Enquanto livro acadêmico, orientado para a pesquisa científica, Mídia e política analisa e propõe a renovação de conceitos e metodologias da área de estudos da comunicação política. Categorias como neutralidade, objetividade e imparcialidade foram descartadas, já que os personagens desta história se movimentam em arenas de poder, estruturadas segundo interesses, cálculos e estratégias de ação, em mercados altamente competitivos. Neste universo, o discurso é usado como arma de ataque e defesa, e a opinião pública, acima de tudo, mercadoria de alto valor agregado. Amigos ou inimigos… – eis a questão.
O livro introduz um novo conceito para explicar a performance dos atores políticos tradicionais e sua relação com os meios de comunicação, que é o conceito de ‘adversarismo político’. Na minha concepção, as estratégias dos partidos, governos e candidatos, especialmente em eleições, sempre baseadas no adversarismo, abrem as portas da arena política para a livre atuação da mídia, que pode operar em condições especiais porque está protegida pela performance dos atores políticos. Eu assumo que a narrativa jornalística expressa as estratégias políticas e como tal pode vir a ser um perigo para a democracia. O conceito tem como suporte a teoria da poliarquia de Robert Dahl, por meio da qual o autor defende que a institucionalização do conflito é uma das dimensões fundamentais dos sistemas democráticos de governo, assim como nos insights de Carl Schmitt, em sua compreensão do conceito do político, especialmente o que avaliou como relação amigo-inimigo.
Base operacional
Além desta concepção teórico-analítica, o livro apresenta uma proposta para uma nova metodologia de pesquisa na área de comunicação e política. A metodologia ancora-se no conceito de lugares narrativos que se fundamentam na hipótese de que as estratégias narrativas da imprensa são construídas a partir do entrelaçamento do formato, que contém padrões de apresentação e ênfase, com o conteúdo, que contêm padrões de seleção e interpretação da informação, correlacionando as categorias ‘interdependência’, ‘complementaridade’, ‘persistência’, ‘temporalidade’ e ‘espacialidade’.
Cinco lugares narrativos são conceituados de modo a oferecer uma base operacional para a prática de pesquisa segunda a metodologia proposta: ‘primeira página’, ‘manchetes’, ‘fotografias, infográficos e legendas’, ‘editoriais e colunas assinadas’, ‘charges’.
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Doutora em Ciência Política pelo IUPERJ e professora da Universidade Federal de Goiás