A Folha de S.Paulo quer o fim da TV Brasil. Em editorial publicado na sexta-feira (31/7) argumenta que a audiência é baixa, que sua criação não foi um ato democrático (porque nasceu de um decreto) e que gasta, por ano, 350 milhões de reais do dinheiro do contribuinte. Por isso, encerra o texto da seguinte forma: ‘Os vícios de origem e o retumbante fracasso de audiência recomendam que a TV seja fechada – antes que se desperdice mais dinheiro do contribuinte’ [veja a íntegra abaixo].
Tenho críticas à TV Brasil, mas nenhuma delas tem a ver com a opinião da Folha. Aliás, seria bom perguntar: a quem serve a Folha? No cabeçalho se diz que é ‘um jornal a serviço do Brasil’, o que soa como piada para quem conhece minimamente a história da imprensa do país. Para não ir muito longe, basta dizer que o jornalão emprestou veículos para a ditadura. Mas talvez isso seja uma questão de ponto de vista: estavam, diria o jornal da ‘ditabranda’, a serviço do Brasil contra a Comunidade Comunista, que pretendia se instalar no governo federal.
‘Inimigo interno’
Voltando. A TV Brasil é uma tentativa de cumprir a Constituição, que determina a complementariedade entre os serviços privado, público e estatal. Hoje só existe o privado e, tenho certeza, isto tem a ver com o lixo jogado no ar todos os dias. Sim, a televisão privada brasileira é um lixo. Não presta. Raríssimos são os programas razoáveis. Na Globo, por exemplo, nada menos que metade da programação entre 12h e 24h é de novela. E de uma novela que dissemina os piores valores morais que existem.
Posso concordar que existem erros graves na TV Brasil, e o primeiro deles foi a entrega dos cargos de direção para jornalistas oriundos das corporações de mídia. Com isso o governo indicou uma conciliação, não uma mudança substancial no jeito de fazer jornalismo. Assim, não é à toa que muito do conteúdo veiculado pela TV Brasil, sobretudo nos telejornais, tem sido muito parecido com aquele das corporações privadas (ver ‘Carta à TV Brasil‘).
Por outro lado, não dá para dizer que é tudo igual. Se pegarmos a programação como um todo, veremos a existência de iniciativas que jamais teriam vez no atual sistema privado de televisão. É o caso dos documentários, que dão voz e vez aos segmentos da sociedade que só aparecem na mídia corporativa como bandidos.
Por isso, o governo precisa se manter firme diante da pressão da Folha. E contra-atacar. Para começar, coloque em pauta a mudança na lei que criminaliza as rádios comunitárias e determine que sua Polícia Federal vá se preocupar com aqueles que realmente ameaçam a sociedade. Essa babaquice de inimigo interno já fez muito mal ao país. Enquanto calam as vozes do povo, armas e drogas atravessam nossas fronteiras numa boa. O Rio está infestado delas, e boa parte da culpa é da falta de fiscalização.
Comunicação apátrida
No Brasil arcaico do século 21, as emissoras privadas de televisão, todas golpistas, ainda recebem dinheiro grosso do governo (meu, seu, nosso) para veicular campanhas publicitárias de saúde pública. Em países um pouquinho mais civilizados isso não é assim, pois como as emissoras privadas são concessões públicas (decididas pelo meu, seu, nossos representantes no Congresso), trata-se de uma obrigação ceder espaço para veiculação de mensagens de interesse público, sobretudo em relação a epidemias (como, atualmente, a gripe suína). Isso a Folha não critica.
Assim como não vê problemas na existência de um oligopólio privado na televisão aberta. Justo o jornal que faz propaganda dizendo-se democrata (‘quem lê a Folha fortalece a democracia’). Deveria ser processado por propaganda enganosa. A Folha não se incomoda com a SS brasileira, a Sociedade Sinistra que congrega TV Globo, RedeTV!, Band, CNT, SBT e Record. É como se fosse natural que apenas seis empresas tivessem o direito de se comunicar via TV com 191 milhões de pessoas. E, pior, é como se fosse natural que esse oligopólio se posicionasse, compacto, pela economia de mercado, pela cultura enlatada, pela política coronelista (Sarney foi ‘descoberto’ com 30 anos de atraso), pelo imperialismo e pela exploração das riquezas e do povo brasileiro. É isso que veiculam, todos os dias, e, se discordam, desafio qualquer diretor de qualquer uma dessas empresas para um debate público, de preferência veiculado em cadeia nacional de rádio e televisão.
Eis a dupla desgraça brasileira. Um sistema de comunicação apátrida, a serviço do capitalismo internacional, e um governo – eleito pelo povo e pelos movimentos sociais organizados – que não se livra disso.
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TV que não pega
Editorial da Folha de S.Paulo, 31/7/2009
Lançada em 2007 pelo governo como se fosse uma espécie de versão brasileira da BBC, a TV Brasil já perdeu 6 dos seus 15 conselheiros originais em pouco mais de um ano e meio. Coincidentemente, a TV criada por Lula acabou de ganhar uma nova identidade visual, que, segundo comunicado da emissora, dará ‘uma cara moderna e atual’ ao logotipo. Mas pouca gente ficou sabendo, dado o exíguo alcance do canal.
A TV Brasil integra a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que tem Orçamento de R$ 350 milhões por ano e abarca nove rádios e duas outras emissoras, além de seu carro-chefe.
O governo queria, com a EBC, criar uma grande rede pública nacional. Após a saída de três diretores vinculados ao Ministério da Cultura, o controle ficou nas mãos da Secretaria de Comunicação, do ministro Franklin Martins. A TV que se queria pública é antes de mais nada um cabide de empregos.
O lance mais recente da novela da emissora foi o anúncio feito à Folha pelo presidente do conselho curador, Luiz Gonzaga Belluzzo, de que entregará o cargo.
Antes dos problemas políticos, a empresa padece de irrelevância técnica. Tem alcance muito restrito pela rede aberta, funcionando basicamente para clientes de operadoras de TV por assinatura. Segundo a emissora, muitos espectadores assistem à programação por antena parabólica, o que também serve como justificativa para não divulgar dados sobre audiência.
O fato é que a TV Brasil já começou mal, através de uma medida provisória, em vez do encaminhamento por projeto de lei. Tem 15 ‘representantes da sociedade civil’ em seu conselho, todos nomeados pelo presidente Lula. Os vícios de origem e o retumbante fracasso de audiência recomendam que a TV seja fechada – antes que se desperdice mais dinheiro do contribuinte.
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Belluzzo decide deixar conselho da TV Brasil
Reproduzido do Globo Online, 31/7/2009
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo deixará a presidência do Conselho Curador da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que controla, entre outras emissoras, a TV Brasil. Belluzzo, que está há dois anos no cargo, afirmou na quinta-feira que comunicará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que está sobrecarregado de trabalho e que não tem condições de seguir na função. Além de professor, o economista também acumula a presidência do clube de futebol paulista Palmeiras.
Belluzzo afirmou que sua saída não tem relação com recentes baixas na direção da TV Brasil. Alguns diretores deixaram a EBC com críticas à condução da emissora e acusações de intervenção.
– Não gostaria de tratar publicamente de minha saída. Não se trata de pedir demissão em público. Seria uma grosseria. Vou conversar com o presidente (Lula) e dizer a ele que está na hora de sair. Estou com muito trabalho, tenho afazeres demais. Minha saída é prosaica, não tem essa dramaticidade – disse Luiz Belluzzo.
O Conselho Curador é composto por 22 integrantes, sendo a grande maioria – 15 deles – formada por representantes da sociedade civil. O conselho aprova a linha editorial e a programação, faz recomendações e recebe críticas ao funcionamento da TV. O colegiado tem poder até de emitir voto de desconfiança e até afastar algum diretor.
Direção da emissora não comenta saída
Belluzzo afirma que, na sua avaliação, a emissora tem se pautado por um comportamento não partidarizado.
– O conselho tem sido provocado a se manifestar, e o tem feito.
A assessoria de imprensa da EBC informou que a diretora-presidente da TV Brasil, Tereza Cruvinel, está viajando. Alegou ainda que a empresa não se manifestaria porque a decisão de Belluzzo ainda não é oficial e reafirmou que a TV é subordinada ao Conselho Curador. O orçamento da empresa para 2009 é de R$ 382 milhões. Desse total, cerca de R$ 100 milhões é destinado a pagamento de pessoal. A TV tem 1,4 mil funcionários.
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Jornalista, editor do Fazendo Media