Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Imprensa esconde prêmios

Vícios estranhos estão deformando os prêmios literários brasileiros. A imprensa faz um alarde danado para prêmios como o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, mas ignora outros, muito mais importantes. A inércia de noticiar o que sempre noticiou, com pequenos ajustes a cada ano, presta terrível desserviço ao leitor, que é enganado e segue pensando que o Jabuti é o maior prêmio nacional. Não é, não! E já faz tempo que não é mais.

Vejamos a miséria de espaço dedicado aos prêmios distribuídos pela Fundação Conrado Wessel. Com exceção de algumas ilhas – Carta Capital dedicou-lhe duas páginas –, jornais e revistas, por maioria silenciosa e em sinistro pacto tácito, deram poucas linhas. Ora, é um dos maiores, senão o maior prêmio brasileiro, semelhando um Nobel nacional.

Haveria destaques imperdíveis. Exemplifico com um, óbvio. Muitos reitores brasileiros se dizem atucanados (nenhuma ambigüidade) de tanta burocracia – sintoma de que não sabem administrar, evidentemente. Aristóteles Onassis tinha que gerir organizações mais complexas do que eles e vivia viajando pelo mundo. Naturalmente, não precisava cortejar ninguém para integrar lista tríplice ou sêxtupla ‘da comunidade’, nem fazer conchavos com vistas a obter o cargo para poder depois se queixar de não que dá tempo para nada. Nem para o ensino nem para a pesquisa. E nem para a administração, aliás.

Pois o reitor da Unicamp, Carlos Henrique Brito da Cruz, ganhou o Prêmio Conrado Wessel na área de Física. Foram 118 concorrentes indicados por universidades e centros de pesquisa. Cada um ganhou 100 mil reais.

Depois de feita a lista, seis ministérios e entidades – como a SBPC, a Fapesp, o CNPq e a ABL – escolheram os premiados, entre os quais estão a endocrinologista Maria Inês Schmidt (UFRGS), por seu trabalho para a cura do diabetes e controle da doença na rede de saúde pública de Porto Alegre. O norte-americano Philip Fearnside arrebatou o prêmio por suas pesquisas na Amazônia, nas quais estuda as relações entre o devastação da selva e mudanças climáticas no mundo. O engenheiro agrônomo Jairo Vidal Vieira, da Embrapa, que desde 1978 (!) pesquisa melhoramentos genéticos em hortaliças, foi o escolhido na área de Ciência Aplicada ao Campo. O geólogo Dieter Ernst Muehe (UFRJ), fundador do Instituto de Oceanografia Marinha, recebeu o galardão por suas pesquisas na categoria Ciência Aplicada ao Mar. E a escritora Lya Luft ganhou o maior prêmio literário do ano porque ganhou sozinha. Por livros como Perdas e Ganhos e Pensar é Transgredir. E já se murmura que a excelente escritora, também qualificada tradutora de obras fundamentais trazidas de outras literaturas para o português, descambou para a auto-ajuda. Tremenda injustiça e avaliação desprezível, frutos de um carma que Tom Jobim resumiu: ‘No Brasil, o sucesso é ofensa pessoal’.

Ano passado, a Portugal Telecom também concedeu prêmio literário de 100 mil reais, que foi dividido entre dois escritores: Dalton Trevisan e Bernardo Carvalho. Na premiação dos portugueses, os poetas Sebastião Uchoa Leite e Mário Chamie também foram agraciados com prêmios menores. De todo modo, os prêmios menores da Portugal Telecom são 200% maiores do que o maior do Jabuti!

O Passo Fundo de Literatura deu 100 mil reais ao escritor Plínio Cabral, ano passado, pelo romance O Riso da Agonia, depois de ter premiado com igual valor, em anos anteriores, os romancistas Sinval Medina, Salim Miguel e Antônio Torres.

Quem foi o mecenas Conrado Wessel

Conrado era filho único de imigrantes alemães. Nasceu na Argentina em 1893, mas foi criado em Sorocaba, no interior de São Paulo. Morreu aos 102 anos, em 1993. Guilherme Wessel, seu pai, foi professor de Física na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Mas tinha uma outra paixão, a fotografia.

Conrado tinha 20 anos quando foi estudar fotografia em Viena e, quando voltou da Áustria, concebeu o plano de fundar uma fábrica de papel fotográfico no Brasil. Em 1922, em toda a efervescência do Modernismo e das instabilidades institucionais no Brasil, inventou e patenteou processos de revelação fotográfica e fechou contratos com a Kodak, a quem cedeu a patente mundial de seus inventos. Não foi um bom negócio para ele. Foi ótimo para a Kodak. Ainda assim, Wessel enriqueceu. Morava na Barra Funda, em São Paulo, e vivia de aluguéis de imóveis. Ao morrer, sua fortuna era calculada em 10 milhões de dólares.

A Fundação Conrado Wessel, determinada em testamento, foi instituída em 1994. Os rendimentos da Fundação provêm de participação no Shopping Higienópolis (55%), em São Paulo, construído sobre casas de Conrado. O restante provém da locação de 50 imóveis.

O presidente da Fundação Conrado Wessel, Américo Fialdini Jr, tem uma queixa insólita: todas as universidades foram contatadas para que indicassem nomes, mas várias permaneceram em silêncio.