Façamos como a Petrobras. Façamos blogs, demos respostas. Mas façamos também as perguntas, pois a mídia anda esquecida, há muito tempo, de noticiar autores e livros. A surpresa com a divulgação das perguntas e respostas no sítio da Petrobras só encontra explicação em Sigmund Freud. Assim, a mídia não poderá ocultar o que perguntou e o que foi publicado das respostas que lhe foram dadas. Onde está o erro da Petrobras?
Parece que no Brasil só vale noticiar o que nos envergonha. Noticiemos o que nos envergonha, mas não nos esqueçamos do que nos engrandece. A literatura brasileira, por exemplo, é considerada uma das quatro mais criativas do mundo. E não por brasileiros. Por um estudioso espanhol! Provavelmente, nossos livros só passam a existir no mundo quando traduzidos, pois a língua portuguesa é ainda um dialeto na galáxia Gutenberg. No exterior, os que estão lendo Machado de Assis somente agora exclamam: ‘Vocês tinham um autor tão moderno e não diziam nada dele!’
E, com suas habituais exclusões, a mídia está ignorando a maior feira de livros do interior do Brasil, a Feira do Livro de Ribeirão Preto, que este ano está completando nove edições. Começou dia 18 deste junho e vai até o dia 28. É uma das boas heranças da gestão do ex-ministro e atual deputado federal Antonio Palocci quando prefeito daquele município, que depois dele tem um Instituto Municipal do Livro e a Feira do Livro.
Um nome sobressaiu desde o começo na organização. Foi o do escritor Galeno Amorim, nomeado secretário da Cultura na primeira gestão de Palocci como prefeito. A equipe plantou pequena semente que resultou em árvore frondosa e vem dando sombra e frutos há vários anos.
Mais de 300 mil visitantes
O escritor polonês Czeslaw Milosz, Prêmio Nobel de Literatura, diz no poema Anelo: Desejo Ardente: ‘Não quero ser um deus ou um herói, apenas tornar-me uma árvore, crescer um longo tempo, e não ferir ninguém.’ Esta é uma boa epígrafe para essa Feira, que chega agora a nove edições!
Como no Brasil poucas iniciativas se consolidam – é só dar uma olhada na história dos jornais, revistas e periódicos brasileiros –, saudemos um evento que se consolidou! É uma pena, mas são poucas as administrações municipais que valorizam autores e livros.
Um dos participantes desta 9ª edição da Feira será Giovanni Ricciardi, que já foi premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) por seu trabalho de estudo e divulgação da literatura brasileira no exterior.
Giovanni Ricciardi, morando atualmente em Roma e lecionando em Nápoles, ao chegar foi logo dizendo: ‘Que grande é a Feira! Maior no Brasil só mesmo a de Porto Alegre!’ Ainda na década de 1980, ele começou na Itália uma pesquisa em que fazia um trabalho sociológico e literário. Seus livros sobre o tema, publicados no Brasil, não vêm tendo a divulgação e a atenção que merecem.
Ano passado, a Feira recebeu cerca de 300 mil visitantes. Este ano, com 100 autores confirmados, 71 estandes de editoras, 25 shows e uma coleção inumerável de encontros no Salão de Idéias, provavelmente este número será ainda maior.
Todos os anos a Feira homenageia um país. Este ano foi a vez do Chile.
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Escritor, doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá, onde é coordenador de Letras e de teleaulas de Língua Portuguesa; seus livros mais recentes são o romance Goethe e Barrabás e A Língua Nossa de Cada Dia (ambos da Editora Novo Século)