Graças ao que já foi revelado pela mídia, pelo cinema e pela literatura, sabe-se melhor como funciona a cultura do narcotráfico nas favelas do que no asfalto. Na verdade sabia-se, até chegar Meu nome não é Johnny, de Guilherme Fiúza. Mais do que a saga de um mega-fornecedor de drogas do Rio nos anos 90, quando a cocaína caiu na ‘corrente sangüínea da cidade’, o livro é um mergulho profundo no submundo de uma geração que na virada dos anos 70/80 forneceu diversos talentos para as artes, os negócios e o esporte. E também muitos fregueses para o anti-herói da história, o jovem e bem nascido João Guilherme.
Os personagens do livro são reais e conhecidos. É uma fauna de gente fina: profissionais liberais, artistas de TV, músicos, jornalistas. Não é difícil encontrar aí quem estudou em bons colégios, freqüenta clubes chiques e fala línguas. A respeitável senhora é uma traficante em Copacabana. Aquele ali é um violinista clássico de ‘razoável sucesso profissional’. O viciado decadente que acabou de ‘cheirar’ seu carro já foi um psiquiatra de prestígio.
Principal provedor das altas rodas da sociedade carioca, João Guilherme fez uma carreira tão bem-sucedida que aos 33 anos estendeu sua rede até a Europa, onde podia viajar de Amsterdã a Milão com os bolsos cheios de cocaína, haxixe, LSD e dezenas de milhares de dólares.
O final da história não deve ser antecipado, assim como não deve ser tentada uma sinopse. Ela não dará conta da trama, que se desenvolve em meio a um mundo alucinante. Utilizando recursos ficcionais, o livro de Fiúza é um irresistível thriller sem ficção, num ritmo vertiginoso e por meio de uma linguagem feita preferencialmente de substantivo e verbo, sujeito e ação. Faça a experiência: comece a ler e tente parar.