Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Leitura obrigatória para o ministro

O lançamento do livro Pouso forçado – A história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo regime militar, do jornalista recém-formado Daniel Leb Sasaki, virou um acontecimento político em Campinas, onde ele mora. Apareceu de surpresa o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) que, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, estuda a crise permanente da aviação comercial. Em discurso de quase meia hora, ele informou que compraria dois livros, um para levar ao ministro da Defesa e vice-presidente, José Alencar, e outro ao comandante da Aeronáutica. ‘Quanto tomei conhecimento desse livro, fiquei muito interessado’, disse. ‘Essa pesquisa primorosa de Daniel Leb Sasaki vem prestar um serviço importante à nação: as pessoas precisam saber o que aconteceu à Panair do Brasil, e é preciso que o governo e as instituições aeronáuticas ajam com total transparência em relação às empresas aéreas.’

Para quem não acompanha: a Varig, que em 1965 assumiu as linhas legitimamente pertencentes à Panair do Brasil, após ato autoritário da ditadura militar – drama que Pouso forçado conta em minúcias –, vive hoje crise profunda. Teve prejuízo de quase R$ 800 milhões em 2005, vem demitindo pessoal, deve quase R$ 6 bilhões e pode ter até 40 aviões arrestados em dezembro, mas está protegida dos credores por um mecanismo legal chamado ‘processo de recuperação judicial’, até aqui pouco transparente e repleto de conflitos. Por ironia, a Gol anunciou-se ‘preparada’ para ocupar o espaço da antes poderosa concorrente.

Causa justa

Em e-mail à ‘Família Panair’, lista que reúne de ex-funcionários a gente apenas saudosa da querida companhia, Daniel conta que a Fnac-Campinas reservou ‘um espaço muito bom, uma espécie de palco com microfone e telão, onde foram projetadas as fotografias do livro’. Suplicy, depois de dispersar a fila de autógrafos, parou o movimento da loja ao discursar. ‘Foi longamente aplaudido’, conta Daniel. Em seu agradecimento, o autor disse: ‘Esse livro é um apelo para que as pessoas saibam que existiu, neste país, uma grande empresa chamada Panair do Brasil e que, embora se fale muito da repressão política na ditadura, das torturas e prisões, houve também perseguições a pessoas jurídicas. Tendo sido a empresa fechada a toque de caixa pelos militares, 5 mil famílias foram atiradas ao desespero e aguardam até hoje por justiça.’

Pouso forçado é o resultado de pesquisa que o recém-formado Daniel, 22 anos, iniciou no curso de Jornalismo da Unicamp [ver remissão abaixo]. O drama da Panair completou 40 anos em 10 de fevereiro. Uma pena nossa imprensa não ter percebido as muitas relações do caso com a atual crise da aviação civil, menos ainda com a aprovação, no mesmo mês, da Lei de Falências – que, por outra ironia, poderia ter ajudado a Panair naquela época, e agora socorre a Varig.

Como diz Daniel no fim de sua mensagem, ‘que as asas da Panair do Brasil e a causa justa da Família Panair chamem a atenção do povo e dos dirigentes deste país’.