Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Jornalismo em publicação densa

[do release da editora]

As comemorações dos 25 anos do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina foram o momento escolhido para o lançamento desta revista acadêmica. Demorou, mas saiu madura. O curso que aniversaria está consolidado como referência nacional no ensino da profissão. O Grupo de Pesquisa em Estudos de Jornalismo da UFSC, que articula a produção científica de seu corpo docente e está registrado no CNPq desde 2000, tem registrado o resultado de seu trabalho nas principais publicações – e eventos – do país, e consolidado o intercâmbio com pesquisadores e entidades acadêmicas de todo o Brasil e do exterior. O Programa de Pós-Graduação em Jornalismo e Mídia, desdobramento natural deste processo, chega à terceira turma da Especialização em Estudos de Jornalismo, e finaliza o projeto de criação de um mestrado que se diferenciará no panorama nacional e internacional pela especificidade de sua área de concentração: o jornalismo e seu meio de cultura, a mídia.

O número inaugural de Estudos em Jornalismo e Mídia homenageia o rádio, que no último ano tornou-se um meio octogenário em nosso país, embora em muitos aspectos mantenha a sua posição de vanguarda enquanto primeira mídia eletrônica.

Os textos das professoras Mágda Cunha, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e Nelia Del Bianco, da Universidade de Brasília, refletem sobre o papel e o desempenho do rádio no contexto digital. Os trabalhos de Valci Zuculoto, da Universidade Federal de Santa Catarina, e de Alda de Almeida, da Universidade Veiga de Almeida, ajudam a compreender a evolução do radiojornalismo e as suas potencialidades, desmistificando a idéia de que a informação no rádio é superficial ou inferior em qualidade em relação à dos outros meios. Mas o de Silvia Nogueira, do Museu Nacional, vem lembrar que a realização plena de suas possibilidades depende de fatores contextuais, como a chegada da liberdade de imprensa, um sonho civilizatório ainda distante de emissoras do interior do Brasil, como constatou em Sobrado, na Bahia. Mesmo assim, no interior, como nos grandes centros urbanos, o rádio se relaciona com seus receptores com uma intimidade ainda inimitável, como demonstram os relatórios das pesquisas realizadas com ouvintes pelas professoras Nair Prata, do Centro Universitário de Belo Horizonte, na capital mineira, e Celsina Favorito, da Universidade Federal do Paraná, em Pitangas.

Para ficar

Na seção de artigos, o professor catalão Lorenzo Gomis apresenta uma brilhante análise da relação dos jornalistas com as fontes, em texto até agora inédito em português, que recebeu cuidadosa tradução de Camille Reis.

Outro patriarca dos estudos em jornalismo, o professor-titular Nilson Lage, localiza a chegada da técnica do lead ao Brasil contando a história do Diário Carioca, em texto produzido em parceria com os jornalistas – seus ex-alunos na UFRJ – Tales Faria e Sérgio Rodrigues. E o chefe do Departamento de Jornalismo da UFSC, professor Francisco Karam, discute a necessidade de um ethos profissional específico, contestando a possibilidade de um jornalismo sem deontologia própria.

A entrevista deste primeiro número abre espaço para Mário Mesquita, um dos principais nomes da profissão e do ensino do jornalismo em Portugal. Ex-diretor e ex-provedor de leitores do Diário de Notícias de Lisboa, montou a Licenciatura em Jornalismo na Universidade de Coimbra; atual colunista do Público e professor da Universidade Lusófona, ele fala aqui sobre o jornalismo e sua formação em terra lusitana, e conta sua pesquisa sobre rituais midiáticos para o doutorado na Universidade Católica de Louvain-la-Nieve, na Bélgica.

Na seção de comentários, dois textos breves e raros de Adelmo Genro Filho, recuperados de velhas fotocópias utilizadas em suas aulas no Curso de Jornalismo da UFSC. ‘Sobre a necessidade de uma Teoria do Jornalismo’ e ‘Questões sobre Jornalismo e Ideologia’ foram publicados originalmente no jornal local A Razão, de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, na década de 80, e aqui ficam disponíveis para reflexão dos pesquisadores da área.

Em outros textos, o professor Orlando Tambosi aponta a ambígua relação do pensamento liberal com a televisão, e a professora Regina Carvalho refresca a memória sobre Ambrose Bierce, um dos mais importantes jornalistas americanos falecido há um século, imortalizado na literatura como El Gringo Viejo.

Estudos em Jornalismo e Mídia demorou, mas veio para ficar, a partir de agora com periodicidade semestral. O segundo número já se encontra em elaboração, e está aberto à colaboração de todos os pesquisadores da área. É de colaboração qualificada e da satisfação de seus leitores que a publicação pretende se alimentar.