O Globo enviou na semana passada resposta enérgica à matéria ‘Operação abafa’, publicada na edição 1.895 da Veja, na qual a revista passa um pito nas publicações que, por ‘amizade’, teriam ‘protegido’ Chico Buarque ao não divulgar fotos do compositor com a nova namorada numa praia do Rio [ver remissões abaixo]. No domingo (13/3), constatando que a carta não havia sido publicada na edição 1.896 da revista, estampou-a na página 25 do primeiro caderno, ao lado da coluna de Ancelmo Góis, e na capa de sua versão online.
No texto, o diretor de Redação, Rodolfo Fernandes, desmente afirmações, corrige equívocos e revela que a Veja omitiu deliberadamente da matéria dados previamente passados à revista pelo jornal. Abaixo, a carta do Globo à Veja.
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Carta do Globo à revista Veja
Reportagem da Veja na semana passada, intitulada ‘Operação abafa’, com críticas ao Globo, foi motivo de carta enviada pelo jornal à redação da revista. Pelas discussões jornalísticas que o caso proporciona, O Globo publica a seguir a íntegra da mensagem que remeteu à Veja e que não foi publicada pela revista:
Por falta de tempo, ou de vontade, a revista Veja deu informações equivocadas sobre o fato de O Globo ter decidido não publicar fotos do compositor Chico Buarque feitas por paparazzi . Em nome da boa prática jornalística, e para repor a verdade na matéria apócrifa da Veja, seguem os fatos corretos:
1.
A Veja não tem como sustentar, pois é rigorosamente falsa, a insinuação de que tenha existido qualquer telefonema de ‘assessores’ de Chico Buarque ao jornal O Globo, em qualquer instância, solicitando que as fotos do compositor não fossem publicadas. Prestei a informação correta por escrito à Veja mas ela foi omitida da matéria;2.
Não é verdade que O Globo tenha sido ‘um dos jornais que cobriram mais extensamente’ as confusões do casamento do craque Ronaldo com Daniella Cicarelli. Uma apuração menos preguiçosa teria notado que O Globo foi, entre os grandes jornais, o único a não ter um enviado especial ao cenário do casamento. Sequer a correspondente do Globo em Paris foi deslocada para Chantilly. A ‘extensa cobertura’ do Globo limitou-se a um texto-legenda na editoria de Esportes e a notas de coluna;3.
Veja omitiu capciosamente do texto – provavelmente porque isso iria contrariar a tese embutida na sua matéria – a informação que enviei por escrito à revista dando conta de que o Globo nunca publicou fotos de Ronaldo com uma modelo tiradas por paparazzi na Itália, quando ainda era casado com Milene;4.
Chega a ser infantil a afirmação de que Chico Buarque, um dos maiores artistas do país, em ação há mais de quarenta anos, precisa de ‘amigos’ na imprensa para dar uma forcinha em sua carreira. O Globo possui realmente um bom relacionamento com Chico e é motivo de orgulho que ele tenha sido colunista do jornal por um período. O Globo não tem problemas com o sucesso dos artistas brasileiros e estabelece com eles uma relação profissional e de respeito. O Globo não negocia o acesso a artistas em troca de resenha favorável a suas obras;5.
A decisão de não publicar as fotos seguiu uma linha editorial que vem sendo adotada pelo Globo há muito tempo – diante disso, a opção foi muito clara. Apenas para informação dos leitores da Veja, cabe lembrar episódios recentes, de áreas diversas, em que a mesma orientação foi seguida. Quando a atriz Carolina Dieckman saiu de casa, e sabia-se que estava em processo de separação, a orientação do jornal no episódio para a coluna de TV foi de que não havia interesse nesse tipo de assunto, envolvendo futricas familiares que poderiam causar prejuízos à vida particular dos envolvidos. O mesmo ocorreu há poucos meses quando o compositor Caetano Veloso saiu de casa e revistas de celebridades fizeram campana na sua porta: o assunto foi aberta e francamente discutido com editores da coluna de gente do jornal e O Globo decidiu minimizá-lo. Conduta semelhante O Globo adotou quando a revista Contigo! ofereceu fotos da apresentadora Angélica de topless num hotel em Miami: nada publicamos. Mais atrás ainda, o mesmo comportamento norteou a linha editorial do jornal – e de toda a imprensa brasileira, Veja inclusive – quando o ministro Ciro Gomes e a atriz Patrícia Pillar começaram a namorar.6.
No caso de Chico, que está separado há quase dez anos, nem mesmo uma notícia havia no episódio para justificar a publicação;7.
A postura do Globo de respeito aos fatos, aos leitores e às fontes tem sido consagrada pela circulação crescente, pela coleção de prêmios e pela credibilidade do jornal junto ao público formador de opinião no país. Pesquisa apresentada este ano no Fórum Econômico de Davos pela maior agência de relações públicas independente do mundo (Edelman) aponta O Globo como o veículo de maior credibilidade entre todos os meios de comunicação brasileiros;8.
Cada veículo tem a sua linha editorial, baseada em suas discussões internas, no perfil de seus leitores e em seus princípios éticos. Se a Veja publica fotos de paparazzi, está no seu direito. O Globo evita avançar na intimidade de seus personagens de forma sensacionalista. Por isso, não vê relevância jornalística neste tipo de fotos. Veículos de qualidade pelo mundo afora também agem assim. Esta não é uma decisão simples, é fato editorial bem mais complexo do que faz supor a vã aula jornalística da Veja. No próprio episódio Chico Buarque, a maior revista de celebridades do país, a Caras, decidiu não publicar as fotos, embora tenha sido procurada pelo fotógrafo que clicou o compositor. E não consta que Chico tenha algum ‘grande e poderoso’ amigo na Caras para ‘dar uma mãozinha’.Atenciosamente, Rodolfo Fernandes, Diretor de Redação