Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Filme com tema gay escandaliza legisladores

Legisladores egípcios ficaram escandalizados com o filme The Yacoubian Building, que entrou em cartaz no país há um mês. Com temática gay, o longa poderia ser chamado de Brokeback Mountain do mundo árabe, já que mostra o romance entre um editor de um jornal de língua francesa e um policial no Cairo.

Yacoubian Building foi baseado no best seller homônimo de Alaa al-Aswany, lançado em 2002. A trama acompanha a vida de pessoas em um edifício no centro do Cairo, e foi apresentada este ano no Tribeca Film Festival, em Nova York.

Questões ousadas

O problema para os conservadores legisladores é que o filme vai além de apenas aludir a uma relação homossexual consentida. Em uma das cenas, o filho do porteiro do edifício é despido e sodomizado em uma delegacia após um protesto na Universidade do Cairo. A cena ecoa o recente episódio real sofrido pelo manifestante Mohammed el-Sharkawi, que em maio acusou a polícia de violentá-lo sexualmente.

Para completar, o longa apresenta uma crítica cáustica ao regime do presidente Hosni Mubarak. O personagem sodomizado na delegacia acaba se unindo a um grupo terrorista islâmico, deixando ao espectador a sugestão de que a repressão do Estado é a chave para a violência política que matou turistas egípcios no Sinai nos últimos quatro anos.

Campanha por corte

O membro do parlamento Mustafa Bakri se disse chocado com Yacoubian Building e logo começou uma campanha entre seus colegas para pressionar os censores do Egito a remover as cenas que fazem alusão a sodomia e romance homossexual. ‘Como cidadão, eu me senti ferido quando assisti. Eu respeito a liberdade de expressão e a criatividade, mas isso não é nenhuma dessas coisas’, Bakri afirmou à BBC.

Um dos diretores da organização islâmica moderada Irmãos Muçulmanos, Mohammed Habib, que não assistiu ao filme, afirmou que seria melhor se ele não incluísse as cenas homossexuais. ‘As cenas relacionadas à perversão e quase a endossando arruinaram grande parte da qualidade do filme. Gostaríamos que estas cenas fossem omitidas, especialmente porque este grupo não representa a sociedade egípcia’, completou.

Há quem discorde. Segundo o deputado Hamdi Hassan, também dos Irmãos Muçulmanos, seus colegas não farão do corte das cenas homossexuais uma prioridade. ‘Nós estamos sofrendo com a repressão em uma sociedade fechada, e pedir por omissão ou proibição seria um caminho para a confusão’, afirmou. Informações de Eli Lake [The New York Sun, 6/7/06].