Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo e memória da cidadania

O diploma de jornalista volta a ser obrigatório. Essa é a nova resolução dada pela juíza federal Alda Basto, do Tribunal Regional Federal de São Paulo, que suspende, assim, a sentença da juíza Carla Rister, da 16ª Vara Cível paulista, que tornava dispensável a obrigatoriedade do registro profissional obtido nos cursos superiores de Jornalismo. Com isso, os registros precários obtidos desde a liminar de Carla Rister, concedida há mais de um ano, deixam de valer.

Mais do que discutir sobre esta questiúncula jurídica, que hoje já não interessa tanto aos milhares de profissionais do jornalismo, o fundamental é refletir sobre a conduta ético-moral dos agentes da comunicação, que desempenham um papel fundamental na democratização da informação.

Em toda a história da humanidade passamos por várias mudanças. É evidente que as recentes transformações sociais provocaram irreversíveis alterações em nossos fazeres, principalmente no que diz respeito aos processos de criação e veiculação da comunicação e informação.

Entristeço-me quando pessoas pensam ser-me pequeno o sonho final: o de tornar-me um jornalista comprometido com a sociedade. É sonho imenso, talvez o mais sedutor de todos. Essa seria minha ambição desmedida, pretensão, anseio e aspiração.

Como diz o sociólogo português Boaventura de Souza Santos ‘só há uma saída: é preciso reinventar o futuro, abrir um novo horizonte de possibilidades’. Diz ele:

‘Penso que só há uma solução: a utopia. A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades humanas, por via da oposição da imaginação à necessidade do que existe, em nome de algo radicalmente melhor que a humanidade tem direito de desejar e porque merece a pena lutar’.

Inspirados nessa proposição, precisamos forjar atitudes que desenvolvam as bases novas para o implemento de uma mídia cidadã.

Crise institucional

É necessário que haja um direcionamento no sentido de que os profissionais e detentores dos meios de comunicação aperfeiçoem seu modo de pensar, a partir de uma consciência centrada em valores éticos, que abracem a construção da cidadania.

Escrevia assim, despreocupadamente, recordando de enfadonhos, porém importantes escritos acadêmicos, quando senti a obrigação de ilustrar este texto com a evocação de Barbosa Lima Sobrinho.

Jornalista por excelência, Barbosa Lima sempre defendeu a democracia: ‘Quero que alguém encontre nos artigos que escrevi uma só palavra que não tenha sido em defesa do Brasil’, discursou o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em 1997, quando completou 100 anos, referindo-se à profissão em que começou em 1912, aos 15 anos, em Pernambuco.

Com ele nós aprendemos a lastimar esses personagens cínicos, tão corruptos quantos nefastos, essas torturas morais, essas negações do Direito, que surgem na vida pública para serem expurgados da face da Terra.

Assim, para ser digno e justo, para empunhar o escudo da verdade e da razão, para isto homens como Barbosa Lima Sobrinho têm que dedicar a vida inteira nessa prática incansável do jornalismo, que assume, por vezes, o papel de memória da cidadania.

Orgulho do povo brasileiro, Barbosa Lima Sobrinho é um nome que figura na história democrática brasileira como luminar da inteligência e coerência. Jornalista, jurista, ensaísta, político e homem dotado de profunda cultura humanística e de grande amor pela humanidade. Dedicou-se à luta pela liberdade de expressão, pela democracia e pela soberania do país. Neste momento de crise institucional generalizada, ele faz grande falta ao Brasil. Aliás, estamos cada vez mais carentes de homens públicos de escrúpulos.

Ainda bem que ainda existem ‘Heloísas Helenas’ e ‘Jeffersons Peres’, dispostos a sacudir o seu conformismo e cutucar sua vergonha. Até quando, amigo (e)leitor?

******

Jornalista em Natal (RN)