Editado por Jon E. Lewis, o livro reúne 55 textos jornalísticos. O volume traz reportagens assinadas por Mark Twain, Jack London, John Reed, Dorothy Parker, Elliott V. Bell, John Dos Passos, John Steinbeck, George Orwell, Relman Morin, Merriman Smith, Norman Mailer, Hunter S. Thompson, Gore Vidal e Jon Krakauer e outros. A seguir, um trecho do volume.
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Kennedy assassinado
Merriman Smith # UPI, 23/11/1963
[O texto de Smith registrando o assassinato de JFK valeu-lhe um Prêmio Pulitzer em 1964]
Era uma tarde morna e ensolarada quando atravessamos de carro o centro de Dallas atrás do presidente Kennedy. O desfile passou pelo centro do distrito comercial e dobrou numa elegante auto-estrada que serpeava pelo que parecia ser um parque.
Eu ia no chamado carro do ‘grupo’ da imprensa, um veículo da empresa telefônica equipado com um rádio-telefone móvel. Sentava-me na frente, entre o motorista da empresa e Malcolm Kilduff, secretário de imprensa em exercício do presidente para a excursão no Texas. Três outros repórteres espremiam-se no banco de trás.
De repente, ouvimos três estalos altos. O primeiro soou como uma explosão. O segundo e o terceiro foram inequívocos. Arma de fogo. O carro do presidente, possivelmente 150 ou 200 metros à frente, pareceu falhar um instante. Vimos uma movimentação incomum no carro da escolta do serviço secreto, que ia atrás da limusine aberta do presidente.
Em seguida ia o carro do vice-presidente Lyndon B. Johnson. Atrás deste, outro carro de escolta levando agentes designados para a proteção do vice-presidente. Nós íamos atrás deste.
Nosso carro parou por provavelmente apenas alguns segundos, mas pareceu uma eternidade. A gente vê a história explodir diante dos próprios olhos e, mesmo para o observador mais treinado, há um limite do que se pode compreender.
Olhei o carro do presidente à frente, mas não pude vê-lo, nem a ele nem ao seu companheiro, o governador John Connally. Os dois viajavam no lado direito da limusine. Julguei ver um clarão rosa que seria a sra. Jacqueline Kennedy.
Todos em nosso carro se puseram a gritar ao motorista que chegasse mais perto do carro presidencial. Mas nesse momento vimos uma grande capota e uma motocicleta da escolta passar rugindo em alta velocidade.
Nós gritamos para o nosso motorista ‘vamos, corra, vamos, corra’. Contornamos o carro de Johnson e sua escolta e seguimos a auto-estrada, mal podendo continuar vendo o carro presidencial e o do serviço secreto que o acompanhava.
Eles desapareceram numa curva. Quando dobramos a mesma curva, vimos para onde iam – o Parkland Hospital. Saltamos do carro da imprensa e entramos no acesso do hospital.
Corri para o lado da limusine.
O presidente estava cabisbaixo no banco de trás. A sra. Kennedy fazia um berço com os braços em torno da cabeça do marido e curvava-se sobre ele como se lhe sussurrasse.
O governador Connally jazia de barriga para cima no chão do carro, a cabeça e os ombros apoiados nos braços da esposa, Nellie, sacudida por fortes soluços secos. Sangue saía do terno do governador. Eu não via o ferimento do presidente. Mas via sangue borrifado em todo o interior do banco de trás e manchas escuras a espalharem-se pelo lado direito do terno cinza-escuro do presidente.
Do telefone do carro, eu falara por rádio com o escritório da UPI em Dallas, dizendo que três tiros haviam sido disparados na carreata de Kennedy.
Clint Hill, o agente do serviço secreto encarregado da escolta designada para a sra. Kennedy, curvava-se para dentro do carro.
– Qual a gravidade do ferimento, Clint? – perguntei.
– Ele está morto – respondeu sucintamente Clint.