[do release da editora]
‘Trata-se de um relato de fatos, alguns inéditos, outros já conhecidos, mas cujos bastidores permaneciam desconhecidos’, escreve Reali Jr. na apresentação do seu livro de memórias Às margens do Sena.
Em depoimento a Gianni Carta, o leitor tem nessas páginas um amplo painel sobre quase meio século de atividade profissional daquele que se transformou em um dos mais conhecidos e respeitados jornalistas brasileiros, nos últimos 35 anos como correspondente em Paris no jornal O Estado de S.Paulo e da rádio Jovem Pan.
As recordações do repórter que começou aos 16 anos, segundo revela a carteira do Ministério do Trabalho de Reali Jr., vão aos poucos se alternando com o depoimento do biografado com os amigos, familiares e colegas de profissão, por vezes cotejando o mesmo acontecimento com diferentes pontos de vista. Às margens do Sena inaugura a parceria de Alberto Quartim de Moraes com a Ediouro, na condição de editor associado.
Campanha frustrada
Os bastidores de importantes momentos históricos internacionais e brasileiros das últimas décadas, como o golpe militar de 1964, a vida dos exilados na França e o hoje esquecido Relatório Saraiva – denúncia de corrupção no alto escalão da embaixada brasileira em Paris, quando chefiada por Delfim Neto, são algumas das histórias reunidas no livro.
São únicos os perfis de políticos como George Pompidou, Giscard D’Estaing, François Mitterrand, Jacques Chirac, Jânio Quadros, João Goulart, Leonel Brizola e Lula – e de jornalistas, entre eles o misterioso Alexandre Baumgarten, informante do SNI assassinado em 1982 como ‘queima de arquivo’ da comunidade de informação. Também se destacam no livro casos pitorescos, como o dilema de Paulo Maluf com uma espada de ouro doada pelo rei da Arábia Saudita; ou dramáticos, como a frustrada campanha ecológica pela proibição do asbesto (amianto), substância cancerígena ainda utilizada no Brasil na fabricação de telhas e caixas d´água destinadas à população de baixa renda.
Homens dispostos
Os relatos das experiências de Reali Jr. se traduzem em inestimável orientação a quem pretende seguir a carreira jornalística. Ele conta como é o dia-a-dia de um correspondente, as relações com os colegas de profissão do outro lado do Atlântico ou lado a lado nas entrevistas coletivas. E se hoje é uma tendência transformar a própria casa em escritório, ou melhor, em redação, essa prática ele utiliza há décadas. Estabeleceu-se em um país estrangeiro acompanhado da mulher e das quatro filhas. Um delas, a atriz Cristiana Reali fez uma carreira vitoriosa no teatro francês.
Ilustrado com fotos, Às margens do Sena ainda reserva muitas dicas dos melhores roteiros gastronômicos da Europa e, em particular, da França. Não é por acaso que o texto da ‘orelha’ do livro é assinada por um velho amigo e companheiro de jornadas turístico-gastronômicas por toda a Europa: Luis Fernando Veríssimo.
‘Homens dispostos a dizer o que acontece’ – Mino Carta, autor do prefácio, define nesta frase de Hannah Arendt o desempenho de Reali Jr. como jornalista.