Muitos pesquisadores brasileiros têm dificuldade para escrever artigos de acordo com as exigências técnicas das publicações internacionais. E boa parte desses problemas nasce de equívocos teóricos gerais sobre ciência.
Essa é a tese central do livro Bases teóricas para redação científica… por que seu artigo foi negado, do biólogo Gilson Volpato, que acaba de ser publicado pelo selo Cultura Acadêmica da Editora Unesp.
Desde 1998, Volpato, que é professor do departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), publicou outros quatro livros sobre redação científica, tema que começou a tratar a partir de 1989 em cursos do pós-graduação.
‘Já dei cerca de 40 cursos sobre o tema. Desde o início noto que muitos pesquisadores brasileiros atribuem ao preconceito estrangeiro o fato de não conseguirem publicar no exterior. De fato, existe alguma discriminação, mas é preciso levar em conta também o baixo nível dos trabalhos’, disse à Agência Fapesp.
Teoria e prática
Para Volpato, que é editor-chefe da ARBS Annual Review of Biomedical Sciences e assessor científico de periódicos internacionais, os problemas de qualidade que afetam a redação científica têm raiz em equívocos conceituais.
‘Os problemas de redação não ocorrem porque o pesquisador não sabe escrever, mas sim porque ele tem deficiências profundas na base teórica. Quase sempre, quando há inconsistências, encontramos por trás concepções erradas de ciência e de metodologia’, afirmou.
Segundo o autor, o livro procura elucidar aspectos teóricos da ciência e, em cada tópico, estabelece as implicações da base conceitual na redação científica, buscando uma conexão entre teoria e prática. São abordados temas como ciência, criação de idéias, lógica da pesquisa, estrutura e planejamento experimental, análise de dados e comunicação científica.
‘O livro é focado no pesquisador que faz ciência empírica – aquela que, para aceitar uma conclusão, necessita de evidência concreta. Apesar disso, procurei abordar as questões de um modo suficientemente genérico, para que fosse útil também para as ciências humanas’, destacou.
Receitas técnicas
O professor da Unesp atribui a dificuldade conceitual apresentada por pesquisadores brasileiros a uma preocupação excessiva com o aspecto experimental, principalmente nas ciências biológicas.
‘Temos áreas extremamente competitivas, mas a cultura científica de grande parte dos nossos pesquisadores considera que fazer ciência significa ir a campo e coletar muitos dados. Falta uma preocupação teórica. Precisamos mudar isso, uma vez que, atualmente, os critérios das publicações internacionais estão mais rigorosos’, afirmou.
Volpato ressalta que um bom texto científico não se limita à descrição de procedimentos metodológicos e lógicos, mas é um ambiente de discussão com o leitor. Isso explica por que as receitas técnicas sobre como escrever artigos científicos não são suficientes.
Enfoque da pesquisa
‘Um exemplo: nos critérios internacionais, justificativa e objetivos ficam na introdução do artigo. Mas, no Brasil, muitos seguem um modelo que separa os elementos. O resultado é que o pesquisador não sabe o que colocar na introdução e acaba ficando redundante ou prolixo’, disse.
Outro exemplo de dificuldade do pesquisador, segundo Volpato, é a elaboração de problemas. ‘Muitas vezes, o cientista não consegue ajustar o enfoque de sua pesquisa e se limita a descrever um determinado experimento, quando seria preciso ter uma abordagem mais geral’, disse.
O autor afirma que parte das dicas oferecidas no livro resulta de sua própria experiência. ‘Depois de passar por muita dificuldade, começamos a refletir sobre o processo. Nos cursos sobre redação científica, fui percebendo que, para responder às perguntas, freqüentemente eu tinha que remeter à parte teórica. Comecei a publicar livros sobre o assunto em 1998’, disse.
O livro é comercializado exclusivamente pela Cultura Acadêmica e pela livraria virtual Best Writing. Encomendas: www.editoraunesp.com.br ou bestwriting@bestwriting.com.br
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Editor da Agência Fapesp