O projeto Brasiliana Eletrônica foi formulado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com a finalidade de oferecer num portal da internet a íntegra dos livros que compõem a Coleção Brasiliana, lançada pela Companhia Editora Nacional em 1931, logo após, portanto, a Revolução de 1930 e criação do Ministério da Educação, numa conjuntura de grande efervescência e retomada da reflexão sobre a sociedade e a cultura brasileiras.
A coleção, dirigida pelo grande educador Fernando de Azevedo e depois pelo historiador Américo Jacobina Lacombe, foi um dos maiores projetos editoriais brasileiros de todos os tempos, tendo publicado um total de 415 volumes, sendo os 200 primeiros até 1940, o que demonstra o enorme sucesso alcançado pela iniciativa.
Os textos que integram a coleção, sempre com foco no Brasil, são assinados por grandes autores, e eram, na época, edições originais ou reedições de obras clássicas. Eles abordam a economia, a história, a sociologia, a antropologia, a geografia, e diferentes ramos das ciências naturais, como a botânica, a zoologia, a geologia etc., além de incluírem muitos dos mais valiosos relatos de viajantes estrangeiros que visitaram nossa terra desde o século 16.
No pensamento político, destacam-se na galeria de autores os nomes de Oliveira Viana, Alberto Torres, Vicente Licínio Cardoso, Azevedo Amaral e Manoel Bonfim. Na antropologia e na sociologia, Gilberto Freyre, Afrânio Peixoto, Nina Rodrigues, Artur Ramos, Roquette-Pinto, Donald Pierson, Câmara Cascudo, Josué de Castro, Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso. Entre os viajantes, Saint-Hilaire, Louis Agassiz, príncipe Maximiliano, Von Martius e Spix, Gabriel Soares de Souza e Fernão Cardim. Como se vê, é um elenco dos mais representativos da cultura brasileira.
Textos normalizados e de ortografia atualizada
A expressão brasiliana, hoje, é substantivo comum, e designa, segundo o Novo Dicionário Aurélio, ‘coleção de livros, publicações, estudos, acerca do Brasil’, como é o caso da biblioteca reunida por José Mindlin. Mas o nome foi cunhado por esta coleção da Companhia Editora Nacional, que abriu caminho para uma série de empreendimentos similares dedicados aos estudos brasileiros por outras editoras, como a José Olympio, a Itatiaia e a Civilização Brasileira.
Com o apoio do Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação à Distância, e graças à inestimável parceria com a Companhia Editora Nacional, a UFRJ transformou o projeto em realidade, colocando no ar o site www.brasiliana.com.br, onde estão disponíveis, na primeira etapa do trabalho, 80 obras desse riquíssimo acervo.
No portal Brasiliana Eletrônica, esses livros são oferecidos ao público de dupla forma – como fac-símiles da primeira edição, para serem analisados na feição como vieram à luz, e como textos normalizados e de ortografia atualizada. Estes últimos podem ser editados, selecionados, transcritos e transpostos (‘recortados, copiados e colados’), respeitadas as regras de citação, para estudos, textos, pesquisas e trabalhos escolares e acadêmicos, que só fazem crescer no país e muito se beneficiarão da iniciativa.
Apresentação de estudos críticos
Nunca é demais lembrar que inúmeros dos títulos disponibilizados não são encontrados hoje senão em coleções de obras raras de algumas bibliotecas, muitas vezes inacessíveis aos interessados, pelo estado precário de conservação. Outras obras, apesar de seu enorme valor, foram condenadas a um lamentável esquecimento, em virtude mesmo da dificuldade de acesso ou, o que é tão ou igualmente grave, do simples desconhecimento.
Uma circunstância a considerar é que a escolha de autores e títulos levada a efeito pelos promotores originais da coleção, refletia, como não podia deixar de ser, as inclinações político-culturais e o estado do conhecimento naquele momento dado.
Os livros foram integralmente digitalizados e submetidos a um programa de reconhecimento ótico de caracteres (OCR). Uma minuciosa atualização ortográfica foi então aplicada, o que requereu esforço e dedicação consideráveis, dado que boa parte dos textos apareceu na coleção em período anterior à reforma ortográfica de 1943. O trabalho de normalização foi de igual vulto, já que era um princípio praticamente inexistente à época da publicação original. Preservou-se, contudo, a grafia de certos elementos, para reter o sabor da época.
Inclui o projeto a apresentação de estudos críticos sobre as principais obras da coleção, bem como de biografias intelectuais de seus autores, encomendados a especialistas acadêmicos. A escolha dos nomes que assinarão esses trabalhos caberá ao Comitê Editorial, integrado por cinco destacados docentes da UFRJ. Numa segunda etapa, serão incorporados à Brasiliana Eletrônica outros títulos clássicos de alta relevância, dignos de integrar a coleção.
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Historiador, editor-chefe do projeto Brasiliana Eletrônica. criador e coordenador do Dicionário histórico-biográfico brasileiro, do CPDOC da FGV