[dos releases da editora]
Um massacre de escravos ocorrido durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) é o ponto de partida do livro Lanceiros Negros (JÁ Editores, 2005, 144 páginas, patrocínio Copesul), dos jornalistas Geraldo Hasse e Guilherme Kolling, lançado na Feira do Livro de Porto Alegre em 12 de novembro. A partir do episódio, que até hoje provoca polêmica, a obra reconstitui a história dos regimentos formados por escravos, presentes em praticamente todas as guerras gaúchas do século 19 e que tiveram papel destacado na fixação das fronteiras no extremo sul do Brasil.
No livro, fatos de um passado já remoto que ainda mobilizam intelectuais e ativistas que, a partir deles, pretendem ‘refundar a história do negro no Rio Grande do Sul’. Neste esforço, até o governo está engajado, na construção de monumentos, no tombamento de bens culturais ou na pesquisa de referências históricas.
A obra mostra ainda cronologia dos eventos guerreiros no Cone Sul, e conta a tradição do uso de lanças no pampa, desde o século 18, chegando à Revolução Farroupilha. Os autores descrevem a organização e o recrutamento dos lanceiros, e sua importância estratégica para os Farrapos. Tudo ilustrado com documentos: chefes dos dois lados dão seu depoimento sobre esses guerreiros. O livro traz ainda um panorama da escravidão na época dos Farrapos.
Darcy Azambuja em biografia inédita
Darcy Azambuja, biografia lançada em dois volumes pela JÁ Editores também na Feira do Livro de Porto Alegre, traz no primeiro volume perfil inédito do contista, jornalista, jurista e homem público, produzido pelo jornalista Geraldo Hasse – no segundo, uma seleção de seus contos. A literatura gaúcha sempre realça a fulgurante carreira do escritor Darcy Azambuja, que se tornou famoso aos 22 anos com o livro de estréia (No Galpão, Globo, 1925).
Ajambuja (1903-1970) é exemplo raro de sucesso nas letras nacionais: um jovem contista reconhecido na capital federal sem sair da província. Ele seguia a trilha aberta na década anterior por João Simões Lopes Neto (1865-1916), pai do regionalismo sulino. Seus contos revelam a segurança de um velho vaqueano das letras. Nessa troteada iria longe, vaticinavam os observadores da paisagem literária gaúcha.
Mas ele tomou outro caminho: penetrou na política pela via do jornalismo, surpreendendo tanto pela competência como pela discrição. Darcy Azambuja permanece como um dos maiores contistas brasileiros, mas tem lugar de destaque como professor. Magro, sempre de chapéu, falava pausadamente, sem jamais levantar a voz. No meio das aulas acendia um cigarro de palha, sua mais notória ligação com a origem campeira. Econômico em gestos, risos e textos, deixou uma lição de humildade e grandeza em frases como esta, escrita no início dos anos 40: ‘Daqui a meio século, o progresso da cultura e da tecnologia talvez permitam a prática da democracia direta. Esperamos que a cultura produza uma técnica pela qual seja possível ao homem governar e governar-se com liberdade’.
Embora tenha escrito um romance sobre Porto Alegre, o ficcionista Darcy Azambuja é antes de tudo um contista rural. Contemporâneo de Erico Verissimo (1905-1975), Darcy Azambuja é geralmente enquadrado pela crítica como continuador do estilo criado por João Simões Lopes Neto, que deu caráter universal ao modo de falar do campeiro rio-grandense. Apenas por essa característica, merecia ter sido mais bem estudado. No meio universitário gaúcho, apenas dois estudos foram feitos sobre Azambuja nos últimos 30 anos.