De olho no crescente mercado de internet chinês, o Google concordou em censurar os resultados de seu sítio de busca no país – aderindo às restrições do governo à liberdade de expressão –, e lançou, na quarta-feira (25/1), uma nova versão de seu sistema de buscas com o sufixo da China ‘.cn’. Anteriormente, uma versão em chinês estava disponível através do sítio do Google nos EUA, com a terminação ‘.com’.
Ao criar um sítio exclusivo para a China, o Google espera ampliar a divulgação e tornar seu mecanismo de busca mais fácil de usar no país com o maior número de internautas do mundo – são 100 milhões de pessoas com acesso à rede. Devido às barreiras governamentais para censurar informações consideradas contrárias ao regime, usuários chineses do Google eram proibidos de acessar o sítio ou encontravam muita demora para ter o resultado das buscas – o que frustrava muitos internautas e prejudicava os esforços da empresa para expandir seu serviço em um lugar esperado para ser a mina de ouro da internet ao longo da próxima década.
Em nome do lucro
O Google detém, desde 2004, 2,6% da Baidu.com Inc., empresa com sede em Pequim que administra o mecanismo de buscas mais popular da China. No entanto, esta liderança está ameaçada pelo Google e pela Yahoo!, segundo uma pesquisa sobre preferências da internet feita com o público chinês pela Keynote Systems, companhia que monitora a performance da rede.
Para obter a licença chinesa, o Google concordou em omitir qualquer conteúdo que o governo considerar repreensível e lhe dar liberdade para escolher o que quiser censurar. Temas como o massacre da praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989, ainda são proibidos. Quando o Google censurar algum resultado, o sítio irá disponibilizar notificações alertando aos usuários que algum conteúdo foi removido para obedecer às leis locais. Nem todos os serviços do Google estarão disponíveis na China, como a ferramenta de blog e o Gmail. O sítio de notícias do Google terá que passar por avaliação do governo antes de ir ao ar.
Funcionários do Google classificaram a censura ao conteúdo do sítio como uma decisão difícil de ser tomada para uma empresa que adotou como lema moral ‘don´t be evil’ (não faça o mal). Mas a administração considera que vale a pena o sacrifício. ‘Nós acreditamos, como nossa cultura de inovação, que o Google pode dar contribuições positivas e significativas ao já impressionante ritmo de crescimento na China’, afirmou Andrew McLaughlin, integrante do conselho de políticas da empresa.
Críticas à decisão
A atitude do Google decepcionou organizações de defesa da liberdade de expressão, como os Repórteres Sem Fronteiras, que já haviam criticado empresas de internet como Yahoo! e Microsoft por se submeterem ao regime de censura chinês. ‘É uma vergonha. Quando um sítio de buscas colabora com o governo, torna-se muito mais fácil para que ele controle o que está sendo dito na internet’, opina Julien Pain, editor de internet dos RSF. No ano passado, o Yahoo! foi amplamente criticado por ter fornecido ao governo chinês informações do e-mail do jornalista Shi Tao, condenado posteriormente por violar segredos de Estado.
Curiosamente, ao mesmo tempo em que aceitou se sujeitar às leis da China, o Google nega ao governo americano o fornecimento de dados sobre buscas feitas por internautas. ‘Enquanto a empresa defende os direitos dos internautas americanos diante da justiça dos EUA, ela censura os usuários chineses. As declarações ofuscadas do Google sobre respeito e confidencialidade dos internautas são hipócritas, pois ele concordou com a estratégia de censura da China’, afirmava declaração no sítio dos RSF. Em maio do ano passado, a ONG escreveu aos fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, perguntando se eles censurariam o sistema de busca na China e expressando preocupações com algumas decisões tomadas pela companhia. Informações de Michael Liedtke [AP, 24/1/06] e RSF [25/1/06].