A linguagem escolhida foi a dos quadrinhos, o tema selecionado foi o movimento estudantil (ME). O resultado dessa fusão foi ‘Vanguarda: histórias do movimento estudantil da Bahia’, a primeira grande reportagem em quadrinhos produzida no Brasil, em formato tablóide, que será publicada como série de reportagens no jornal A Tarde, de Salvador, a partir do dia 06 de novembro. O material, com 30 páginas, foi confeccionado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos jornalistas baianos Leandro Silveira, Caio Coutinho e Fábio Franco, orientados pela professora Ana Spannemberg, defendido no final de junho deste ano e aprovado com nota dez pela banca examinadora do Centro Universitário da Bahia.
A reportagem conta através de imagens seqüenciais episódios importantes que marcaram a história do movimento estudantil baiano, entre 1942 e 2003, baseada nos depoimentos de pessoas que foram protagonistas de cada fato e contextualizada por especialistas, pesquisadores e historiadores do tema. ‘Existem algumas tentativas dispersas em alguns veículos brasileiros de se fazer jornalismo usando a linguagem dos quadrinhos, mas da forma que fizemos é a primeira vez no Brasil’, afirma Leandro Silveira.
Da II Guerra a ACM
Durante a pesquisa, conforme Silveira, os jornalistas descobriram que o movimento estudantil da Bahia saiu na frente, em relação ao resto do Brasil, em momentos importantes da vida política e social do país. ‘Muitas ações aconteciam primeiro em Salvador e só depois se espalhavam por outros estados. Mas nada disso havia sido divulgado anteriormente. Tentamos mostrar que o ME da Bahia foi sempre de vanguarda’, explica o jornalista.
A grande reportagem é dividida em quatro matérias: ‘Vamos à Guerra: Mocidade baiana exige entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial’, que relata a primeira manifestação de rua feita por estudantes brasileiros a favor da entrada do país na Segunda Guerra, ocorrida em março de 1942, em Salvador; ‘Do palco para as ruas: uma história de estudantes’, que conta a história da primeira greve de estudantes do Brasil após o Golpe Militar de 1964, que aconteceu em junho de 1966; ‘Reconstrução e Quebra-Quebra’, matéria que releva o que ocorreu no primeiro congresso da UNE após o AI-5, realizado na capital baiana em 1979 e que se tornaria o primeiro passo para a reconstrução da instituição; e ‘Estudantes do Novo Milênio’, que mostra a revolta dos estudantes soteropolitanos a favor da cassação do então senador Antônio Carlos Magalhães, que havia sido acusado de violar o painel eletrônico, em 2001.
Ajustes para versão eletrônica
De acordo com Caio Coutinho, do surgimento da idéia de fazer jornalismo em quadrinhos até a defesa do TCC foi mais de um ano de pesquisa sobre o tema, a linguagem dos quadrinhos e como utilizá-la no jornalismo, o que incluiu um curso de história em quadrinhos feito por ele e Leandro. ‘Tivemos muita dificuldade em encontrar referências bibliográficas sobre jornalismo em quadrinhos, visto que ainda é um assunto pouco difundido nas universidades brasileiras’, ressalta Coutinho. ‘Por isso, tivemos que criar nossas próprias técnicas para transformar todas as informações apuradas em roteiro para quadrinhos.’
Os jornalistas disseram ainda que até o final do ano a reportagem completa será disponibilizada através de um site que ainda está em construção. ‘Fizemos alguns ajustes para que os internautas possam visualizar com total qualidade todos os quadros, sem que se perca detalhe algum da versão impressa’, completou Fabio Franco. O roteiro foi ilustrado pelos desenhistas Franklin Mendes, Rodolfo Troll e Thiago Durães, e diagramado pelo designer José Roberto Almeida.
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Jornalista, Salvador, BA