Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Livro comemora 92 anos do jornal

Este livro foi escrito com os cotovelos presos à mesa, luvas de silicone e na companhia dos ácaros. Deles nos protegemos com máscaras cirúrgicas – adotadas antes mesmo de o surto da gripe A (H1N1) deixar meio mundo com cara de espanto em 2009.

Graças a esse equipamento de bordo, vencemos a leitura de 90 anos de Gazeta do Povo, partindo de 3 de fevereiro de 1919, navegando pelo século 20, até chegar ao novo milênio, o ponto em que estamos. Foi o livro mais longo do resto de nossas vidas: são 1.735 volumes encadernados, somando mais ou menos 173 metros de comprimento. Comparando, dá quase duas quadras formadas por páginas e páginas que não ultrapassam 0,08 milímetros de espessura cada uma.

Mais. Cada encadernação mede 52 cm x 29,7 cm – um tamanho que não se encaixa nos sovacos –, pesa pelo menos cinco quilos e reúne entre 15 e 30 dias de publicações diárias: nas informações do lombo se fica sabendo se estamos em julho de 1946 ou outubro de 1987. Passe de mágica. Basta folhear – com a paciência de um tibetano, para não rasgar – e ficar sabendo qual era o carro da moda no ano em que nossos pais se casaram e a quantas andava o mundo quando ainda éramos garotos do ginásio.

Por essas e outras, os autores recomendam: ler jornais velhos faz bem à saúde. Foi o que fizemos, descobrindo de que maneira a nonagenária Gazeta do Povo observou a política, a economia e a buraqueira da cidade em que foi fundada – Curitiba – e do estado cujos interesses, desde o início, se viu fadada a defender.

Ordem no dia e ordem do mundo

O resultado da empreitada está nestas 200 e tantas páginas em que relatamos – numa pequena reportagem – o misto de comédia e tragédia que assalta a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus presa atrás da porta, sem folga.

Cá entre nós, a totalidade dessas impressões soa um bocado estranha.Não se pode chamá-la de um livro de história. Nem de uma tese. Pois é. Na falta de uma definição melhor, decidimos batizá-lo de um livro de viagem – e viagens de um dia a cada vez. É disso afinal de que se ocupam os jornais. Todo dia tem manchete, a melhor foto, uma causa pela qual bater à mesa, um anônimo e um célebre a dizer o que pensam.

Tantas variedades impressas em papel barato, décadas a fio, fazem um eco danado – dos quintais até muito além dos Campos Gerais. Ao tentar botar ordem no dia, jornais mexem com a ordem do mundo. Foi o que tentamos provar.

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O jornal como personagem

[do material de divulgação]

O livro Todo dia nunca é igual, dos jornalistas José Carlos Fernandes e Márcio Renato dos Santos, com projeto gráfico de Lúcio Barbeiro foi lançado na quinta-feira (17/2) para comemorar os 92 anos da Gazeta do Povo. A obra traz uma leitura de Curitiba e do Paraná a partir das páginas do jornal no decorrer de nove décadas. É uma grande crônica, mostrando como o jornal esteve inserido na sociedade ao longo dos anos.

Trata-se de uma grande reportagem: é como se os autores entrevistassem a Gazeta do Povo. ‘O jornal é o personagem. A ideia foi mostrar como o jornal pode revelar o espírito da cidade, como o jornal conseguiu mudar o olhar dos curitibanos e como foi importante para o crescimento de Curitiba e do Paraná’, destaca Fernandes.

Para entender a Gazeta do Povo, suas origens e sua virada na década de 60, os autores fizeram a leitura de todas as edições do periódico, processo que durou cerca de um ano. Márcio dos Santos ressalta que a obra não é um livro de história. O livro revela uma Gazeta que poucos conhecem, mostra a trajetória do Paraná junto com a Gazeta do Povo, com o registro de fatos pitorescos e curiosos.

O livro Todo dia nunca é igual não será comercializado. A distribuição será gratuita e dirigida. Além disso, será realizada uma ação para assinantes da Gazeta do Povo. Uma versão do livro para o iPad também estará disponível para download na Apple Store.

Sobre os autores

José Carlos Fernandes, graduado em Filosofia, Belas Artes e Jornalismo. Trabalha na Gazeta do Povo desde 1989. Faz doutorado em Estudos Literários. Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Marcio Renato dos Santos, 36 anos, é jornalista, mestre em Estudos Literários pela UFPR, com dissertação sobre a obra do escritor Newton Sampaio. Trabalhou no projeto ‘Brasil diferente’, da Imprensa Oficial do Paraná, na gestão Miguel Sanches Neto, entre 1999 e 2002, quando foram editadas mais de 100 obras. Santos é autor do livro de contos Minda-Au, publicado pela Editora Record. Está na Gazeta do Povo desde 2007.

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