou a insatisfação não merece qualquer ação concreta além da verborragia estéril e histérica [ver aqui].

A ‘politiquinha’ brasileira

Miro começa a trafegar num campo minado, onde uma boa parte dos jornalistas e do movimento social prefere se omitir, tornar-se cúmplice e subserviente ao inconstitucional e impune oligopólio da comunicação, vendendo sua consciência aos ‘inimigos do povo brasileiro’ (Perseu Abramo).

Não li o livro, mas espero que, pelo menos em seu interior, ou em uma próxima obra, Miro vincule a ditadura da mídia que ele, ousadamente identifica, como apenas uma das muitas faces do nosso ‘Estado oligárquico e autoritário, que precisa ser urgentemente democratizado’, uma forma acadêmica de se dizer ditadura. Ou A ‘politiquinha brasileira’ (Marilena Chauí).

Como decorrência disto, nada mais natural que a visão de João Pedro Stédile e Dom Mauro Morelli: O presidente do Brasil (qualquer um!) é apenas o motorista da elite.

‘É justamente porque as elites estão muito satisfeitas [com o governo do PT e seus aliados] que o PSDB tem medo de não ter financiamento para a sua própria campanha. E se perguntam: `O que será de nós?´ Não é mais do que isso. É miudinho, como a `politiquinha´ brasileira’ (jornal Brasil de Fato, edição nº 143 – de 24 a 30 de novembro de 2005).

Um ‘livrete’ que virou sucesso

Mesmo assim, seria importante avançar ainda mais e constatar que jornalistas e a grande mídia na qual militam, formam uma condição fundamental para manter nosso povo escravizado num mundo virtual da manipulação da informação, das omissões, das meias-verdades etc. (ver Matrix, o filme.).

Quase todos permanecem alheios à verdade jornalística dos fatos, complementando a alienação iniciada, desde a infância, pelo sistema educacional público ou particular, ambos subordinados ao Estado (Antonio Gramsci), e este ao poder econômico que o privatizou desde 1500. Assim, quase todos acreditam que estamos numa democracia, e que um Estado democrático de Direito não possa ser, simultaneamente, um Estado ditatorial de fato.

Parabéns ao Rovai que também aponta para esta questão: ‘O Brasil Privatizado’, ou seja, a Ditadura Geral do Poder Econômico, termo este do qual fogem, como o diabo da cruz, os nossos melhores quadros, ditos ‘de esquerda’, tanto jornalistas, quanto sociólogos, historiadores, geógrafos, psicólogos etc.

‘E digo mais, é um livro que tem potencial para fazer história. Como um outro livro lançado como `livrete´ e que virou sucesso: O Brasil Privatizado (Aloysio Biondi). São dois trabalhos com estilos diferentes, mas toques semelhantes’ [ver aqui].

‘Engolidos pelo oligopólio e pelo governo’

Lamentavelmente, o próprio Rovai sofre influência da lavagem cerebral promovida pelos senhores do Estado em quase todo o povo e focaliza algo atemporal que chama de ‘a democracia brasileira’, forma de governo impossível em um país que, segundo ele mesmo, é privatizado!… Uma ‘reparticular’, e não uma república.

‘Além do que no momento atual é tão ou mais importante para a democracia brasileira discutir a democratização da mídia, quanto naquele período foi debater e denunciar as privatizações.’

Eu descreveria de forma mais explícita esta incompatibilidade, mencionando a inexistência desta forma de governo no momento atual:

‘Além do que, no momento atual, é tão ou mais importante para que venhamos a construir (um dia, quem sabe?) uma democracia de verdade, em nosso país, discutir a democratização da mídia, quanto naquele período foi debater e denunciar as privatizações.’

A Fenaj defende, teoricamente, esta radicalidade: ‘Sem democratizar a comunicação, não haverá democracia no Brasil’ (Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas, 1990).

E reconhece a frustração de não estar praticando efetivamente o que sempre defendeu teoricamente. Nem os movimentos sociais. Nem o governo Lula. Todos estão dominados pelo poder econômico! Ou quase todos?

’32º Congresso Nacional de Jornalistas, Ouro Preto, MG, 2006 – Comunicação Comunitária

Inserida no espectro dos movimentos sociais, a Federação Nacional dos Jornalistas deve ter papel de liderança pró-ativa no debate sobre a democratização da comunicação, denunciando publicamente o oligopólio da mídia, propondo, exigindo e participando da implantação de políticas públicas que garantam uma comunicação mais plural e que atuem sob o prisma do interesse público. Lamentavelmente, nem nós e nem o governo Lula atuamos no sentido da busca por uma comunicação mais democrática. Nós, sociedade e entidades, por falta de articulação, de organização, de compreensão de um projeto claro para o setor que dialogasse com a população, fomos engolidos pela força do oligopólio e pelo governo que cedeu às pressões do capital da mídia’ [ver aqui].

Necessidades elementares

Mas é o ‘inexistente’ PSOL, assim reduzido por um de nossos ‘nobres’ senadores, Paulo Duque (PMDB-RJ), que entra na justiça contra o crime de lesa-pátria que o governo petista vem cometendo no setor de comunicação, apesar das entidades que militam na democratização da comunicação serem dominadas por estes.

Então, não é de se estranhar o fato de que a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) tenha demorado tanto a ser anunciada e convocada. Tenha uma concentração muito maior de empresários na Comissão Organizadora que seria aceitável, caso fosse realmente ampla e democrática. E os problemas continuam na interminável elaboração do regimento interno e no andamento às necessidades mais elementares para que ocorra de fato… ‘Estão armando para a Confecom não sair‘.

Ver aqui mais detalhes em textos sobre a ditadura da mídia no Brasil e no mundo.

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Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (CMQV)