2005, Ano Ibero-Americano da Leitura. Aqui no Brasil, foi criado um nome para abrigar atividades e eventos relacionados: ‘Vivaleitura‘. Ações prometidas: a edição do Plano Nacional do Livro, Leitura e Bibliotecas, regulamentação da Lei do Livro, campanha nacional de incentivo à leitura, congressos, simpósios, feiras, capacitação de agentes de leitura, enfim, um esforço de vivificação da leitura por parte do nosso ministério da Cultura, com a ajuda da OEI (Organização dos Estados Iberoamericanos), do Cerlalc (Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caribe) e da Unesco.
Como sempre, louvemos toda e qualquer iniciativa de incentivo aos leitores, aos escritores, aos editores, aos bibliotecários, aos professores, lembrando, porém, que uma campanha, por mais organizada que esteja, é incapaz de vencer, da noite para o dia, carências seculares!
Para que a leitura sobreviva e viva depois da campanha, cabe fazer da campanha uma eterna preocupação. Uma viva preocupação, que se traduza em acompanhamento real daqueles que experimentarem o gostinho do papel impresso.
Um país se faz com livros, com leitores, e leitores que tenham capacidade de viver da leitura, mesmo depois que a campanha terminar. O sucesso desta campanha será fazer do livro uma verdadeira companhia para todos nós!
Como evitar que vejamos mais uma campanha de verão, apoiada por todos os homens de boa vontade mas desde o princípio ferida pela sensação de que tudo, afinal, terminará numa quarta-feira de cinzas?
Leiturose, leiturite
O carnaval da leitura não pode se limitar ao ano de 2005. E, para isso, a única solução que consigo enxergar está, mais do que na multiplicação dos decretos e das discussões (ainda que sejam bem-vindos todos eles), na formação de líderes da leitura, pessoas ‘fanatizadas’ pelo livro, viciadas em leitura, pessoas que independam de campanhas e promessas, de fóruns ou sites, e que durmam com livros, comam livros, vistam-se de livros!
Este bom fanatismo pega-se no ar. O ar sai dos pulmões de outros fanáticos da leitura, carregado de microorganismos legentes. O desavisado pega a gripe da leitura, sente a febre aumentar toda vez que passa perto de uma biblioteca, de uma livraria ou de um sebo.
Contaminados pela leiturose, pela leiturite, pela leitura compulsiva e sem moderação, certamente não resolveremos nenhum problema imediato. A leitura – publicarei este ano um livro chamado Elogio da leitura – costuma preferir problemas profundos, gestados durante muito tempo, e que somente ao longo do tempo tornam-se compreensíveis e superáveis.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)