Mesmo com um arsenal de leis anti-imprensa à disposição, o líder do Zimbábue, Robert Mugabe, ainda usa força bruta e ameaças de assassinato para silenciar a mídia independente do país. Uma lista de morte, preparada pela Organização Central de Inteligência de Mugabe, circula na internet. A lista, que apareceu pela primeira vez há oito anos, mantém os mesmos nomes – de jornalistas que se empenham em chamar a atenção do mundo para as atrocidades cometidas pelo regime de Mugabe.
Hoje, os ameaçados não entram mais em pânico; é sabido no país que o presidente quer eliminar os jornalistas independentes. A diferença é que, agora, as autoridades passaram a ameaçar as famílias destes jornalistas. ‘Apesar da maioria destes nomes viver na segurança do ciberespaço, seus familiares não terão tanta sorte’, diz a ameaça. Foi pelo absurdo dela que Wilf Mbanga, fundador e publisher do Zimbabwean, jornal de maior circulação do Zimbábue, decidiu abordar o assunto publicamente, em artigo divulgado inicialmente pela British Journalism Review e reproduzido pelo jornal britânico The Guardian [25/8/08].
Fúria
Desde o início do seu governo, Mugabe vê a mídia independente como inimiga. Em 1999, a criação do Daily News, primeiro jornal independente nacional, despertou sua fúria. Mugabe pediu então a prisão e tortura dos jornalistas Mark Chavunduka e Ray Choto. Ambos foram libertados posteriormente.
Em 2000, Mugabe perdeu o referendo constitucional e enfrentou a possibilidade de uma derrota eleitoral pelo partido recém-formado Movimento para Mudança Democrática (MDC), nas eleições do mesmo ano. A cada ano, sua atitude fica ainda mais dura em relação à mídia. Em 2003, ele tornou obrigatório que todos os jornalistas e organizações de mídia do país sejam registrados pela Comissão de Mídia e Informação (MIC).
O MIC já fechou – em apenas dois anos – cinco jornais independentes, incluindo o Daily News, também fundado por Mbanga. Diversos jornalistas foram ameaçados, presos, torturados; um cinegrafista foi morto. Mais repórteres foram presos nos últimos cinco anos do que durante as primeiras duas décadas de independência. Até agora, não houve uma única condenação.
Limite
A situação de repressão e censura, que parecia extrema na última década, piorou ainda mais este ano, com as eleições geral e presidencial – que, em um primeiro momento, levaram à derrota de Mugabe. O ato de 2003, da obrigatoriedade do registro, foi posto em prática para controlar a cobertura do pleito. Foram cobradas taxas exorbitantes pelo registro e poucas organizações de mídia estrangeiras puderam se credenciar; grandes companhias como Associated Press, CNN e BBC foram barradas pelas autoridades.
Dentro do Zimbábue, poucos veículos independentes ainda ousam criticar o presidente. O Zimbabwean se uniu a eles em 2005. Impresso no exterior e levado de caminhão da África do Sul, o jornal logo se tornou o mais vendido do país – em 2007, passou de 20 mil cópias para 100 mil. Nas semanas anteriores às eleições, o semanário chegou a publicar 200 mil exemplares. Em maio, um caminhão com 60 mil cópias foi incendiado; o motorista e seu assistente foram espancados. As edições continuaram a entrar no Zimbábue usando caminhões alugados e rotas diferentes. O governo, então, mudou a regra, passando a cobrar impostos abusivos. Com isso, o Zimbabwean não sabe até quando irá sobreviver. Ainda assim, Mbanga não tem medo. ‘Eu e meus colegas jornalistas optamos por usar as palavras contra as armas de Mugabe. Estamos preparados para enfrentar a repercussão a nossas ações. Alguns já pagaram o preço com o sacrifício final. Mas não meus filhos. É necessário, e urgente, que se trace um limite’.