Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

ESCÂNDALO
Guilherme Scarance

Escândalo Renan completa hoje um ano, sem punições

‘Passado exatamente um ano do escândalo envolvendo uma amante e o lobista de uma grande empreiteira, o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) livrou-se de seis representações – cinco arquivadas e uma nunca levada ao Conselho de Ética. O inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto, que tramita em segredo de Justiça, ainda não teve resultados práticos.

Em 25 de maio de 2007, veio às bancas a revista Veja com a denúncia de que o cacique alagoano – então um político influente, com acesso fácil ao Palácio do Planalto – tinha contas pessoais pagas por um lobista da empresa Mendes Júnior. Até a pensão de uma filha fora do casamento, com a jornalista Mônica Veloso, seria custeada pelo amigo. O senador negou, mas a artilharia se seguiu nos meses seguintes, após a confirmação de tudo por Mônica.

Ao todo, Renan virou alvo de seis acusações: 1) ter contas pagas pela Mendes Júnior; 2) atuar em favor da Schincariol na Receita Federal e no INSS; 3) uso de laranjas na compra de duas rádios e um jornal; 4) arrecadação em ministérios do PMDB; 5) espionagem de dois senadores da oposição em Goiás; 6) autoria de emenda que destinou R$ 280 mil à empresa fantasma de ex-assessor.

‘A expectativa era de que as representações tivessem sucesso. Poucos políticos suportariam o que Renan suportou’, diz o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), sobre aqueles meses tumultuados.

Aconselhado por caciques como o senador José Sarney (PMDB-AP), Renan mostrou-se resistente a julgamentos políticos. Os colegas o livraram da denúncia sobre a Mendes Júnior em 12 de setembro de 2007.

Em novembro, o caso da cervejaria foi engavetado. Em dezembro, quatro horas e meia após entregar a presidência do Senado, Renan foi inocentado na compra das rádios. Um dia depois, o conselho arquivou mais duas representações e a última, sobre a empresa fantasma, nem chegou ao colegiado.

Para o senador que substituiu Renan no comando do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), a Casa está conseguindo superar só agora o desgaste sofrido com esse episódio e outros anteriores. ‘Fica a lição de que não podemos deixar que um caso assim se aprofunde tanto.’

QUEBRA DE SIGILO

Restou apenas o inquérito policial número 2.593, aberto em 6 de agosto pelo STF, a pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. A Polícia Federal levantou suspeitas sobre o patrimônio de Renan e ele teve o sigilo bancário e fiscal quebrado. A investigação, com 28 volumes, ainda não foi remetida pelo procurador-geral ao relator do caso no STF, Ricardo Lewandowski.

Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, não se deve esperar nada do inquérito, pois o clima político esfriou e a corte enfrenta um dilema: ‘O Supremo, em toda a sua história, nunca concluiu um julgamento de crime contra políticos que têm foro privilegiado.’ Para ele, Renan sobreviveu, mas ficará restrito ao prestígio em Alagoas.

A assessoria e o advogado do senador, Marcelo Leal de Lima Oliveira, foram procurados pela para falar do inquérito, mas não retornaram as ligações.’

 

HISTÓRIA
Marcelo de Moraes

Guimarães Rosa assessorou generais em conflito com Paraguai

‘Documentos inéditos da ditadura revelam os bastidores do dia em que João Guimarães Rosa, um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, foi um dos protagonistas de uma reunião do Conselho de Segurança Nacional. Em 11 de março de 1966, o conselho reuniu os principais integrantes do governo militar, incluindo o presidente Humberto Castello Branco e seus futuros sucessores, os generais Arthur da Costa e Silva (então ministro da Guerra) e Ernesto Geisel (secretário-geral do conselho), para discutir questões de fronteira entre o Brasil e o Paraguai.

No meio de generais, como o chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), Golbery do Couto e Silva, e de ministros pesos-pesados, como Octávio Gouvêia de Bulhões (Fazenda) e Roberto Campos (Planejamento e Coordenação Econômica), entre outros, o autor de Grande Sertão: Veredas era figura importante para a discussão. Afinal, paralelamente à construção dos mundos de Riobaldo, Diadorim e Augusto Matraga, entre muitos de seus personagens antológicos, Guimarães mantinha respeitável carreira diplomática e respondia pela chefia da Divisão de Fronteiras do Itamaraty. Sabia de cor cada detalhe das questões de limites entre o Brasil e seus vizinhos.

No caso do Paraguai, não era diferente. Segundo os registros da ata da 36ª sessão do Conselho de Segurança Nacional, guardada no Arquivo Nacional, em Brasília, à qual o Estado teve acesso, o governo reuniu seus principais integrantes nessa reunião para deliberar sobre o tom de uma nota que divulgaria para tentar conter os pleitos paraguaios em relação a parte do território brasileiro.

A principal divergência dizia respeito à reivindicação feita pelo Paraguai de áreas no Salto de Sete Quedas, a maior cachoeira do Rio Paraná, onde o Brasil havia iniciado anos antes levantamentos para um grande aproveitamento hidrelétrico. Mais tarde, esse processo acabaria levando à construção da usina de Itaipu, justamente em parceria com o Paraguai.

Em 1966, porém, esse acordo ainda era impensável. O clima era de discordância total com o vizinho. Na reunião do conselho, Castello Branco queria ouvir a opinião de todo o governo, principalmente a área técnica do Ministério de Relações Exteriores, para definir os termos de uma nota que rechaçasse as pretensões paraguaias.

‘DESARRAZOADO COMPLETO’

Em sua intervenção, Guimarães fornece amplos detalhes técnicos sobre o caso. De quebra, relata a sua clara descrença na possibilidade de concretização de um acordo razoável com o governo paraguaio. Na época, o país era governado pelo ditador Alfredo Stroessner.

‘Até o último momento há esperança de podermos convencê-los de alguma coisa. Mas não parece – já nos pareceu – que há possibilidade de entendimentos. Porque não só a opinião do governo paraguaio, dos diplomatas paraguaios quando conversam conosco, como da imprensa paraguaia, mostram um desarrazoado completo. A tal ponto que os jornais publicam documentos, deturpando-os sistematicamente’, afirma.

A argumentação se segue: ‘A massa de informações que temos, não só de telegramas do embaixador, como dos jornais, mostram algo impressionantemente estranho. Coisa que raia pela esquizofrenia. Onde não há possibilidade de aceitar, porque o que aconteceu, senhor presidente e senhores ministros, é que jamais o Paraguai quis aceitar a representação consciente do que tinha acontecido com ele. Jamais’, diz, possivelmente referindo-se aos efeitos da Guerra do Paraguai.

Com sua experiência diplomática, Guimarães desdenha da idéia sugerida na reunião, de se trocar a divulgação da nota pela publicação de uma espécie de ‘livro branco’, com todos os documentos históricos sobre os tratados que definiram as fronteiras entre os países. ‘Tive oportunidade de verificar, por exemplo, em importante conferência de paz, em Paris, em 1946, livros primorosos, encadernados, ilustrados com belos mapas, jogados nos cestos.’

Guimarães, então, defende a divulgação da nota, ‘pensando na necessidade de esclarecermos ou de respondermos ao Paraguai para que colocassem um pouco de bom senso, um pouco de lógica dentro do encaminhamento da argumentação’, afirma. ‘A nota deles é realmente impressionante. E, às vezes, a maior dificuldade nossa era retomar o equilíbrio psicológico depois de encontrar coisas tão desastradas, falseadas e declaradas sem pejo’, diz ele.

USINA

Apesar da pressão paraguaia, o Brasil conseguiu administrar o assunto, especialmente depois que acertou com o governo vizinho a construção da Usina de Itaipu. A obra, de caráter binacional, foi construída na região questionada do Salto de Sete Quedas, com o Brasil comprando do Paraguai todo o excedente de energia que o vizinho jamais foi capaz de consumir.

Agora, com a eleição de Fernando Lugo como presidente paraguaio voltam à cena as velhas questões de rediscussão das fronteiras e até mesmo o pedido de renegociação dos termos do Tratado de Itaipu, de 1973. Desta vez, porém, o governo terá de se virar para resolver o problema sem a ajuda de Guimarães, morto em 1967.

PARTICIPANTES DA REUNIÃO DE 11 DE MARÇO DE 1966

1. Marechal Humberto Castello Branco (presidente da República)

2. Almirante Zilmar Araripe Macedo (ministro da Marinha)

3. General Arthur da Costa e Silva (ministro da Guerra)

4. Embaixador Juracy Magalhães (ministro das Relações Exteriores)

5. Octavio Gouvêia de Bulhões (ministro da Fazenda)

6. Marechal Juarez Távora (ministro da Viação e Obras Públicas)

7. Ney Braga (ministro da Agricultura)

8. Pedro Aleixo (ministro da Educação e Cultura)

9. Walter Peracchi Barcellos (ministro do Trabalho e Previdência)

10. Marechal do Ar Eduardo Gomes (ministro da Aeronáutica)

11. Raimundo de Moura Brito (ministro da Saúde)

12. Paulo Egydio Martins (ministro da Indústria e Comércio)

13. Mauro Thibau (ministro das Minas e Energia)

14. Roberto Campos (ministro do Planejamento e Coordenação Econômica)

15. Luiz Vianna Filho (ministro do Gabinete Civil)

16. Tenente-brigadeiro Nelson Freire Lavanère Wanderley

(chefe do Estado Maior das Forças Armadas)

17. General Décio Palmeiro de Escobar (chefe do Estado Maior do Exército)

18. Tenente-brigadeiro Clóvis Monteiro Travassos (chefe do Estado Maior da Aeronáutica)

19. Almirante Arnoldo Toscano (chefe do Estado Maior da Armada)

20. General Golbery do Couto e Silva (chefe do Serviço Nacional de Informações)

21. Haroldo Teixeira Valadão (ministério de Relações Exteriores)

22. João Guimarães Rosa (ministério de Relações Exteriores)

23. Coronel Octávio Tosta da Silva (ministério de Relações Exteriores)

24. General Ernesto Geisel (secretário geral do Conselho de Segurança Nacional)’

 

TV DIGITAL
Ethevaldo Siqueira

Televisão na Finlândia já é 100% digital

‘A Finlândia é o primeiro país do mundo a retirar do ar a TV analógica e só transmitir programas com tecnologia digital. A informação é da ministra das Comunicações deste país, Suvi Lindén, em entrevista ao Estado. ‘Em menos de 4 anos, conseguimos realizar esse objetivo. Não foi fácil, mas vale a pena. Os maiores problemas que tivemos foram na área dos sintonizadores digitais (set top boxes). As camadas de menor renda reclamaram dos preços e da impossibilidade de utilizar o mesmo aparelho tanto para a TV aberta quanto para a TV por assinatura. Vamos ter que resolver essa situação, substituindo esses conversores.’

O padrão utilizado na Finlândia é o europeu (Digital Video Broadcasting ou DVB), que permite elevado grau de interatividade e mobilidade em sua versão DVB-H. Segundo a ministra Lindén, a Europa não deu prioridade ao desenvolvimento da TV de alta definição, embora o padrão DVB já o permita. Na opinião de alguns especialistas finlandeses, a TV de alta definição ainda é um luxo, porque exige receptores mais caros, mais sofisticados e, principalmente, maior oferta de conteúdo, o que ainda não ocorre. Para eles, as imagens digitais européias, com 700 pixels por linha (e não 1.080) são plenamente satisfatórias.

RÁDIO, NÃO

Quanto ao rádio digital aberto, surpreendentemente, a ministra das Comunicações da Finlândia não acredita na viabilidade prática da migração da tecnologia analógica de rádio para a digital. ‘O problema é a exigência de se trocar tudo – equipamentos das emissoras e receptores dos ouvintes. Isso exigiria até a mudança de faixa de freqüências e a interrupção das atividades das emissoras Nem o padrão europeu nem o norte-americano satisfazem. No futuro, as transmissões de rádio serão todas via internet ou associadas à TV digital’.

AVANÇO

As telecomunicações da Finlândia estão entre as mais avançadas do mundo. Até as residências mais modestas da zona rural ou as aldeias da Lapônia, no norte do país, dispõem de comunicação telefônica, fixa ou celular. Nas regiões mais remotas, o serviço é o mais simples possível, inclusive na telefonia celular, que utiliza o sistema mais antigo, de telefonia móvel nórdica em 450 MHz (NMT 450, na sigla comercial), mas que é o mais econômico para cobertura de grandes áreas com baixa densidade populacional, segundo a ministra Suvi Lindén.

‘As telecomunicações finlandesas – diz ela – vêm sendo privatizadas há mais de duas décadas. A única empresa ainda com grande participação estatal é a Telia-Sonera, uma das concessionárias de telefonia fixa, de cujo capital participam os governos da Finlândia e da Suécia, com um total de 60% das ações, o restante é capital privado’.

O maior avanço do setor, entretanto, está na área da telefonia móvel, em que o país ostenta a impressionante densidade de 124 celulares por 100 habitantes. Numa tendência oposta, a telefonia fixa vai reduzindo sua participação para menos de 50%, como ocorre, aliás, na maioria dos países.

Embora seja um país com pouco mais de 5 milhões de habitantes, a Finlândia tem empresas poderosas na área da telefonia celular, entre as quais a Nokia, detentora da fatia de 41% da produção mundial de aparelhos celulares, com 10 fábricas espalhadas pelo mundo, inclusive uma em Manaus, no Brasil.

Uma característica curiosa e quase única da telefonia fixa da Finlândia é o fato de o país já ter conseguido abrir a infra-estrutura de rede de cabos e centrais à participação de todas as operadoras, enquanto o mundo ainda continua discutindo o compartilhamento da infra-estrutura.

No jargão de telecomunicações, esse compartilhamento recebe o nome de unbundling (desempacotamento, em inglês) e permite um grau muito maior de competição. Por essa razão, o país tem hoje mais de uma centena de operadoras fixas. Muitas dessas operadoras podem obter licenças e prestar praticamente todos os serviços de comunicações, de telefonia fixa a celular, TV por assinatura, TV sob demanda (Video on Demand), acesso de banda larga e internet. Apenas a radiodifusão (rádio e TV abertas) exige concessões exclusivas.

Raros países têm o índice de acesso à internet tão elevado quanto a Finlândia: mais de 60% da população utilizam regularmente a rede mundial. E, de cada 100 usuários, 70 dispõem de acesso em banda larga, segundo a ministra das Comunicações.

O país tem pelo menos três indicadores extraordinários que tornam possível seu estágio de desenvolvimento: o menor grau de corrupção governamental (segundo a organização Transparência Internacional), o melhor padrão de educação e a terceira posição mundial em investimentos em pesquisa e desenvolvimento em relação ao seu produto interno bruto (PIB), atrás apenas de Israel e Cingapura.

PERFIL RARO

Embora seja integrante do Parlamento da Finlândia, como deputada representante da região do Ártico, a ministra Suvi Lindén tem grande experiência e envolvimento nas áreas de telecomunicações e novas tecnologias.’

 

TELEVISÃO
Valéria França

A construtora da SP da novela

‘No volante de um Jaguar verde conversível de 1952, Ana Paula Arósio passeia pelo Parque do Ibirapuera; Bruno Gagliasso caminha pelo jardim francês do Museu Paulista, no Ipiranga; Marcello Antony mora na Vila Mariana – numa casa inspirada nas linhas de Gregori Warchavchik (1896-1972), arquiteto que construiu a primeira casa modernista paulistana. Ibirapuera, Ipiranga e Vila Mariana são bairros da zona sul de São Paulo que, assim como o centro da cidade, foram parar em Ciranda de Pedra, novela das 6 da tarde, da TV Globo.

Mas a São Paulo da TV é de 1958 e foi construída por May Martins – ironicamente, uma carioca da gema, daquelas que não trocam o Leblon por nenhum outro lugar do mundo. Especialista em erguer espaços, ruas e cidades que não existem mais, ela é quase uma anônima entre os noveleiros de plantão, mas uma grife entre diretores e atores.

‘A primeira vez que tive oportunidade de trabalhar com ela foi em A Muralha (minissérie de 2000), que considero um marco cenográfico na TV brasileira’, conta a escritora Maria Adelaide Amaral, autora de A Muralha. ‘Nunca até então o século 17 paulista havia sido representado de maneira tão despojada, essencial e sem aquele falso glamour das produções de época.’

O trabalho foi resultado de uma imensa pesquisa histórica da cenógrafa, que chegou à conclusão de que ‘havia mais do que um oceano separando Paris de São Paulo’.

Entre os documentos de época, ela achou um testamento em que o pai deixava para os dois filhos as fivelas de prata de um par de sapatos, por serem bens considerados valiosos.

‘Cristais e porcelanas, assim como qualquer coisa quebrável, não resistiam à dura viagem de São Vicente a São Paulo. O caminho era muito difícil, porque eles tinham de enfrentar uma muralha, a mata atlântica’, explica May. ‘As pessoas precisavam carregar os animais nas costas, de tão íngreme que eram alguns trechos da subida da serra. E São Paulo aparecia nos registros como uma cidade insalubre, que convivia com enchentes, nas quais morriam muitos animais.’

Construir São Paulo na década de 50 seria a princípio muito mais fácil do que imaginá-la há quatro séculos. ‘Engana-se quem pensa assim. Quanto mais recente a época, maior a preocupação com o realismo da reconstrução histórica, pois ainda existem testemunhas.’ Mesmo não tendo a função de documentário, segundo May, muita gente assiste à novela como a uma história viva, verdadeira.

Depois de levantar imagens em livros, revistas e filmes, May passou alguns fins de semana registrando referências arquitetônicas que ainda estão de pé na ruas paulistanas. ‘Ter a oportunidade de entrar nessas construções, verificar proporções, volumes, acabamentos e mesmo a luminosidade faz toda a diferença na hora de montar o cenário’, explica o cenógrafo assistente Mauro Vicente Ferreira, integrante da equipe de May, que também bateu perna para desvendar São Paulo.

CIDADE CENOGRÁFICA

Num espaço de 6 mil metros quadrados no Projac, a Central de Produções da Globo em Jacarepaguá, no Rio, a equipe reproduziu duas regiões de São Paulo: o centro e o bairro da Vila Mariana, na zona sul. Casas, prédios, loja de doces, barbearia, lanchonete e um banco surgiram em ruas largas o suficiente para Ana Paula Arósio dirigir seu Jaguar verde. Uma operação que contou com a ajuda de 13 arquitetos.

Entre as cinco vias paulistanas ali reproduzidas, a Rua Apeninos – que existe de fato em São Paulo – surgiu com construções que não lembram em nada a original. ‘Usamos referências de todos as partes do bairro da Vila Mariana. A idéia era reunir no mesmo espaço o maior volume possível de referências arquitetônicas para dar o clima de um bairro que realmente florescia culturalmente e representava a classe média na época’, conta May. O mesmo recurso foi usado para a centro. ‘A fachada do Edifício Desembargador Guilherme Queiroz Filho, de Natércio (advogado interpretado por Daniel Dantas), saiu das linhas da Biblioteca Mário de Andrade, e a da lanchonete, do prédio do Primeiro Tribunal de Alçada Cível, localizado no Pátio do Colégio.’

COMO DECORADORA

A cidade cenográfica de Ciranda de Pedra não se restringe apenas às fachadas. ‘Os ambientes internos são montados com a cara de cada personagem. Estudam-se texturas, tecidos, móveis de época, enfim, tudo o que for necessário para montar uma casa’, diz May, que nessas horas dá uma de decoradora. Construídos dentro do estúdio onde a maioria das cenas acontece, quartos, salas e escritórios às vezes se repetem na cidade cenográfica. É o caso da pensão, que ganhou na parte interna uma sala de visita igual à montada no estúdio. ‘Em algumas cenas, precisamos da luz natural e da perspectiva da rua para filmar. Daí saímos do estúdio para a cidade cenográfica.’

‘May sempre contribuiu com novidades técnicas importantes, que têm a ver com profundidade e visão de óptica, por exemplo’, diz Denise Saraceni, diretora de Ciranda de Pedra, que há 11 anos desenvolve parcerias com a cenógrafa – entre elas, a minissérie Queridos Amigos, deste ano. São alguns truques que o telespectador nem percebe no produto final, mas que enriquecem a imagem. Como a construção de cenários com paredes em ângulo oblíquo e não com o usual ângulo reto. ‘O recurso virou linguagem em Queridos Amigos’, explica Denise. May explica que o ângulo oblíquo dá mais profundidade à cena, ou seja, a câmera chega mais longe, reunindo assim mais informações e sensações. Tudo para intensificar a viagem do telespectador.’

 

LIVRO
O Estado de S. Paulo

Jornalista relata as histórias da BBC Brasil

‘Vozes de Londres – Memórias Brasileiras da BBC

Laurindo Leal Filho

Edusp, 256 págs., R$ 48

O sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho conta nesta obra a história do Serviço Brasileiro da rede inglesa BBC (hoje BBC Brasil), reconhecida internacionalmente pela transmissão de informações via rádio, televisão e internet. Marcado por três momentos históricos significativos – 2ª Guerra Mundial, a ditadura militar e as transformações tecnológicas -, esse relato é enriquecido com os bastidores da redação e da vida dos profissionais, entre eles Antonio Callado, Ivan Lessa, Vladimir Herzog. Laurindo também apresenta uma síntese das normas e dos valores que regem a conduta editorial da BBC, que se tornou referência para o debate sobre as responsabilidades do fazer jornalístico.’

 

 

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