Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo


VENEZUELA
Luiz Felipe Lampreia


Chávez – o começo do fim?


‘Os recentes destampatórios do coronel Hugo Chávez contra o Brasil e o Senado
da República talvez sejam mais do que grosserias de um homem desequilibrado.
Possivelmente são manifestações de um desespero incipiente com a antevisão do
fracasso como governante e como revolucionário. Vejamos alguns fatos.


O déficit orçamentário venezuelano atingiu 7,97 trilhões de bolívares, ou 3,7
bilhões de dólares, no primeiro trimestre de 2007, segundo anúncio do Banco
Central da Venezuela.


Esta escalada de 161% em relação ao déficit do primeiro trimestre de 2006
ocorreu malgrado um aumento da receita fiscal do petróleo.


O descalabro tem uma causa inescapável: a política de gastos governamentais
desenfreados no país e no exterior.


Resultado: a inflação venezuelana já chegou a uma taxa anualizada de 19,5% em
maio e vai subir rapidamente.


A PDVSA – estatal do petróleo -, que é fonte de toda a riqueza do Estado,
acha-se cada vez mais sobrecarregada e menos capaz dos pesados investimentos
necessários para manter e expandir a produção não só de petróleo, como também de
gás natural.


O coronel já eliminou quase todos os alicerces de uma democracia e está
fortemente empenhado em liquidar os últimos vestígios que restam na Venezuela.
Está agora apoplético com o apoio que a emissora RCTV recebeu dentro e fora do
país, após ser vítima de um fechamento digno da Alemanha dos anos 30. Em comício
de massa dia 2 de junho, Chávez atacou violentamente os apoiantes da RCTV e os
mandou ‘ao diabo’. Ora, estes apoiantes são pessoas e organizações respeitáveis,
como os estudantes universitários de Caracas e os cidadãos que davam um ibope de
40% à RCTV, para não falar dos não-venezuelanos. Pois bem, o coronel avisou que
melhor fariam se não fossem aos freqüentes comícios da oposição, pois ‘poderiam
machucar-se’. Para comprová-lo seus asseclas atacam fisicamente os
manifestantes. Vale recordar que Adolf Hitler também foi eleito originalmente
pelo povo e usou as instituições para instalar uma das mais negras ditaduras da
História moderna.


Até quando, nessas condições, será legítimo ignorar que existe no Mercosul e
no Grupo do Rio uma cláusula democrática e aceitar que o coronel de camisa
vermelha pretenda ditar as regras da convivência entre as nações da América do
Sul? É aceitável, por exemplo, admitir a Venezuela no Mercosul depois que o
próprio Chávez afirmou claramente que seu objetivo é destruir o Mercosul como
ele existe? Em qualquer clube do mundo, uma afirmação do gênero levaria a uma
chuva de bolas pretas contra o candidato a sócio.


Não é necessário ser um grande economista para perceber que o governo de
Chávez está transformando a Venezuela num enorme Titanic rumo ao iceberg, mesmo
sem a queda dos preços do petróleo, que um dia ocorrerá, inevitavelmente. As
perspectivas políticas e econômicas para 2007 já são instáveis, quanto mais as
dos próximos anos. Tensões se multiplicam à medida que a oposição se enrijece e
o coronel recrudesce. Na própria aliança que governa a Venezuela surgem divisões
patentes, com uma vertente ‘light’ que julga excessiva a radicalização em
marcha. As pressões inflacionárias se intensificam e, como aprendemos duramente
no Brasil antes do Plano Real, quem paga mais caro por este descontrole é o
povo. Ora, é este segmento da população que Chávez alega defender e que até
agora o sustenta politicamente.


O mais grave para o futuro da Venezuela é a profunda divisão que o coronel
introduziu na nação. Mesmo que seu consulado termine em breve, Chávez terá
marcado seu país com uma carga de ódio político e de divisão social que demorará
muito a cicatrizar. Este país amigo, cujo povo tanto se parece com o brasileiro
em muitos aspectos, está hoje emparedado num imenso fosso. Tardará muito até que
possa sair desta armadilha.


Com uma obsessão digna de Macbeth, Chávez vê em toda parte uma conspiração
para derrubá-lo. Os que o acompanham nos últimos anos dizem que sua paranóia se
acentuou muito desde a tentativa de golpe contra ele em 2002. Com isso o coronel
se isola cada vez mais internacionalmente e rompe as pontes com aliados
potenciais na região e no Ocidente em geral. Hoje a Venezuela se encontra em
posição diplomática muito fraca, como o comprova seu fracasso na tentativa de se
eleger para uma cadeira transitória no Conselho de Segurança da ONU, por
exemplo.


Para nós, brasileiros, a melhor notícia nesta marcha da loucura é a tomada de
consciência do presidente Lula (embora não de seu partido) de que Chávez não é
bom companheiro. Não houve uma postura contundente – e talvez seja melhor assim,
pois o Brasil jamais deve ser truculento com seus vizinhos -, mas estamos,
felizmente, a anos-luz do tempo em que o coronel era o parceiro predileto para
fantasias sul-americanas: gasodutos gigantescos, FMIs caboclos, superempresas
binacionais de petróleo e quejandos. Chávez já é um rival e pode transformar-se
num inimigo do presidente brasileiro e mesmo do Brasil. As intervenções
venezuelanas no processo de nacionalização do gás boliviano são uma realidade
indiscutível que precisa ser tomada em conta.


Agora a Venezuela está engajada numa escalada armamentista que não pode
deixar de ser vista com preocupação pelos nossos militares. E o Brasil – governo
e sociedade – já não acha graça nas excentricidades do coronel, nem se dispõe a
segui-lo em seus devaneios. Creio que nosso presidente finalmente se deu conta
de que a companhia de Chávez só nos traz prejuízos líquidos. Sem, de modo algum,
advogar qualquer tipo de intervencionismo, que contrariaria nossas tradições
mais consagradas, faríamos realmente bem em manter uma distância crescente do
coronel.


Luiz Felipe Lampreia foi ministro das Relações Exteriores de 1995 a
2001′


João Domingos


‘Tentação autoritária de Chávez é fato’


Entrevista com José Sarney, senador (PMDB-AP)


‘O senador e ex-presidente José Sarney diz que o fechamento da RCTV pelo
presidente da Venezuela, Hugo Chávez, mostra uma tentação autoritária. Para ele,
um dos primeiros a protestar contra o ato, a democracia corre perigo no país
vizinho. Sarney considera que, no momento em que um governo tem o poder de
silenciar qualquer órgão de oposição, a qualquer título, é preciso temer o seu
conceito de democracia.


Em seu governo (1985-1990), Sarney e o então presidente da Argentina, Raúl
Alfonsin, e o do Uruguai, Julio Sanguinetti, iniciaram as bases da integração da
América Latina, o que viria a resultar no Mercosul. Para participar do grupo,
eles fizeram uma exigência, chamada de ‘cláusula democrática’. O Paraguai, que
ainda era uma ditadura, ficou de fora desse embrião. Sarney critica Chávez e sua
influência sobre outros países. Mas acha que a tendência autoritária vai perder
e a democracia triunfará.


Como o senhor tem visto a atuação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na
América Latina?


Não basta dizer que um país tem as instituições, quando elas não são
democráticas, mas meramente formais. O que ocorre agora na América Latina é que
a gente sente uma certa tentação autoritária, ou mesmo totalitária em alguns
países. Devemos estar alertas para que não tenhamos um novo processo de
autoritarismo na região.


O senhor foi um dos primeiros a usar a tribuna do Senado para criticar o
fechamento da RCTV por Hugo Chávez. O senhor teme que a ação de Chávez atinja
outras emissoras venezuelanas?


Nós temos de ficar atentos. A tentação autoritária existe de fato.


O Senado fez uma nota na qual pede para Chávez repensar sua atitude e
devolver a concessão à RCTV. Ele contra-atacou, chamando o Senado brasileiro de
‘papagaio’ do Senado dos Estados Unidos. O senhor esperava essa reação dele?


A crítica que o presidente Chávez fez ao Senado brasileiro mostra que na
realidade ele não tem uma avaliação perfeita do que é um Congresso pluralista,
aberto. Não é uma câmara unânime, como a que existe na Venezuela. Aqui se debate
tudo. Podemos questionar todas as coisas, até mesmo o próprio governo. Cada
partido tem sua posição. Isso é que é o exercício democrático. Essa reação é
mais um ponto para temer. Porque, quando você não tem a noção do que é o
Parlamento numa democracia, é a mesma coisa que não ter a noção do que é a
imprensa numa sociedade livre.


É notória a influência de Chávez na Bolívia, no Equador e na Nicarágua. Ele
tenta ainda avançar sobre a Colômbia e o Peru. O senhor não teme que ele acabe
por contagiar parte da América Latina com seu estilo que tende a acabar com a
oposição?


Isso que está ocorrendo é uma distorção e até um anacronismo. Temos de estar
alertas para defender a democracia. O que acontece é que, depois que os países
foram democratizados, houve algum tipo de reação, visto que a democracia foi
sonhada como solução para todos os problemas e não conseguiu resolvê-los. Nenhum
regime consegue isso, porque necessita de longo tempo. Então, com o agravamento
dos problemas sociais, de distribuição de renda, isso criou em alguns lugares um
clima no qual a democracia passou a ser julgada não por ela mesma, mas pela
realização imperfeita de seus valores. Isso, de certo modo, é o fenômeno que
estamos vendo, mas acho que é episódica.


‘Nós somos uma fonte de estabilidade’


O senhor costuma dizer que tem um papel na defesa do Estado democrático na
América Latina. Continuará vigilante?


Eu e o Raúl Alfonsin (ex-presidente da Argentina), sobretudo nós dois, temos
o dever de ficar alertas. Eu ficarei sempre aqui, de qualquer maneira, sempre em
defesa dos princípios democráticos. O fato de ser ex-presidentes nos dá sempre a
condição de falar. Não vamos deixar de ser ex-presidentes. Seremos as vozes em
defesa da democracia, sempre.


O senhor considera que a manutenção do Estado democrático é a saída para o
desenvolvimento da América Latina?


A redemocratização da América Latina foi a maior depois da 2ª Guerra Mundial.
Foi um processo bem menos doloroso do que aconteceu em Portugal e na Grécia. E
quando iniciamos a negociação para a integração da América Latina, começando
aqui pelo Cone Sul, a primeira diretriz que concebemos, eu e o Alfonsin, e
também o Sanguinetti (Julio Sanguinetti, ex-presidente do Uruguai), foi
justamente estabelecer a cláusula democrática. Isso era uma necessidade para que
pudéssemos redemocratizar todo o continente sul-americano. Tanto é assim que
naquela época o Paraguai não entrou, porque lá ainda estava o Stroessner
(Alfredo Stroessner, ex-presidente que acabou se exilando no Brasil em 1989).
Acho que a democracia não é só uma definição de ciência política. É sobretudo um
estado de espírito. Churchill, por exemplo, não foi buscar uma definição
elaborada para falar sobre a democracia. Apenas disse que era o regime no qual
às 6 horas da manhã, se a campainha de sua casa toca, você tem certeza de que é
o leiteiro ou o padeiro; nunca a polícia política. Por isso insisto: não basta
dizer que tem a instituição, quando ela não é democrática, mas meramente formal.


E no Brasil? Acha que a democracia se consolidou por aqui?


O Brasil teve muita sorte. Também passamos pelo processo da descrença com a
democracia, porque ela não resolveu nossos problemas. Mas tivemos a sorte de ter
um presidente que, embora sendo um operário, tem uma noção perfeita dos valores
da democracia. Ele sabe que foram esses valores que deram a ele essa condição de
chegar ao poder.


O senhor assumiu a Presidência imediatamente depois do fim do regime militar.
Considera-se fiador da democracia exercida aqui?


Nós exercemos a liberdade. Então, quando a liberdade começou a florescer, as
instituições começaram a se fortificar. E se tornaram fortes. Eu até dizia:
quero que o presidente seja fraco para que a sociedade seja forte. Isso, na
realidade, ocorreu. Fizemos a transição democrática, com uma Constituinte, com
eleições em todos os anos em que fui presidente. Saímos com uma democracia
consolidada, sem nenhuma sombra de retrocesso.


O Brasil, por seu tamanho e por sua importância na região, é responsável pela
manutenção da democracia na América Latina?


Por ser uma grande democracia, o Brasil tem uma responsabilidade muito grande
na estabilidade no continente. Temos responsabilidade grande também de exercer
esse ponto de vista institucional de manutenção da democracia. É uma
responsabilidade nossa, da Argentina e acaba sendo de outros países também. O
Brasil fez uma transição sem nenhuma hipoteca militar. O Chile até hoje paga
várias hipotecas. Nós conseguimos chegar à democracia sem isso. Por isso, somos
uma fonte de estabilidade das instituições na América Latina.’


EQUADOR
Renata Miranda


Ação contra jornal alarma Equador


‘As recentes pressões do presidente equatoriano, Rafael Correa, contra a
imprensa de seu país revelam um quadro preocupante no que se refere à liberdade
de imprensa em mais uma nação latino-americana. Há duas semanas, um grande
aliado de Correa, o líder venezuelano Hugo Chávez, desafiou a oposição interna e
as críticas internacionais para tirar do ar a emissora mais popular da
Venezuela.


Correa ainda não chegou aos extremos de Chávez no confronto com a imprensa,
mas há fortes indícios de que segue pelo mesmo caminho. As relações entre o
presidente equatoriano e os meios de comunicação estão estremecidas desde maio,
quando ele resolveu abrir um processo contra o diretor-presidente do jornal La
Hora, Francisco Vivanco, por um editorial que dizia que Correa governava com
‘tumultos, pedras e paus’. O presidente equatoriano prometeu retirar o processo
se Vivanco se retratasse, mas o jornalista se recusou a pedir desculpas pelo que
foi publicado.


‘Esse processo mostra uma escalada de violência por parte do governo, que vem
desqualificando permanentemente os meios de comunicação no país’, afirmou
Vivanco, por telefone, ao Estado. De acordo com o presidente do La Hora, toda a
imprensa equatoriana viu o episódio como uma ameaça clara à liberdade de
expressão no Equador.’Se for condenado, ficarei apenas dois anos preso. E digo
‘apenas’ porque acredito que vale a pena brigar até onde for possível contra a
tirania’, disse. O processo ainda não tem prazo para ser concluído.


Para o cientista político César Montúfar, da Universidade Andina Simón
Bolívar, o processo contra o jornal foi um ‘terrível equívoco’ do governo. ‘Usar
o poder do Estado para abrir uma ação por causa de um editorial que desagradou
ao presidente é um sinal de intolerância’, disse Montúfar ao Estado.


Para o especialista, o mais perigoso é que os ataques de Correa são dirigidos
aos meios de comunicação de maior credibilidade do país. ‘O presidente está
atacando abertamente a imprensa livre’, disse.


A professora de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Equador
Lucía Lemos acha que ainda não há mot ivo para tanto alarmismo: ‘Há tensão e
preocupação entre os jornalistas, mas enquanto pudermos protestar, ainda teremos
liberdade de imprensa’, afirmou, por e-mail, ao Estado.


APROVAÇÃO


Montúfar explica que os ataques aos meios de comunicação fazem parte de uma
estratégia de Correa para consolidar seu poder político, mas o estilo agressivo
pode ser prejudicial para a popularidade do presidente – que já começou a
declinar. De acordo com uma pesquisa do instituto Cedatos a aprovação de Correa
caiu para 67%, em maio, contra 76% em abril.


O cientista político acredita ainda que as ações contra a imprensa podem ter
sido tomadas por influência de Chávez. ‘O governo equatoriano segue a cartilha
da Venezuela. Não podemos nos esquecer que lá o processo começou da mesma
maneira – com ataques verbais e processos contra os meios de comunicação’,
lembra Montúfar.’


CASO RENAN CALHEIROS
O Estado de S. Paulo


Jornalista contradiz lobista ligado a Renan


‘A jornalista Mônica Veloso, de 38 anos, situada no epicentro das denúncias
envolvendo o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e um lobista da construtora
Mendes Júnior, resolveu se manifestar. Duas semanas após ter publicado a
reportagem apontando as perigosas relações entre o senador e o lobista, a
revista Veja conseguiu entrevistá-la. E ela confirmou: o dinheiro que recebia
para o aluguel e a pensão da filha de três anos que tem com o senador era pago,
sempre, por Cláudio Gontijo, o lobista da construtora.


O pagamento, diz, era feito regularmente no escritório da empresa, em
Brasília, e em dinheiro vivo – que a jornalista depositava em sua conta
bancária. ‘Cláudio me recebia na sala dele e me entregava o envelope. Alguns
envelopes tinham o logotipo da Mendes Júnior’, contou ela, desmentindo o que o
lobista dissera na terça-feira ao senador Romeu Tuma (DEM-SP), corregedor do
Senado.


Segundo Gontijo, ele agia como intermediário entre o senador e a jornalista,
encarregando-se apenas dos repasses financeiros, que depositava na conta de
Mônica. O lobista não levou com ele, no entanto, nenhum recibo dos
depósitos.


Pelo relato da jornalista, isso seria impossível, pois tais depósitos nunca
aconteceram. Ela também desmentiu a declaração de Renan de que escolhera Gontijo
para intermediar os pagamentos porque seria um amigo comum às duas partes.


Ao falar sobre sua relação com o lobista, Mônica disse: ‘Nenhuma. Não somos
amigos. Conheci o Cláudio por meio do Renan em meados de 2003. Nunca o tinha
visto antes. Ele não é da minha área, que é comunicação, publicidade.’


DISCURSO


Outro petardo disparado pela entrevistada atinge a afirmação do senador,
feita no discurso de defesa perante seus pares no Senado, de que recorreu a
Gontijo porque precisava ser discreto, tratando-se de uma relação extraconjugal.
Segundo Mônica, ela teve encontros regulares e a sós com o senador até o final
de 2005: ‘Nós nos encontramos até dezembro de 2005. Foram três anos de relação,
que começou quando ele era líder do PMDB – o senador foi líder do partido de
fevereiro de 2001 as fevereiro de 2005 -, e continuou depois que foi eleito
presidente do Senado. Até dezembro de 2005, quando houve reconhecimento da
paternidade, foi uma relação tranqüila.’


Por meio desta declaração, a revista levanta a seguinte dúvida: se continuou
mantendo encontros com Mônica depois que o pagamento da pensão começou a ser
feito, por que o senador não lhe entregava pessoalmente as quantias? Por que ela
ia retirá-las no escritório da construtora? Por que não no flat onde se
encontravam?


Mônica diz que resolveu falar porque tem sido apresentada publicamente como
uma pessoa desclassificada, sem profissão, nem família: ‘Tenho uma produtora,
casa própria, profissão. Eu não freqüentava o mundo político indo a festas. Eu
era jornalista da TV Globo.’


Os pagamentos feitos por Gontijo ocorreram entre março de 2004 e novembro de
2005. O primeiro deles foi para o pagamento antecipado de um ano de aluguel da
casa para a qual ela se mudou, quando ainda estava grávida, no valor de R$ 40
mil. Mais tarde, quando se mudou para um apartamento, ela recebeu R$ 8 mil de
pensão e mais R$ 4 mil para o aluguel.’


RÁDIO
Ethevaldo Siqueira


A dura verdade sobre o nosso rádio digital


‘O rádio faz parte de minha vida. Continuo ouvindo rádio todos os dias, mesmo
depois da chegada da TV, do computador e da internet. Para 95% da população
brasileira, rádio é informação, entretenimento, serviço e cultura.


Do ponto de vista tecnológico, contudo, o rádio vive um processo de
obsolescência, em especial em ondas médias (OM) e amplitude modulada (AM) e
passa por um momento de transição entre os velhos padrões analógicos e as novas
promessas da digitalização.


Apenas em freqüência modulada (FM) o rádio tem boa qualidade.


Por que digitalizar o rádio? Por muitas razões, mas, principalmente, porque
esse avanço tecnológico melhora a qualidade das recepções, possibilita a
convergência com outros meios e tecnologias, abre perspectivas de
interatividade, de maior estabilidade nas transmissões, de economia de espectro
de freqüências e de incontáveis aplicações.


O DESAFIO


Concretizar esse projeto, no entanto, tem sido um dos maiores desafios para
todos os países que se decidiram a digitalizar sua radiodifusão sonora.


O Brasil está, em princípio, aberto aos testes com todos os padrões
disponíveis no mundo.


Na prática, contudo, apenas o Iboc (In Band on Channel), criado pela empresa
norte-americana Ibiquity, está sendo testado por uma dúzia de emissoras em todo
o País, tanto em AM como em FM.


O DRM (Digital Radio Mondiale), em desenvolvimento por um consórcio europeu,
deverá ser o próximo, seguido do padrão japonês, compatível com o sistema de TV
Digital adotado pelo País.


A proposta do Iboc é vantajosa, pois evita a duplicação de faixas de
freqüências e permite que os receptores de rádio analógicos sobrevivam por mais
dez ou 15 anos. Mas, depois de quase dois anos, os resultados dos testes do Iboc
no Brasil ainda estão longe de ser satisfatórios.


Dou aqui meu depoimento pessoal, pois utilizo dois receptores de rádio
digital, um em meu carro e outro no de minha mulher, para avaliação das
emissoras de AM e FM. Além disso, tenho ouvido muitos especialistas sobre o
tema. Todos reconhecem os problemas. Nas emissoras, contudo, raros são os que se
dispõem a falar dos testes.


TESTES DE AM


Comecemos pelo pior caso, que é o das transmissões em AM. Na expressão de um
técnico, ‘a qualidade do rádio digital é ótima, desde que funcione.’ Na verdade,
ele funciona de modo razoável apenas durante algumas horas por dia, vencendo com
dificuldade os problemas de poluição radioelétrica que dominam a Grande São
Paulo. São motores elétricos, 6 milhões de veículos, indústrias, 7 milhões de
celulares, emissoras de alta potência e 15 mil rádios piratas.


Tudo isso torna a Capital e os 37 municípios vizinhos um verdadeiro inferno
para a propagação de sinais analógicos ou digitais.


À noite, a situação se torna ainda mais problemática, porque aumenta a
reflexão das ondas na ionosfera, mudando sensivelmente o comportamento dos
sinais em AM, causando interferências em rádios distantes. Para as emissoras
analógicas, a solução nas últimas décadas era reduzir a potência do sinal à
metade. Mas nos testes do Iboc, com sinal analógico e digital, surgem novos
problemas e a qualidade torna-se inaceitável.


Nas transmissões em FM, enfrento outro problema desconfortável: a alternância
de sintonia entre os sinais digital e analógico, tendo de ouvir a transmissão
digital com atraso (delay) de 8 segundos, o que causa a repetição e o corte de
trechos da informação, seja música ou notícia, em pontos de sombra da Grande São
Paulo. Resta-me desligar o sintonizador digital e só ouvir a transmissão
analógica.


QUE FAZER?


Nos Estados Unidos, o processo de digitalização tem sido lento. De um total
de 15 mil emissoras, pouco mais de mil estão transmitindo efetivamente com a
tecnologia Iboc. Muitas das rádios AM desligam o sistema digital à noite.


Do lado das emissoras brasileiras, caso seja adotado o sistema Iboc – como
querem lobistas em Brasília -, é essencial que a tecnologia esteja
exaustivamente testada e plenamente amadurecida. Isso talvez possa ocorrer daqui
a um ou dois anos.


Resta ainda o desafio econômico para as emissoras. Como mais de 80% das 5 mil
rádios brasileiras são relativamente pobres ou deficitárias, poucas terão como
investir de US$ 50 mil a US$ 200 mil (R$ 100 mil a R$ 400 mil), em novos
equipamentos.


Mais difícil ainda é o lado dos ouvintes. Até aqui, a indústria brasileira
não tem plano definido para a fabricação de receptores digitais. Não será fácil
convencer a maioria dos ouvintes a pagar o equivalente de US$ 100 a US$ 200 (R$
200 a R$ 400) por um novo receptor – faixa de preço desses aparelhos nos Estados
Unidos, onde já existe razoável escala, em especial para rádios de
automóveis.


Entidades independentes cobram uma posição mais clara e objetiva do
Ministério das Comunicações e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),
sobre o problema.’


TELEVISÃO
Leila Reis


Bem contada


‘Em conversa com um amigo/cúmplice, admirado com sua semelhança com a irmã
gêmea Paula (Alessandra Negrini), Taís, a gêmea má de Paraíso Tropical, diz que
a irmã é parecida com ela sim, mas é muito sem sal: ‘Uma Taís para hipertensos’.
A maldade de Taís não é dramática como a que estampam as novelas mexicanas. É
mais debochada, sutil até.


Nos papos recorrentes entre a vigarista Marion (Vera Holtz) e sua aprendiz, o
humor transparece. Enquanto engendram toda sorte de armações na sala de estar,
as duas também se digladiam. Marion se surpreende com as habilidades da novata
para o trambique, mas não perde a chance de alfinetá-la cobrando, por exemplo,
contribuição para as despesas domésticas.


Taís responde às cobranças com atitudes (dinheiro) e, como muito jogo de
cintura, vai tomando conta do leme. Arruinada depois que sua galinha dos ovos de
ouro Ana Luiza (Renée de Vielmond) bate asas para o exterior, Marion vê como a
única luz no fim do seu túnel a herança que Tais vai tomar da irmã e que lhe
promete partilhar. É aí que a aprendiz se torna mestra e escreve o script para a
outra interpretar.


Vera Holtz está impecável no papel, mas Alessandra Negrini está longe de ser
a dona da melhor interpretação da novela das 9. Tem hora que exagera na histeria
da má ou adoça a boazinha além da conta, mas isso não compromete porque têm
cabido a ela alguns dos melhores diálogos da trama. São deliciosos aqueles que
dizem respeito ao relacionamento da irmã como o namorado Daniel (Fábio
Assunção).


Só não são páreo para os entregues aos personagens Olavo (Wagner Moura) e
Bebel (Camila Pitanga). O esforço que o durão faz para resistir ao chamado do
amor é inócuo. A dureza do executivo maquiavélico se esfarela frente ao poder de
sedução da prostituta. Ele, que coisifica as pessoas, arma intrigas e arapucas
para todos que se interponham entre ele e seus objetivos (de riqueza, poder
etc.), é humanizado pelo amor. Aí está a diferença entre o estilo brasileiro de
fazer novela e o cucaracho.


O poderoso Antenor Cavalcante – sem dúvida, a melhor prova de que Tony Ramos
é um grande ator – é outro personagem que mesmo desenhado para integrar o bloco
dos vilões, traz nuances que o aproxima da raça humana e por isso o torna mais
crível. É arrogante e justo, manipulador e ao mesmo tempo sensato no trato com
os mais próximos. Não é simplesmente um capitalista selvagem, tem uma certa
responsabilidade social…


Mas é claro que as boas personagens e diálogos bem escritos não são
suficientes para segurar o telespectador. Talvez a maior qualidade de Paraíso
Tropical seja o movimento de pipocar nos diversos núcleos vários conflitos e ir
resolvendo-os logo a seguir. O caso do adolescente que se aproxima do pai
(Marcello Antony) que não sabia de sua existência, a descoberta das falcatruas
do namorado golpista de Joana (Fernanda Machado), a revelação sobre o passado da
síndica do Edifício Copamar, o flagrante de Ana Luíza com o amante e vice-versa,
são desfechos que tornam a novela mais ágil, portanto mais interessante. Haja
imaginação, mas parece que isso não falta à equipe de roteiristas.


Por essas razões, não há dúvida de que esta é a melhor história escrita por
Gilberto Braga, coisa que finalmente o público começa a entender rendendo-lhe a
audiência merecida. Semana passada, Paraíso chegou a registrar 49 pontos de
média no Ibope (Grande São Paulo) e depois se manteve no patamar do 45. Mas,
pode escrever, essa audiência ainda vai crescer.’


O Estado de S. Paulo


A idéia é mapear o país


‘O diretor Luiz Fernando Carvalho quer mais. Quer diálogo entre os que sabem
e os que mal sabem. Põe em cena ‘A Pedra do Reino’, de Ariano Suassuna, e já
ensaia Machado


O sertão não virou mar, mas o pessoal de Taperoá, no sertão da Paraíba,
presenciou cenas jamais vistas durante os três meses que a equipe de A Pedra do
Reino se instalou por lá. Em uma cidade de pouco mais de 13 mil habitantes, se
juntou uma equipe de mais de 100 pessoas que se alojou em casas de moradores,
sem falar nos curiosos dos povoados vizinhos que foram ver o feito de Luiz
Fernando Carvalho de perto.


Carvalho, o mesmo de Hoje é Dia de Maria, que contrariou a máxima que
telespectador só digere produto mastigado e obteve ótimos índices de audiência
nas duas jornadas da menina Maria, escolheu Taperoá, a cidade da infância de
Ariano Suassuna, para começar o seu Projeto Quadrante, viagem audaciosa que
pretende mapear o Brasil. ‘É uma espécie de caravana que estou propondo para que
se conheça o País – que, no meu modo de sentir, muitas vezes desperdiçado em
função de uma visão centralizadora do eixo Rio-São Paulo’, diz. Depois de A
Pedra do Reino virá Capitu, de Machado de Assis, que será filmado no Rio; Dançar
um Tango, da obra de Sérgio Faraco, em Porto Alegre; Dois Irmãos, em Manaus, de
Milton Hatoum, e… ‘Quando saberemos quando uma obra estará finda?’,
pergunta-se Carvalho sem estimar quanto tempo esta nova jornada irá durar.
Quadrante é um projeto de vida.


Para A Pedra do Reino, Carvalho saiu do Rio com uma pequena base de trabalho
– diretores de criação: Raimundo Rodrigues, arte; João Irênio, cenografia;
Luciana Buarque, figurino; Vavá Torres, caracterização; Ricardo Blat, preparador
de elenco – em busca de novos soldados. Por lá, montou ateliês e oficinas para
angariar outros profissionais. ‘Talentos locais trazem consigo as suas
superfícies, os seus territórios, as suas memórias. É um conjunto ético e
estético, porque além da construção de uma fabulação, promovem, a um só golpe,
uma reflexão que busca um retrato mais justo do País’, diz Carvalho. Talentos
que não se limitam apenas aos atores, em sua maioria desconhecidos – com exceção
de Cacá Carvalho e do paraibano Luiz Carlos Vasconcelos -, mas a bordadeiras,
artesãos, costureiras, marceneiros, poetas, músicos e cantores.


Taperoá, que na língua Tupi significa aldeia abandonada, foi literalmente
ocupada pela trupe de Carvalho. A Secretaria de Saúde se transformou no ateliê
de figurino, um antigo armazém de algodão serviu de sala de ensaio e, em um
local batizado de Chã-de-Bala, foi construída uma arena de 2 mil metros
quadrados que serviu de palco principal para a série. E aqui cabe um breve
parênteses. Os mais antigos de Taperoá contam que por aquelas bandas de
Chã-de-Bala houve um tiroteio durante uma revolta contra a oligarquia paraibana,
em 1912. Anos mais tarde, quando atearam fogo à mata, a munição abandonada no
combate começou a estourar, apelidando o local.


O cenário


Para compor o cenário da série, o cenógrafo João Irênio se inspirou nas
lápides dos antigos cemitérios sertanejos. As fachadas das casas ganharam
frontões, com formatos e tamanhos diversos. ‘Fizemos uma cidade-lápide,
transfigurada, desenterrada. É uma cidade de memórias’, explica Irênio.


A maior parte das casas continuou habitada. Algumas foram utilizadas como
lugar de apoio e outras, como a de seu Salatiel, foi usada para ser a casa do
personagem principal da série, Quaderna. Para não perder nenhum detalhe das
filmagens, seu Salatiel construiu nos fundos de sua casa um quarto, para
vivenciar a história 24 horas por dia. Ainda teve uma breve homenagem. Um
retrato seu quando criança foi pendurado na biblioteca de Quaderna, como se ele
fosse o protagonista quando pequeno.


Por coincidência ou não, seu Salatiel, de 82 anos, foi colega de escola de
Suassuna e inspirou o autor em outra obra, O Rei Degolado. ‘Taperoá tem muita
ressonância, personagens que estão vivos ainda e pertencem a outras obras de
Ariano, como em O Rei Degolado, o Sr. Salatiel. Um dia ele me chamou e contou
emocionado: ‘Moro aqui há mais de 80 anos e nunca imaginei que fosse presenciar
um sonho tão grande’, conta Carvalho. Para ele, do ponto de vista espiritual, a
escolha de Taperoá é óbvia: ‘Taperoá é uma cidade que é mítica por si só. O
espaço ali é o cerne de toda a memória.’


O enredo


Para transpor as 700 páginas do livro de Suassuna para os cinco episódios da
série, foi criada uma narrativa em três tempos: o tempo presente, quando
Quaderna é um velho palhaço, o tempo passado e o tempo passado que invade o
presente, quando os personagens do passado ocupam o espaço do narrador diante da
arena onde está a carroça do velho palhaço Quaderna.


Quaderna, vivido por Irandhir Santos, é o protagonista do romance e um misto
de palhaço e rei. É com ele, já envelhecido, que a história começa. Quaderna se
auto-proclama o herdeiro legítimo do trono do sertão e do Brasil. Afilhado de
Dom Sebastião, rico fazendeiro morto misteriosamente, e de Dom João Ferreira
Quaderna, o Execrável, que comandou uma seita de fanáticos religiosos, Quaderna
sonha em escrever uma magnífica obra literária para restaurar o prestígio de
seus familiares. O único problema é o ‘cotoco’, uma proeminência óssea no final
da coluna que o impede de ficar sentado por muito tempo. Para realizar seu
sonho, então, Quaderna faz uma denúncia anônima para que ele mesmo seja preso e
assim possa utilizar de seu depoimento, devidamente datilografado pela escrivã,
para contar sua saga.


O figurino


Assim como em Hoje é Dia de Maria, Carvalho utilizou materiais reciclados
para montar a sua história. ‘Trabalhamos com os restos das coisas, com o que aos
olhos dos outros está morto’, diz. Literalmente. Um dos materiais utilizados
pela equipe de arte de Raimundo Rodrigues foi ossos de animais, garimpados nas
estradas da região. Artistas locais criaram, por exemplo, um dragão alado com o
crânio de um bode e cavalos cenográficos com estopa, serragem, isopor, palha de
milho e sisal.


Criatividade à toda prova – e alguns sacrifícios. Para o personagem
Margarida, a escrivã que datilografa o depoimento de Quaderna, a atriz Millene
Ramalho ficou quase duas horas em um molde de gesso. A produção queria que a
máquina de escrever e Margarida fossem um corpo só e, para isso, foi preciso
criar um corpete especial para adaptar a máquina. A atriz, durante toda a
filmagem, carregou o peso de sete quilos e meio.


O compromisso


Soluções simples e dedicação parecem ser a marca de Luiz Fernando Carvalho.
‘Troco toda a palhafernada de coisas como gruas e outros bichos por um tempo a
mais para os ensaios e a criação nas oficinas de arte e figurino. Não vou pela
ação extravagante da produção, vou pela imaginação, pelo sangue e pelo sonho’,
diz.


E pela identidade. Carvalho não trata a TV como uma fonte de diversão, mas
como uma forma de difundir a educação. ‘Procuro um diálogo entre os que sabem e
os que não sabem. Um diálogo simples, sóbrio e fraterno, no qual aquilo que para
o homem de cultura média é adquirido e seguro torne-se também patrimônio para o
homem mais comum, pobre. Esta é a TV que sonho ver no futuro. Ou sigo por esse
caminho ou, sinceramente, nada faz sentido.’


A parceria


‘Quando vejo essa recriação que Luiz está fazendo, até parece que isso
presta’, disse, brincando, o escritor Ariano Suassuna em visita às gravações da
microssérie. O autor de A Pedra do Reino não só deu aval ao diretor Luiz
Fernando Carvalho como o presenteou – assim como os roteiristas Braulio Tavares
e Luís Alberto de Abreu – com 52 folhas de papel almaço escritas à mão com
finais inéditos para alguns personagens. Suassuna começou a escrever o Romance
d’A Pedra do Reino, finalizado em 1971, depois de duas tentativas frustradas de
escrever sobre a morte de seu pai, João Suassuna, ex-governador da Paraíba,
assassinado quando o escritor tinha 3 anos. Luiz Fernando Carvalho leu a obra
quando ainda era adolescente . ‘Senti uma necessidade inadiável de recuperar e
completar o universo de sensações e imagens que tinha de minha mãe, nordestina,
a qual perdi muito menino. Posso dizer que procurava Ariano desde sempre’, diz.
Carvalho considera a série não uma adaptação, mas uma resposta aos textos, um
diálogo, uma reação criativa à literatura.’


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