Dos olhos que assombravam os poetas (e hipnotizavam as câmeras) à voz adulta que saía de uma grande cantora e mulher; dos pileques desesperados com as bebidas certas aos muitos amores com os homens errados; e das encrencas sem conta (que, às vezes, ela mesma provocava) às cruéis manchetes dos jornais, que não a deixavam em paz – que história, a de Maysa! Pois nada ficou de fora neste livro.
Eu disse nada. Nem mesmo um lenço usado, com o qual ela enxugava suas lágrimas, nem o batom com que, segundos depois, retocava a maquiagem, abria uma porta e saía à rua, decidida a dar a volta por cima. (E conseguia – por algum tempo.) Era como se, todo dia, a vida de Maysa recomeçasse do zero, no Rio ou em São Paulo, Lisboa, Nova York, Madri, Buenos Aires.
Prepare-se também para uma surpresa: ela era uma mulher resoluta, otimista e positiva, bem diferente da personagem de canções como Ouça (‘Hoje eu já cansei/ De pra você não ser ninguém…’), Meu mundo caiu (‘Você conseguiu/ E agora diz que tem pena de mim…’) ou Franqueza (‘Você passa por mim e não olha…)’, com que era sempre confundida.
Para escrever Maysa – Só numa multidão de amores, Lira Neto fez centenas de entrevistas e mergulhou num revelador legado (cartas, bilhetes e até um diário dos mais íntimos) deixado por Maysa. Seu livro narra a tremenda luta de uma mulher pela felicidade, armada com doses consideráveis de talento, beleza e coragem – mas vítima de inimigos invencíveis, como o preconceito, a ignorância e a fatalidade.
******
Jornalista