Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Geneva Overholser

‘Jamais queime uma fonte. É uma norma fundamental do jornalismo: não revele a identidade de quem deu uma informação confidencial.

Para ser confiável, é preciso ter palavra. E, no caso do jornalista, boas fontes são vitais para conseguir informações valiosas. Num mundo de segredos e boatos, quem fornece boas informações vale ouro.

Mas a mesma ferramenta que expõe mamatas e politicagens pode também promovê-las e o abuso das fontes anônimas por parte dos jornalistas compromete o trabalho. Não há dúvida de que a confidencialidade pode garantir que algumas informações venham a público. O direito de preservar a fonte, porém, vem sendo pressionado pelo sistema legal, fazendo com que os jornalistas se mobilizem para defendê-lo.

Princípios merecem ser defendidos mesmo quando invocados em casos desagradáveis, como o de Robert Novak. Em 2002, o diplomata aposentado Joseph Wilson investigou a suposta compra de material radiativo pelo Iraque.

Não encontrou evidências, mas em janeiro de 2003 Bush usou o caso para reforçar sua campanha contra Saddam Hussein. Wilson escreveu um artigo questionando a administração Bush. Novak, então, revelou em sua coluna que a mulher de Wilson era agente da CIA e teria indicado o marido para o trabalho, sendo que revelar a identidade de agentes da organização é crime, hoje sob investigação.

Novak inverteu uma norma da confidencialidade – expôs uma fonte a represálias governamentais – e, pior, divulgou informações ilegalmente.

Agora ele terá de depôr no tribunal.

Para muitos de seus colegas, isso significa que terão de ficar a seu lado.

No entanto, há duas questões a considerar. Sim, é do interesse do público proteger jornalistas da obrigação de revelar suas fontes. Mas também é de interesse público que os jornalistas revelem deslizes éticos. Longe de comprometer a confidencialidade, o reconhecimento de que proteger fontes pode ser usado para o bem ou para o mal só vai fortalecer esse princípio. Os jornalistas, e não a Justiça, é que deveriam fazer Novak reconhecer que abusou do princípio da confidencialidade.’

 

ELEIÇÕES / EUA

Fernando Canzian

‘Imprensa sensacionalista investe contra favorito’, copyright Folha de S. Paulo, 8/02/04

‘Líder absoluto até aqui na corrida pela indicação democrata, John Kerry, 60, já começou a atrair a atenção da mídia sensacionalista norte-americana, com fotos e títulos desabonadores nas prateleiras dos supermercados.

Kerry já apareceu com alguma freqüência em ‘revistas de famosos’ quando foi questionado se havia usado botox para melhorar a aparência para a campanha.

Nesta semana, no entanto, ganhou um imenso ‘perfil’ na revista ‘The National Enquirer’, de grande circulação, vendida a US$ 2,35 (R$ 7,00) na boca do caixa de grandes redes de lojas.

‘Vida secreta exposta: casos com estrelas, abuso de drogas e cirurgia plástica’, diz a capa da revista, onde Kerry aparece ao lado de uma loira deslumbrante, Morgan Fairchild, que teria saído com o senador entre o seu primeiro e o segundo casamento.

Outras fotos (não-datadas) na revista mostram que Kerry tem bom gosto, especialmente entre loiras e ruivas.

Citando ‘fontes próximas’ do candidato, a revista afirma que Kerry é um ‘confesso maconheiro’ e que fez uma plástica há alguns anos para diminuir o tamanho do queixo.

Em debate na TV no início de novembro passado, Kerry e Howard Dean, de fato, reconheceram ter experimentado a droga.

Sobre a plástica, Kerry nega. Mesmo sobre o botox, diz não saber nem do que se trata.

Enganador

A ‘National Enquirer’ especula até com a fama de veterano da Guerra do Vietnã.

A revista afirma que Kerry ‘ludibriou’ outros veteranos de guerra durante um protesto em frente à Casa Branca em 1971, quando os manifestantes jogariam suas medalhas dentro de uma lata de lixo.

Kerry, diz uma fonte não identificada, teria atirado ao lixo apenas as fitas coloridas e guardado as medalhas que agora cita com orgulho durante a sua campanha eleitoral.’

 

Ruth Fremson

‘O arsenal tecnológico da mídia americana’, copyright O Globo / The New York Times, 4/02/04

‘Num comício em New Hampshire, um homem perguntou a Howard Dean se poderia rezar por ele. O pré-candidato democrata respondeu que o homem fizesse todas as preces possíveis. Para surpresa de todos, o eleitor começou a rezar imediatamente.

Num momento em que eventos bizarros de campanha se sucedem, esse nem pode ser considerado tão estranho. Mas o produtor da CNN Mike Roselli achou que valia a pena alertar seus chefes e, imediatamente, enviou um e-mail para a redação por seu palmtop com acesso à internet. Pelo horário do e-mail, a CNN pôde identificar o trecho da gravação e colocá-lo no ar. Roselli diz que de fato achou o material interessante, mas admite só ter chamado a atenção para ele naquele momento porque a tecnologia a sua disposição permitia. E também porque temia que alguma outra TV fizesse o mesmo.

– Há apenas quatro anos, eu só falaria com a redação depois do fim do evento – afirmou. – Mas há muito mais competição agora, 24 horas por dia.

Jornalistas não são necessariamente aficionados por novas tecnologias. Mas a necessidade crescente de prover notícias todo o tempo forçou-os a se adaptarem. Laptops sem fio, gravadores digitais capazes de enviar discursos inteiros para o computador e minicâmeras de vídeo são alguns novos itens do arsenal. Com toda essa tecnologia somada aos tradicionais celulares e laptops, os repórteres têm poucas desculpas a dar aos chefes caso não tenham a menor idéia do que está acontecendo em Marte.’