‘Quando Gutenberg inventou a primeira máquina de imprimir, praticamente acabou com a liberdade de imprensa.’ Essa afirmação foi feita pelo jornalista Helio Fernandes na primeira página da coletânea de artigos (verdadeiros depoimentos) de Genival Rabelo, O capital estrangeiro na imprensa brasileira. Mas a afirmação, do indignado diretor da Tribuna da Imprensa, se referia mais às pressões de custo, sofridas pelos jornais, do que às contingências políticas. E é bom lembrar que vivíamos o ano de 1966, portanto em plena vigência da ditadura militar.
A esse tempo, no plano internacional, a internet já dava sinais de vida. Em agosto de 1962, J.C.R. Licklider, pesquisador do MIT (Massachussets Institute of Technology) discutia a ‘Rede Galáxica’ afirmando que as interações sociais seriam feitas por meio de redes formadas por computadores interconectados, permitindo acesso rápido a dados entre pessoas e instituições de qualquer lugar do planeta. Talvez estivesse nessa possibilidade o contraponto à afirmação do editor da Tribuna, ou seja, a destruição de um dos pilares do controle da liberdade de imprensa.
Pode pensar o leitor atento em relação a essa abertura: ‘Mas qual a relação entre Gutenberg, Licklider e Tognolli. Ou ainda, Hélio Fernandes, Genival Rabelo e Claudio Julio Tognolli’. Aparentemente nenhuma, até que cheguemos ao final dessa obra, que tenho o prazer de apresentar àqueles que se preocupam com a liberdade de imprensa.
Tognolli desvenda a sua forma de trabalho no jornalismo investigativo, gênero de que é um dos pioneiros no Brasil. A começar, mesmo sem afirmação explícita, o autor deixa claro que o compromisso com a sociedade é a equação máxima a ser resolvida pelo profissional de imprensa.
Quando toma de Leary a afirmação de que ‘a realidade não passa de uma opinião’, Tognolli aproxima-se de Rabelo, oferecendo àqueles que vão iniciar a leitura dessa obra a sua visão sobre a prática da liberdade de imprensa num mundo globalizado e globalizante. Tornar realidade a premonição de Licklider é um incentivo que está latente nos textos dessa obra.
Frase-síntese
Como Fernandes, Tognolli não esconde as suas versões dos fatos que fazem a cepa dos capítulos desse livro. Sem meias palavras e desvendando os atores dos fatos, o autor revela a opinião de muitos colegas a respeito da prática, ética e metodologia do jornalismo investigativo.
Tognolli é inquieto pessoalmente e seu livro revela essa ansiedade de viver o dia-a-dia mais que as 24 horas possíveis. Vai de sua paixão musical, o rock, à sua paixão profissional, o jornalismo de investigação, dando à segunda o ritmo frenético emprestado da primeira. Acredita na estatística, mas crê que o ponto de vista descompromissado com a quantificação tem a sua importância, porque entende que o jornalista deve desenvolver uma visão periférica tão aguçada quanto à visão central do fato. Prega um estímulo incessante ao entendimento da pauta e do acontecimento e recomenda a descoberta de todas as faces que constroem a matéria, mesmo que a edição não permita que todos os detalhes sejam expostos.
Esta é uma obra que vem da alma de seu autor, com quem tenho o prazer de dividir preocupações pedagógicas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. É um puro sangue Tognolli.
Busquei no texto uma frase que pudesse sintetizar o conteúdo e acredito que a epígrafe mais fiel para essa obra seria: ‘Redramatizando o mundo e desdramatizando o tempo, a mídia prossegue em seus ardis: afinal, the show must goes on‘
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Professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP