[do release de divulgação]
Este livro é o primeiro volume de uma ampla pesquisa feita pela equipe do Projeto Integrado Arquivo do Estado/USP, criado para inventariar a documentação do extinto Deops – Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (1924 a 1983), composta por cerca de 154 mil prontuários e 6.500 dossiês da Polícia Política do Estado de São Paulo. As próximas publicações da série são Panfletos Sediciosos, Charges proibidas, risos contidos e Minorias Rebeldes.
Durante três anos, os professores Boris Kossoy (titular do Departamento de Jornalismo e editoração da Escola de Comunicação e Artes da USP) e Maria Luiza Tucci Carneiro (livre-docente do Departamento de História da USP) coordenaram uma equipe de 26 pesquisadores no trabalho de reunir jornais de militância política confiscados entre 1924 e 1954 pelo DEOPS.
A obra revela como diferentes governantes brasileiros vigiaram e coibiram intensamente a livre circulação de idéias no país, com o objetivo de garantir a persistência do regime republicano enquanto forma de governar e construir sua própria versão da história. Ao mesmo tempo, partidos políticos, associações de classe e grupos étnicos se articulavam em defesa de seus ideais e projetos de vida.
A razão do confisco desses jornais – em grande parte clandestinos – era sempre a mesma: aos olhos das autoridades, eles ameaçava à ordem constituída e a segurança nacional. Tanto em períodos democráticos quanto autoritários, veículos comunistas (como A Classe Operária), anarquistas (A Lanterna), de classe (A Voz dos Alfaiates) ou aqueles expressivos da cultura política das comunidades imigrantes radicadas no Estado de São Paulo e que foram sistematicamente vigiadas pela Polícia Política, o DEOPS-SP.
A produção dos jornais revolucionários confiscados representa, segundo Boris Kossoy, a expressão das inquietações da sociedade brasileira: ‘Em qualquer época e lugar, imagem e texto cumprem o papel de doutrinação e sedução, função inerente à imprensa política.’ Outra curiosidade destacada pelo professor: pelo fato de circularem no submundo do impresso, estes jornais procuravam preservar a identidade dos seus colaboradores, obrigados a se manterem no anonimato.
Maria Luiza Tucci Carneiro enfatiza que ‘a apreensão de jornais dito perigosos e a sistemática prisão de seus editores, jornalistas e tipógrafos devem ser avaliadas como a formulação de uma resposta institucional à ameaça provocada por aqueles que atentavam contra a estabilidade das elites dominantes’. A historiadora lembra, ainda, que o jornalismo militante de esquerda proliferou no estado de São Paulo. Liderando este gênero de publicação, entre 1890 a 1920, por exemplo, funcionavam 149 títulos em São Paulo, sendo que 53 eram editados em língua estrangeira.
A forma como esses jornais eram distribuídos para romper as barreiras do controle policial também é explicada com detalhes. O operariado e as comunidades de imigrantes radicados no Brasil – principalmente em São Paulo – transformaram a imprensa em porta-voz de suas utopias, desencantos e carências. Um bom exemplo é o jornal anarquista O Trabalho, dirigido por Francisco Neves, fundado em 1º de maio de 1931.
Páginas dos jornais confiscados, seus editores, a forma de atuação da polícia política, os diferentes governos e os instrumentos de dominação para frustrar quaisquer possibilidades de alternativas de vida e opções ideológicas são temas analisados com seriedade pela obra.
O livro pode ser encontrado em livrarias e nos sites da Imprensa Oficial do Estado (www.imprensaoficial.com.br/livraria), Livraria Histórica do Arquivo do Estado (www.arquivoestado.sp.gov.br), e Atéliê Editorial www.atelie.com.br) e e-mail (atelie_editorial@uol.com.br).