Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Gabeira esquadrinhado

[do release da editora]

‘Um livro-entrevista que se lê como um romance’ – é assim que o escritor Ignácio de Loyola Brandão define Dossiê Gabeira – o filme que nunca foi feito, livro que traz a íntegra de uma super-entrevista gravada pelo repórter Geneton Moraes Neto com Fernando Gabeira, um dos mais ativos, originais e polêmicos personagens da cena política brasileira nas últimas décadas.

Sem medo de controvérsia, Gabeira faz uma autocrítica rigorosa de uma trajetória marcada por lances dramáticos, como o seqüestro do embaixador americano em 1969, a prisão e o ex ílio. Depois, faz um grande balanço sobre o fim das utopias e traz a discussão para hoje. Gabeira faz provocações e mantém o tom polêmico ao tratar de temas atuais. pergunta, por exemplo, por que é tão difícil organizar, no Brasil, homenagens a policiais mortos em serviço – um tema-tabu para militantes das causas dos direitos humanos.

O depoimento traz revelações, como, por exemplo, o nome de um famoso ator da TV Globo que participou da operação para disfarçar guerrilheiros que tinham seqüestrado o embaixador – um golpe espetacular contra o regime militar brasileiro. Gabeira põe um ponto final numa polêmica : definitivamente, quem escreveu o manifesto lido nos rádios e nas TVs não foi ele, mas o atual ministro-chefe da secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, o jornalista Franklin Martins.

Entre as histórias surpreendentes, estão os esforços – fracassados – do senador Antônio Carlos Magalhães, para obter, junto à embaixada dos Estados Unidos no Brasil, um visto que permitisse a entrada de Gabeira em território americano. Quatro dé cadas depois do seqüestro, o hoje deputado Fernando Gabeira não pode entrar nos Estados Unidos. O que Gabeira tem a dizer sobre a acusação que lhe foi feita por Glauber Rocha: a de que teria proposto o ‘suicídio’ do cineasta brasileiro?

‘Geneton não poupou nada, perguntou tudo’, escreve Ignácio de Loyola. ‘Daí este livro oceânico, em que há Freud, Fidel, Glauber Rocha, Marx, Nelson Rodrigues, Vianinha, ACM, Sergio Fleury, o caçador de subversivos, Frei Tito, que se matou na França, Romeu Tuma (vejam como Gabeira convive na política com o homem que lhe fez perguntas na prisão), torturadores, Franklin Martins (o idealizador do sequestro do embaixador Elbrick, hoje afastado do ex-companheiro), Tarso de Castro, José Dirceu (epa!) e dezenas de outras figuras relevantes’.

Livro histórico

Fernando Gabeira tem estado no centro da cena política brasileira desde os anos 1960. Primeiro como integrante da guerrilha urbana contra a ditadura militar, depois como um dos mais destacados personagens do período da anistia e da volta dos exilados, por fim como um dos mais importantes e respeitados políticos em âmbito nacional das últimas décadas.

Dossiê Gabeira – o filme que nunca foi feito aproveita os 40 anos de um dos episódios mais dramáticos dos ‘anos de chumbo’, o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick pelo grupo de Gabeira, os 30 anos da anistia e os 20 anos da queda do Muro de Berlim para fazer um retrato da história recente do Brasil na visão privilegiada de um de seus principais protagonistas. Tudo devidamente embalado por um tratamento gr&aa cute;fico ao mesmo tempo belo e de impacto, que joga com a cor vermelha – a cor da esquerda, do sangue e da paixão.

O experiente jornalista Geneton Moraes Neto abre o livro como um filme policial, com a descrição da cena em que Fernando Gabeira é baleado em plena rua e, caído, espera pelo tiro fatal. O depoimento é marcado por afirmações de grande significado e poder de síntese – como ‘a revolução cubana era defensável porque tínhamos poucas informações sobre ela’, ‘a notícia do suicídio do Frei Tito passou a ser um marco na minha avaliação sobre os fatos e as pessoas daquele período’ ou ‘a leitura do Século XX é esta: as utopias foram sanguinárias porque deram sustento e fundamento teórico para uma série de crimes’.

O livro histórico de Geneton Moraes Neto é, em resumo, uma superentrevista com o jornalista que um dia virou guerrilheiro: três décadas depois da volta dos exilados, Fernando Gabeira revê aventuras, ilusões, sonhos e pesadelos da geração que agitou o Brasil.

O autor

Geneton Moraes Neto é jornalista. Nascido em Recife, em 1956, começou a vida profissional como repórter do Diário de Pernambuco. Entre 1975 e 1980 trabalhou no Diário de Pernambuco e na sucursal nordeste de O Estado de S.Paulo. Depois de um período em Paris, trabalhou na Rede Globo Nordeste como editor e repórter. Na Rede Globo Rio desde 1985, foi editor-executivo do Jornal da Globo e do Jornal Nacional, correspondente da Globonews e do jornal O Globo em Londres, repórter e editor-chefe do Fantástico. Vive o Rio de Janeiro.

Publicou dez livros de reportagens e entrevistas: Caderno de confissões brasileiras/dez depoimentos, palavra por palavra: Antônio Callado, Ariano Suassuna, Caetano Veloso, Carlos Diegues, F ernanda Montenegro, Ferreira Gullar, João Câmara, Joaquim Cardozo, Nélson Rodrigues, Oscar Niemeyer e Fernando Gabeira (Recife, Comunicarte, 1983); Cartas ao planeta Brasil/entrevistas com Anthony Burgess, Arnaldo Jabor, Daniel Cohn-Bendit, Francisco Julião, Gilberto Freyre, Gilberto Gil, Gregório Bezerra, Henfil, Dom Hélder Câmara, João Cabral de Melo Neto, João Saldanha, Luiz Gonzaga, Pete Best, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Ronald Edwards (Rio de Janeiro, Revan, 1988); Hitler/Stalin: o pacto maldito – em parceria com Joel Silveira (Rio de Janeiro, Record, 1990); Nitroglicerina pura – em parceria com Joel Silveira (Rio de Janeiro, Record, 1992 ); Dossiê Drummond – a última entrevista do poeta (São Paulo, Globo, 1994); Dossiê Brasil (Rio de Janeiro, Objetiva, 1997); Dossiê 50 – os onze jogadores revelam os segredos da maior tragédia do futebol brasileiro (Rio de Janeiro, Objetiva, 2000); Dossiê Moscou (São Paulo, Geração Editorial, 2004) e Dossiê Brasília (São Paulo, Globo, 2005); Dossiê História ( São Paulo, Globo, 2007).