Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

IstoÉ


INTERNET
Osmar Freitas Jr.


As indiscrições do PornoTube


‘Nova York – É a mais nova onda nos EUA: ver gente acima de suspeita, ou suspeitos usuais, engajados em atividades sexuais insuspeitas. No mundo da internet, no começo era o verbo. Depois, vieram as imagens. E chegaram para cumprir a profecia de que no futuro todos seriam famosos por 15 minutos, ou pelo menos por 30 segundos – o tempo médio de exposição de vídeos caseiros feitos para serem submetidos à curiosidade pública, para o bem ou para o mal. Não bastasse o exibicionismo dos videoclipes arquivados e à disposição de qualquer um no site YouTube, proliferam agora os endereços de comunidades visuais pornográficas, com participação de artistas amadores do sexo. São centenas de domínios na rede. O pioneiro do gênero é o Xtube (www.xtube.com), que não cobra taxa, tem 400 mil pessoas registradas e recebe 150 mil acessos por dia. Outro endereço popular é o Yuvutu (www.yuvutu.com), com 400 mil associados, 100 mil visitas diárias e é de graça. E o mais badalado do momento é o PornoTube (www.pornotube.com) que reúne 500 mil integrantes, dez mil novos associados por dia e 250 mil visitantes diários, também com serviço gratuito. Neles se mostram as entranhas (ao pé da letra e no sentido figurado) da população do planeta. Pegue-se a modelo Daniella Cicarelli, flagrada, filmada e exibida em relações íntimas e improvisadas nos mares da Espanha. Pareceu ao casal, naqueles momentos, que ninguém notaria a escapada ao ponto onde, digamos, o mexilhão sofre com o embate entre ondas e rochedo. Mas minutos depois do ato, a cena estava sob escrutinação universal. A vítima mais recente e muito mais famosa desse show pornô é a cantora Britney Spears.


Em meio a um divórcio litigioso com seu marido, Kevin Federline, surgiu o boato de que ele, por vingança, teria jogado na internet um trecho de um filme feito na lua-de-mel do casal. Da parte de Britney, houve choro e ranger de dentes – não exatamente durante o ato filmado, mas depois da revelação. Do lado dos internautas, foi uma verdadeira corrida ao PornoTube, no qual 15 segundos de ação estavam sendo exibidos sob o título ‘stripper’. Saciada a curiosidade, e outros desejos, estabeleceu-se a polêmica entre os usuários do site. É ela mesmo ou não é? Naquela produção de qualidade caseira, vê-se uma mocinha de cabelos escuros (Britney andou uns tempos morena) numa performance ousada. Em seguida, há uma cena de sexo oral no companheiro, que permanece incógnito. Os encarregados de relações públicas da cantora se apressaram para anunciar que a figura do vídeo não é Britney mas, sim, uma anônima participante de uma orgia universitária. ‘É ridículo. A menina do filme não se parece nada com a Britney e esse filminho já estava no PornoTube há meses, sob outro título’, disse a ISTOÉ a RP de Spears, Laura Brockman. O público do site mantém, no entanto, a suspeita. E não parece ser o único. O âncora da rede de tevê Fox, Bill O’Reyle, comentou recentemente em meio ao seu raivoso discurso direitista contra o sexo desenfreado: ‘Como é que o filho de Britney e Kevin vai encarar esse vídeo no futuro, vendo possivelmente o momento exato em que foi concebido?’ Um exagero do locutor, claro, já que ninguém é concebido via sexo oral.


Não obstante os desprazeres e prazeres de Britney, a verdade é que os arquivos de vídeos pornográficos na internet representam o supra-sumo da invasão de privacidade. Seja ela consentida pelos filmados, seja sem a anuência deles. ‘Esses sites viraram instrumento de vingança no arsenal de casais que se separam. Homens e mulheres revelam os momentos mais íntimos do casal ou da pessoa que foi sua companheira para que todo mundo veja. E não há nada que se possa fazer’, diz o advogado Al Giampaolo, um dos maiores especialistas em divórcios da Califórnia. ‘Recomendo sempre, aos que vão se casar, que evitem tirar fotos desinibidas ou filmar atos sexuais. Nunca se sabe onde esse material vai parar no futuro.’ Nem sempre operadores maliciosos e vingativos trazem ao mundo o material mais tórrido da cama de um casal. Celebridades aprenderam há tempos com a pioneira Pamela Anderson que um vídeo caseiro de sacanagem pode render mais fama e mais fortuna para os protagonistas. A atriz canadense e seu ex-marido, o roqueiro Tommy Lee, estão por toda a internet em exercícios sexuais. Inclusive no PornoTube. No início se imaginava que o teipe havia sido furtado. Descobriu-se depois que o próprio casal deixou escapar aquele testamento de seus atributos físicos.


Em vista disso, a divulgação do famoso vídeo de Paris Hilton (que impulsionou sua fama, mais do que os US$ 3 bilhões de sua herança) transformou-se num modelo para as mulheres particularmente ambiciosas. ‘Vivemos hoje a era Paris Hilton, onde se acha que o caminho mais rápido para a celebridade é pavimentado de estripulias sexuais’, diz o psicólogo Steven Ross, do New York Presbyterian Hospital. ‘E como os atos sexuais mais comuns já não causam sensação, agora estão apelando para as aberrações.’ Por ‘aberrações’ entenda-se o acomodamento em cavidades humanas hiper-sensíveis de itens que vão desde um abacaxi de médio porte e um papaia superdesenvolvido até vegetais mais corriqueiros como banana, pepino e cenoura.


Mas há garrafas de champanhe, de cerveja, de uísque e de uma variedade de bebidas capazes de enriquecer os estoques de bares famosos. Tudo, é claro, sob a aprovação da platéia.’


ROBERTO CARLOS EM DETALHES
Luiz Chagas


Segredos do Rei


‘Faltava a biografia do cantor brasileiro mais popular de todos os tempos – rico, pobre ou remediado, branco, negro ou mulato, intelectuais e não estudados, católico, evangélico ou espírita, todos gostam dele e sabem um punhado de suas músicas. Ele é o Rei. E agora a sua tão esperada biografia (não autorizada) acaba de chegar: Roberto Carlos em detalhes (Planeta, 504 págs., R$ 59,90), escrita por Paulo Cesar de Araújo. Na verdade, detalhes é o que não faltam na obra. O autor pesquisou a vida de seu biografado ao longo de 16 anos, reuniu depoimentos de cerca de 200 pessoas que direta ou indiretamente compartilharam de seu caminho e entrevistou-o no final da década de 90. A carreira de ídolo de Roberto Carlos, ainda jovem, remete aos anos de 1963 a 1970, três deles comandando em São Paulo nas tardes de domingo, na antiga TV Record, o programa Jovem Guarda – a explosão de um rock ingênuo e bem-comportado batizado de iê-iê-iê. A grande consagração nacional veio em 1970 com o seu show no Canecão, no Rio de Janeiro. No livro, a vida do Rei avança cronologicamente, justamente até esse show. A partir daí, os capítulos focam temas específicos, como o palco (Quando eu estou aqui), o amor (Amante à moda antiga), a fé (Uma luz lá no alto) e assim por diante. ISTOÉ conta as principais histórias relatadas no livro: a trajetória de um garoto humilde que enfrentou, vitoriosamente, uma grave deficiência física causada na infância por um acidente de trem (que o fez perder parte da perna direita), que lutou contra o preconceito social e cultural de sua época e que se tornou Rei do Brasil sem perder a humildade.


• A perna mecânica do Rei


Nascido em Cachoeiro do Itapemirim, no dia 19 de abril de 1941, Roberto Carlos Braga é filho caçula do relojoeiro Robertino e da costureira Laura. Seus irmãos: Lauro Roberto, Carlos Alberto e Norma. Desde a infância o seu apelido foi Zunga. Aos seis anos, no dia da festa de São Pedro, padroeiro da cidade, ele foi atropelado por uma locomotiva a vapor e sua perna direita teve de ser amputada até pouco abaixo do joelho. Roberto e a coleguinha de escola Fifinha estavam na plataforma da estação. Quando o trem se aproximava, a professora puxou repentinamente a menina com medo que ela caísse. Roberto, que estava de costas para os trilhos, assustou-se e acabou caindo. Ele usou muletas até os 15 anos, quando colocou a sua primeira prótese – essa parte de sua perna é mecânica.


• Bolero de cowboy


Seu ídolo era o cantor paulista Bob Nelson (Nelson Perez), que se apresentava como cowboy. Roberto ia vestido de Bob Nelson na missa, com revólveres e tudo. Aos nove anos, de muletas, lá estava ele no Programa Infantil da Rádio Cachoeiro, cantando o bolero Amor y mas amor, de Bobby Capó. Logo começou a se apresentar em outros programas e a viajar pela região. Diante de tanto interesse, os pais o matricularam no Conservatório Musical de Cachoeiro do Itapemirim.


Longa viagem: apelidado de Zunga, Roberto (à esq.) tinha seis anos quando sofreu um terrível acidente de trem em Cachoeiro do Itapemirim e perdeu parte da perna direita. Sempre quis ser cantor e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde conheceu Erasmo e Wanderléa. Eles comandaram Jovem Guarda na TV Record (à dir.)


• A turma do Bar Divino


Roberto chegou ao Rio de Janeiro sonhando em cantar em alguma rádio, em março de 1956. Enturmou-se num grupo que freqüentava o Bar Divino, no bairro da Tijuca. Dessa turma faziam parte Erasmo Esteves (futuro Erasmo Carlos), Tim Maia, Jorge Ben, o tecladista Lafayette (futuro tecladista do RC 4), Wilson Simonal, Luiz Ayrão, os irmãos Renato e Paulo César Barros (do Renato e seus Blue Caps), Luiz Carlos e Liebert Ferreira (do The Fevers). Ou seja: a jovem guarda já estava lá.


• Elogios de João Gilberto


Quando ouviu João Gilberto pela primeira vez, Roberto abandonou o rock e passou a imitá-lo. Ele gravou o seu primeiro disco em 1959, poucos meses depois do revolucionário Chega de saudade, de João Gilberto, o que faz dele um precursor. O disco tem, de um lado, a música João e Maria (Roberto Carlos/Carlos Imperial) e, do outro, Fora do tom (Carlos Imperial). Roberto foi criticado na época, barrado pelo pessoal da bossa nova e esnobado pela MPB. O curioso é que João o viu cantar em 1959 e achou-o musical. Anos depois, no programa Fino da bossa, de Elis Regina, João Gilberto declarou: ‘É melhor tocar iê-iê-iê do que jazz retardado.’


• Sem sexo com Wanderléa


Despedido da gravadora Polydor e não aceito nas gravadoras Chantecler, Continental, RCA-Victor, Odeon, RGE, Copacabana e Philips, Roberto tinha na Columbia (futura CBS) a sua última esperança. Foi contratado como um novo João Gilberto e gravou um LP, Louco por você, que nem mostrava a sua foto na capa. Conheceu Wanderléa quando o estava divulgando em 1961 no bairro carioca de Cordovil. A ‘platéia’ era composta por ela e mais duas pessoas. Roberto não perdeu tempo. Sapecou-lhe um beijo na boca, sendo que a sua cheirava à coxinha de frango (é a própria Wanderléa quem conta isso no livro). Um ano depois eram colegas de gravadora. Chegaram a namorar mais tarde, mas nunca tiveram relações sexuais, por mais que ele insistisse. No auge da Jovem Guarda, Wanderléa ainda era virgem.


• O amigo e inimigo Erasmo


Roberto estreou uma música de Erasmo Carlos na boate Plaza. De volta ao rock, ele foi o primeiro cantor brasileiro a dispensar a orquestra e gravar com um conjunto, apoiado por Evandro Ribeiro, diretor da CBS e produtor de todos os seus discos entre 1963 e 1983. A música escolhida foi Splish splash, versão de Erasmo, com quem logo comporia Parei na contramão, o primeiro sucesso. A partir daí os dois trabalharam e trabalham juntos até hoje. Mas durante um ano, em 1967, no auge do programa Jovem Guarda, eles nem sequer se falavam: Erasmo recebeu um prêmio de Melhor Compositor no programa de Wilson Simonal e esqueceu de citar o nome do parceiro. Quando no programa Jovem Guarda Roberto chamava ao palco ‘o meu amigo Erasmo Carlos’, eles estavam rompidos.


• Tremendão, primeira opção


O programa foi uma coincidência. A idéia da TV Record era reeditar a dupla formada pelos irmãos Celly e Tony Campello. O primeiro escolhido (na verdade a terceira opção da emissora) foi Erasmo Carlos, que fazia sucesso com Festa de arromba. Para acompanhá-lo, chamariam Wanderléa ou Rosemary. Foi de Erasmo a idéia de chamar Roberto. O publicitário Carlito Maia entrou com o nome Jovem Guarda, que alega ter extraído de um discurso do comunista Lênin (um dos tiranos da ex-URSS) – na verdade, era o nome de uma coluna do jornal Folha de S.Paulo. A marca Calhambeque, tirada da versão de Erasmo, foi criada para patrocinar o programa, já que nenhuma empresa havia se interessado.


• Festival de San Remo


Roberto ficou famoso vencendo o tradicional festival italiano de San Remo, em 1968, com Canzione per te, de Sergio Endrigo. Essa não foi a primeira vez que seu nome esteve ligado ao evento: ele já havia se recusado, em cima da hora, a participar no ano anterior porque pensou que estava sendo enganado. Voltaria em 1972 para cantar Un gatto nel blue, de Totó Sávio, que não se classificou.


• O mecânico vira músico


Roberto Carlos formou sua própria banda batizada com suas iniciais. Os primeiros integrantes foram o baterista Dedé, que era jornaleiro, o baixista Bruno, um mecânico que consertou seu carro em plena avenida São João, e o tecladista Wanderley, que se apresentou como guitarrista para conseguir a vaga. O maestro Eduardo Lages, substituto de Chiquinho Moraes, foi escolhido pelo critério Black & White (marca de uísque), segundo Luiz Carlos Miéle, co-diretor dos shows de Roberto. Foi Miéle que descobriu Lages numa boate de Ipanema.


• Quando agradece, xinga


Ao compor, Roberto evita certas palavras, usa a mesma cor de caneta, não faz setas nem rabiscos na página em que escreve. Chega sempre três horas antes do início de seus shows. Certa vez, foi quase detido em Miami porque parou na estrada para socorrer um sapo atropelado. Chegou também a transportar uma libélula machucada numa viagem de avião. Nunca cantou As rosas não falam, de Cartola, porque acha isso uma inverdade. Sempre que se curva para agradecer ao público, ele xinga baixinho, reza ou murmura coisas desconexas. Tem a mania de puxar para si o microfone desde o show no Canecão – o primeiro era da marca italiana Trimpine, de haste dobrável. Ele não gosta do número 13 e diz que todas as suas superstições nasceram na infância – o avô, um destemido cavaleiro, jamais vestia marrom, com medo de ser derrubado do cavalo.


• Rei sedutor


Além das três mulheres com as quais foi casado, Roberto sempre esteve bem acompanhado. Antes de Nice, ele namorou quatro anos Magda Fonseca, para quem compôs Não quero ver você triste e Quero que vá tudo pro inferno. Depois de Maria Rita, namorou Luciana Vendramini, atriz e modelo. Ambos sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).’



MEMÓRIA / JECE VALADÃO
IstoÉ


O adeus do cafajeste


‘Encarnação máxima no cinema da personalidade machista, o ator fluminense Jece Valadão morreu em São Paulo, na segunda-feira 27, aos 76 anos, em decorrência de doença renal. Em sua última década de vida, ele se tornou pastor evangélico e abdicou da figura pública do cafajeste que construíra quando isso lhe rendia mídia, admitindo que esse estilo e rótulo estavam fora de moda: ‘O machão é um tremendo antiquado. Os homens são assim por medo das mulheres que se tornam independentes.’ Na verdade, embora o mito do machão tenha marcado a sua carreira, Valadão era um ator versátil e acumulou diversos tipos em seu currículo – é o caso do personagem alegórico, mistura de índio, homem do povo e Cristo, presente em A idade da Terra (de Glauber Rocha), e do bicheiro da minissérie Filhos do carnaval (de Cao Hamburger), o seu último papel na televisão.


Mesmo assim, a fama de machista, construída em grandes interpretações como as que teve em Os cafajestes (de Ruy Guerra) e Boca de Ouro (de Nelson Pereira dos Santos), ficou-lhe colada. Inventor de si mesmo, ele se divertia na razão direta em que irritava uma parcela radical de feministas – as mesmas que criticaram até Chico Buarque quando ele compôs Mulheres de Atenas ao não entenderem que se tratava de uma crítica à submissão feminina. Uma das pérolas de Valadão: ‘Toda mulher gosta de apanhar do homem certo e na hora certa.’ Algo na linha de Humphrey Bogart quando dizia: ‘Toda mulher entende um tiro na testa.’ Bogart nunca matou ninguém, só se divertia com seus tipos. Valadão idem. Era só charme.’


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