O Estado de S. Paulo, 28/3 Lourival Sant’Anna Insurgentes rompem monopólio e lançam canal de TV A emissora rebelde Al-Hurra (‘A Livre’) passou a ocupar um canal nas redes de TV a cabo captadas na Líbia, rompendo o monopólio do regime de Muamar Kadafi na televisão. Criada no início do levante, dia 19 de fevereiro, Al-Hurra era transmitida antes apenas por frequências piratas. Seus vídeos eram também publicados na internet e entregues às redes de TV árabes, como Al-Jazira. A televisão se junta à emissora de rádio Líbia Livre, no ar desde os primeiros dias do levante iniciado há um mês, e a quatro jornais impressos também produzidos pelos rebeldes. Sob o regime de Kadafi, as únicas publicações e emissoras permitidas são as que pertenciam ao governo. A TV tem sido usada abertamente para propaganda de guerra. Imagens de corpos retirados de Benghazi na invasão das forças de Kadafi são exibidas como sendo de civis mortos nos bombardeios da coalizão em Trípoli; os protestos em Londres contra os cortes nos gastos públicos são transmitidos como manifestações contra a ação da coalizão na Líbia; cenas do general Abdel-Fatah Younis, ex-ministro do Interior que aderiu à rebelião, com Kadafi, gravadas antes do levante, são mostradas como se fossem novas, para provar que ele continua apoiando o ditador. Por ora, a emissora rebelde transmite apenas cerca de uma hora de noticiário ao vivo. No restante do tempo, mostra filmagens gravadas das permanentes manifestações na Praça dos Mártires contra o regime e em agradecimento pela intervenção da coalizão. Na noite do dia 19, sábado, exatamente um mês depois de colocar no ar o canal pirata, seu criador, Mohamed Nabous, foi morto por um franco-atirador com um tiro de fuzil no olho. Durante o dia, ele havia filmado as mortes e os estragos em residências causados pelos bombardeios das forças de Kadafi. Nabous, de 28 anos, que antes do levante trabalhava numa empresa provedora de internet, foi quem montou a conexão usada pelos líderes rebeldes e jornalistas, com um equipamento de satélite doado por um empresário. Sua mulher, Perdita, leva adiante o projeto da TV. Seif al-Islam, filho de Kadafi, que se preparava para sucedê-lo, chegou a criar em 2006 um canal de TV e uma emissora de rádio, chamadas Al-Libya, supostamente ‘independentes’, como parte de um processo de reformas por ele anunciado, na época. A TV entrevistava defensores de reformas moderadas. Aparentemente seu pai não gostou e, após dois anos, tomou a emissora e a transformou no Canal 2, que tem o mesmo perfil do 1. A rádio passou a transmitir só música. Mustafa Gheriani, de 54 anos, porta-voz do Conselho Provisório Líbio, a liderança rebelde, lembra que havia ‘muitos’ jornais em Benghazi na sua infância, antes de Kadafi tomar o poder, em 1969. ‘Eles esgotavam nas bancas antes das 8 horas’, recorda Gheriani, engenheiro líbio que mora nos Estados Unidos. ‘Eram jornais de qualidade.’ O porta-voz garante que, na época do rei Idriss Sanussi, derrubado pelo golpe, ‘havia liberdade de expressão’. Ele se lembra de seu pai movendo a antena para pegar o sinal da emissora de TV transmitida pela base americana na Itália, a única captada na Líbia na época.