Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Governo cria dificuldades aos meios de comunicação

Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, 8 de junho de 2007 – Apesar da existência de um clima aberto para o exercício do jornalismo, a intolerância do presidente Evo Morales frente a críticas nos meios de comunicação está criando dificuldades para o trabalho dos repórteres, segundo os resultados preliminares de uma missão de uma semana de uma delegação do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) à Bolívia. Morales, ainda que tenha se comprometido a respeitar a liberdade de imprensa, acusou os meios de comunicação de uma cobertura com inclinação contrária à sua administração.

A delegação, composta por Josh Friedman, integrante da diretoria do CPJ e jornalista laureado com o prêmio Pulitzer, e por Carlos Lauría, coordenador do Programa das Américas do CPJ, se reuniu com Morales, com o vice-presidente Álvaro García Linera, funcionários do governo, jornalistas, editores, executivos dos meios de comunicação e ativistas de direitos humanos em La Paz e em Santa Cruz de La Sierra, cidade onde está radicada a maior oposição ao governo. O CPJ publicará um informe durante o próximo mês sobre as condições da imprensa na Bolívia.

Jornalistas e executivos dos meios de comunicação afirmaram que Morales, o primeiro presidente indígena do país, é demasiadamente sensível às críticas.

‘O governo do presidente Morales acredita que qualquer crítica é parte de uma conspiração. Há liberdade de imprensa na Bolívia, mas as constantes agressões verbais do presidente estão enviando sinais inquietantes’, disse ao CPJ Pedro Rivero Jordán, diretor-executivo do jornal El Deber, de Santa Cruz, e presidente da Associação Nacional da Imprensa (ANP, sigla em espanhol).

Rádios comunitárias

Os jornalistas reconhecem que não estão sendo perseguidos pelas autoridades, mas assinalam que o constante volume de críticas contra a imprensa dificulta a cobertura de eventos, como os protestos de rua.

Em janeiro, mais de uma dezena de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas foram agredidos por manifestantes pró-governamentais na cidade de Cochabamba, no centro do país.

Morales acusa os meios de comunicação de usarem um viés político em sua cobertura e de tentarem desacreditar seu governo.

‘O sistema capitalista utiliza os meios de comunicação contra o governo’, disse Morales, ex-líder cocalero eleito em dezembro de 2005, na reunião com o CPJ. ‘Os jornalistas simpatizam com meu governo; são os donos dos meios de comunicação que estão empenhados em uma campanha contra mim’ assinalou Morales.

No entanto, Morales reafirmou seu compromisso com a liberdade de imprensa. ‘É importante proteger a liberdade de expressão, e nossa posição é a de que deve haver mais liberdade de expressão’, acrescentou Morales.

Os meios de comunicação bolivianos também expressaram sua preocupação ante os planos do governo para a Assembléia Constituinte, a qual está redigindo uma nova Constituição com a finalidade de fortalecer os direitos dos indígenas.

O vice-presidente García Linera disse que o governo ‘não tem pensado em mecanismos estatais coercitivos para impor controle’ sobre a imprensa. ‘Os excessos no uso da informação não serão controlados pelo Estado. Respeitamos e buscamos promover a liberdade de expressão’, expôs García Linera.

A delegação do CPJ também se reuniu com Gastón Núñez, funcionário que administra a rede de rádios comunitárias, um projeto de dois milhões de dólares financiado pelo governo venezuelano. Mais de duas dezenas de rádios comunitárias já estão transmitindo para comunidades rurais e indígenas. Segundo Núñez, a rede não transmite propaganda governamental, mas alguns dos jornalistas locais sustentam que a rede foi criada especificamente para dar voz à administração.

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O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo