A Intercom e a ECA-USP estão lançando o livro Ensino da comunicação: qualidade na formação acadêmico-profissional, resultante do I Endecom – Fórum Nacional em Defesa da Qualidade do Ensino de Comunicação, realizado em São Paulo em 2006, numa parceria entre a Intercom e a ECA-USP. O evento do I Endecom, centrado no tema ‘Ensino de qualidade para todos: a batalha do novo século’, integrou a comemoração dos 40 anos de fundação da ECA-USP (1966-2006) e o lançamento do livro ocorre no ensejo da comemoração dos 30 anos da Intercom (1977-2007).
A obra teve o patrocínio da Arco – Associação de Apoio à Arte e à Comunicação, podendo ser requisitada através dos e-mails arco_central@yahoo.com.br ou intercom@usp.br. Organizada por Margarida M. Krohling Kunsch, ela se divide em três partes: qualidade no ensino superior; mercado de trabalho de comunicação; padrões de qualidade para o ensino de comunicação. Em 216 páginas, se reproduzem as contribuições trazidas para as sessões plenárias pelos seguintes autores, aqui mencionados em ordem alfabética: Claudia Moura, Eduardo Meditsch, Eugênio Bucci, Eunice Durham, Ivone Oliveira, Jaime Giolo, João Winck, Joaquim Valverde, José Schiavoni, José Marques de Melo, Margarida Kunsch e Neusa Gomes.
Luis Augusto Milanesi, diretor da ECA-USP, salienta na apresentação que, associando-se a um evento como o Endecom, ‘a USP procura manter o seu papel na liderança dos debates sobre a formação dos profissionais necessários à sociedade brasileira’. Com a integração das duas entidades, ‘a nossa ação é mais intensa e extensa’, assegura, salientando: ‘Continuaremos firmes, parceiros, na tarefa de formar profissionais com qualidade e desenvolver pesquisas para entender a comunicação neste terceiro milênio.’ Fazendo eco a Milanesi, José Marques de Melo, presidente da Intercom, também pontua, no prefácio, que, com o evento-matriz (2006) e a publicação do livro (2007), a Intercom e a ECA-USP fortalecem ‘uma parceria histórica, mutuamente significativa’.
II Endecom
Para Melo, com esse evento, a Intercom ‘retorna à arena do debate pedagógico, retomando uma linha de ação que foi sua marca registrada nos primeiros tempos’. Diz ainda que ‘a ênfase atribuída à pesquisa, em anos recentes, distanciou a entidade da problemática educacional, sendo oportuna essa correção de rota que agora se faz, tendo em vista a relação umbilical do ensino e da pesquisa no claustro universitário’.
Assim, a intenção do evento e da obra, segundo Melo, é simples e objetiva: ‘Recolocar a questão da qualidade do ensino na agenda pública, conscientes de que o marasmo ascendente pode ser neutralizado pelo debate responsável e inteligente.’ E conclui: ‘Nossa esperança é revisar os paradigmas hegemônicos, aperfeiçoando os processos de formação de novos profissionais para as indústrias midiáticas e contribuindo para a melhoria dos conteúdos que elas veiculam cotidianamente.’
Que a Intercom está disposta a reassumir conscientemente esse compromisso o comprova o fato de que ela acabou de realizar em Sorocaba (SP), no mês de abril último, a segunda edição do Endecom, em parceria com a Universidade de Sorocaba (Uniso), em torno do tema ‘Ensino de comunicação no século XXI: a batalha para integrar a graduação e a pós’. As principais contribuições trazidas para esse evento serão divulgadas em outra obra, já em preparação.
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Introdução
Margarida Maria Krohling Kunsch (*)
Este livro, Ensino da comunicação: qualidade na formação acadêmico-profissional, é resultante do I Endecom – Fórum Nacional em Defesa da Qualidade do Ensino de Comunicação, promovido e realizado, em parceria, pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e pela Escola de Comunicações Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), entre os dias 11 e 13 de maio de 2006, em São Paulo, tendo como tema central ‘Ensino de qualidade para todos: a batalha do novo século’.
Os trabalhos aqui reproduzidos constituem algumas das principais contribuições trazidas para as sessões plenárias – concretamente aquelas de palestrantes que nos atenderam com o fornecimento de textos escritos para publicação. Estes foram distribuídos em três partes, seguindo o programa do evento: I. Qualidade no ensino superior: desafios, estratégias e avaliação; II. Mercado de trabalho de comunicação: profissionais demandados por empresas, órgãos públicos e pelo setor terciário; III. Padrões de qualidade para o ensino de comunicação: diretrizes oficiais e propostas da comunidade acadêmica.
Qualidade no ensino
Na primeira parte, Eunice Durham, ao tratar da ‘qualidade no ensino superior’, chama a atenção para dois aspectos fundamentais quando se debate essa temática. O primeiro refere-se à necessidade de se levarem em consideração as deficiências da formação anterior dos que ingressam no ensino universitário, que apontam para um problema muito sério no tocante ao ensino fundamental e médio do país. O segundo aspecto diz respeito ao modelo único de avaliação que vem sendo aplicado nas instituições de ensino superior sem se considerarem as diferenças e particularidades em vários sentidos. José Marques de Melo destaca o papel pioneiro da Intercom e da ECA-USP na ‘batalha da qualidade no ensino de comunicação’ e apresenta as principais razões que motivaram a realização deste fórum na atualidade. Claudia Moura registra os indicadores brasileiros relativos aos ‘padrões de qualidade no ensino de comunicação no Brasil’ e descreve a trajetória da luta nesse sentido, que envolveu todo um movimento nacional na geração de documentos norteadores para os cursos de comunicação social. Jaime Giolo encerra a primeira parte discorrendo sobre ‘os desafios da avaliação’ do ensino de comunicação no contexto brasileiro, neste início do século 21, em função do que faz uma análise das iniciativas já levadas a efeito ou em curso no Ministério da Educação.
Perspectivas e desafios
A segunda parte tem início com algumas reflexões de Margarida M. Krohling Kunsch sobre ‘perspectivas e desafios para as profissões de comunicação no terceiro milênio’. As escolas devem atentar para o contexto em que se dá a formação, com todo um elenco de novas exigências que se colocam diante dos egressos dos cursos de comunicação social no desempenho de suas funções, numa sociedade cada vez mais complexa. Em ‘demandas da empresa pública’, Eugênio Bucci aborda ‘o jornalismo como ferramenta de atendimento do direito à informação’. Descrevendo as inúmeras possibilidades de atuação dos profissionais de comunicação social na administração pública, ele destaca a necessidade de formação de jornalistas para trabalhar nesse setor. José Luís Schiavoni fecha a segunda parte, mostrando a ‘comunicação corporativa como profissão do futuro’, que tem na multidisciplinaridade a marca distintiva em um mercado dinâmico, fazendo-se necessário repensar a formação dos profissionais que atuam nas agências de comunicação e nos departamentos de comunicação de empresas, governos e instituições.
Matriz para projeto pedagógico
A terceira parte trata das diretrizes oficiais relativas a padrões de qualidade para o ensino de comunicação, além de trazer propostas de professores das várias habilitações da comunicação social. Eduardo Meditsch, historiando as lutas pela ‘qualidade do ensino na perspectiva do jornalismo, dos anos 1980 ao início do novo século’, destaca a articulação entre as entidades de classe e acadêmicas neste período, em torno de posições comuns, embasadas na identidade profissional, e conclui com a crítica da área à avaliação proposta pelo Sinaes, que embasa a proposta de uma certificação autônoma. Ivone de Lourdes Oliveira, discorrendo sobre ‘uma perspectiva contemporânea’ para a ‘formação acadêmico-profissional em relações públicas’, salienta que a qualidade do ensino nessa área passa por compreender o campo da comunicação social e particularmente da comunicação organizacional, locus de atuação do comunicador/relações-públicas. Ela sublinha a necessidade de se levarem em conta os contextos da sociedade contemporânea quando se trata de todas essas questões. ‘Pensando o ensino da publicidade’, Neusa Demartini Gomes discute ‘contribuições da academia e do mercado para uma melhor sintonia’, apresentando reflexões oriundas de pesquisas realizadas em diversas fontes, que contemplam os estudos na área, e trazendo algumas conclusões que podem abrir espaço para discussões e estudos. João Baptista Winck faz ‘reflexões sobre a pesquisa e o ensino da comunicação audiovisual’, discutindo a formação acadêmica do produtor de televisão. Constatando que as relações da academia com a cadeia produtiva ainda são problemáticas para a formação de uma sólida comunidade científica no campo do audiovisual, o autor aponta algumas linhas gerais de um projeto pedagógico voltado para a comunicação interativa. Joaquim Valverde, no último texto da terceira parte, ao tratar de ‘uma matriz para projeto pedagógico de curso superior’ de ‘editoração multimídia’, reflete inicialmente sobre alguns aspectos do ensino de comunicação social no Brasil para, em seguida, apresentar uma proposta para a habilitação em editoração e a especialização na criação de conteúdos para veiculação pela mídia digital.
Competência, responsabilidade e compromisso
Aos textos reproduzidos nesta coletânea se somam os que foram apresentados nas mesas temáticas do Endecom 2006, disponíveis na versão eletrônica dos anais do evento e no portal www.intercom.org.br. Todas essas contribuições sinalizam que a iniciativa da Intercom e da ECA-USP de retomar a discussão nacional da qualidade do ensino da comunicação social foi uma decisão acertada e necessária. A socialização do conjunto de toda essa produção gerada no I Endecom e, particularmente, dos textos desta obra muito contribuirá para fomentar o debate de uma questão tão crucial como a busca excelência na formação dos profissionais oriundos das escolas ou faculdades de comunicação social.
Esperamos que este livro esteja na agenda das discussões das inúmeras comissões de professores que, em todo o território nacional, se vêem envolvidos com a produção de novos projetos pedagógicos para as diferentes habilitações do curso de comunicação social das instituições de ensino superior. Que ele possa contribuir para que todos os atores do campo comunicacional brasileiro reflitam sobre o seu verdadeiro papel e ocupem seus espaços com competência, responsabilidade pública e compromisso com as transformações sociais de que tanto o país tanto necessita.
(*) Professora-titular da ECA-USP, coordenadora acadêmica do I Endecom – Fórum Nacional em Defesa da Qualidade do Ensino de Comunicação
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Jornalista