Tornaram-se famosas as respostas do escritor Marcel Proust, ainda garoto, a um questionário que era moda, na sociedade francesa de então, usar para as pessoas se conhecerem. Tão famosas que a metonímia se fez, as respostas engoliram as perguntas, e o questionário passou a chamar-se Questionnaire de Proust.
E foram algumas dessas perguntas que Marcel Proust, fantasiado de jornalista, fez-me recentemente, num sonho:
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Principal traço de seu caráter?
– Gratidão, sobretudo aos poetas e escritores que me fizeram ver o mundo.
Qualidade que mais admira num homem?
– Saber escrever uma mentira para dizer maior verdade.
Qualidade que deseja encontrar numa mulher?
– Saber escrever um poema sobre almas gêmeas, que gemem.
O que mais aprecia em seus amigos?
– A paixão com que lêem e o carinho com que guardam livros.
Seu principal defeito?
– Trocar uma partida de futebol pela leitura de um livro.
Ocupação preferida?
– Ler, pensar e escrever.
Sonho de felicidade?
– Passar dias inteiros mergulhado em livros e poder conversar sobre livros com outras pessoas.
Qual seria sua maior infelicidade?
– A cegueira.
O que desejaria ser?
– Bibliotecário de uma biblioteca com todos os livros do mundo e completamente desconhecida.
Em que país gostaria de viver?
– No Brasil, se o Brasil fosse um país com mais livrarias do que farmácias, mais bibliotecas do que bingos, mais sebos do que casas lotéricas.
A cor de sua preferência?
A das capas dos livros.
A flor de que mais gosta?
Flor de poemas, uma antologia de Cecília Meireles.
O pássaro de que mais gosta?
O pássaro de cinco asas, de Dalton Trevisan.
Heróis na vida real?
– Todos aqueles que conseguem, não obstante mil e uma dificuldades, dedicarem tempo, dinheiro e inteligência à leitura.
O que detesta?
– O desprezo à leitura.
A reforma que considera necessária?
– Mais do que a reforma tributária, a universitária ou a trabalhista, desejo a reforma cultural, que daria a todos condições para criticarem melhor as propostas das reformas tributária, universitária, trabalhista etc.
O dom da natureza que gostaria de possuir?
– O dom de dormir pouco para ler mais.
Como gostaria de morrer?
– Afogado em letras.
Qual é o seu atual estado de espírito?
– Encantado com leituras sobre a formação ética e estética do professor.
Erros que mais lhe inspiram indulgência?
– Os erros de ortografia que pessoas com pouca leitura cometem.
Seu lema pessoal?
– Quem lê ganha tempo.
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Doutor em Educação pela USP e escritor