Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Momentos geniais de um economista

Eduardo Giannetti é um pensador fascinado pelo animal humano, este ser que carrega sonhos e temores, limites e potencial. Em seu livro mais recente – O valor do amanhã –, volta a refletir com radicalidade sobre a realidade humana, convidando o leitor a acompanhá-lo.

Sua escrita flui com elegância. Estilo coloquial culto. Tudo aquilo sobre o que decide dissertar ganha interesse, abrangência. E não só por conta das palavras bem escolhidas e dos exemplos felizes. Seu estilo nasce do talento somado ao estudo profícuo. Nota-se.

Toques de genialidade em seus livros, citações oportunas, clareza de raciocínio. Momentos que se acumulam, e dão a impressão geral, e real – a constante preocupação em atingir a postura equilibrada e acertar o alvo. Para esta precisão intelectual em seu texto contribuem o ceticismo escocês de David Hume, o bom senso de Montaigne, a ponderação britânica de Bertrand Russell e o espírito crítico de Nietzsche, quatro autores que Giannetti cita com evidente agrado.

Pitada de loucura

No caso do título recém-lançado, a idéia dos juros ultrapassa o mundo das finanças. Começar a fazer uma dieta, investir tempo nos estudos, agir em nome de preceitos religiosos, resolver ter um filho, e até mesmo pedir um empréstimo ao banco… tudo o que suponha agir no presente tendo em vista o futuro revela a realidade dos juros. Esta ‘sacada’ é o eixo em torno do qual o autor gerencia seus argumentos, depositando a esperança de aprofundar-se tanto quanto possível e cobrando de nós, leitores, não poupar esforços, não ser mesquinhos…

Giannetti resgata a lucidez, quer saldar uma velha dívida com a tradição do pensamento desfanatizado. Não por acaso, neste livro (pág. 122), cita uma frase de Montaigne, já em livro anterior (Auto-engano, pág. 148) mencionada: ‘A obstinação e a convicção exagerada são a prova mais evidente da estupidez’.

A pior crítica à obra de Giannetti seria atribuir-lhe qualquer tipo de superficialidade. Seu texto translúcido não nos autoriza a roubar do autor o mérito da reflexão filosófica.

Contudo (neste mundo nada é perfeito), parodiando a frase bíblica… ‘quem procura não acha’, permito-me uma observação. Falta ao livro de Giannetti um traço de genialidade. A ser conquistado? Aquela pitada de loucura que, às análises, acrescentasse caminhos existenciais para mudanças, ao modo de Ernst Fritz Schumacher, autor de Small is Beautiful e A Guide for the Perplexed.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br