Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O grampo do ministro

Um grampo que supostamente foi feito por membros da Abin (Agencia Brasileira de Inteligência) no telefone celular do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, está dando o que falar. O presidente Lula já afastou a cúpula da Abin, inclusive o diretor-geral Paulo Lacerda, até que as investigações sobre os supostos grampos sejam apuradas.

Não podemos esquecer que esta matéria é da revista Veja, que há muitos anos mudou seus padrões de jornalismo e hoje suas reportagens são pouco confiáveis. Segundo a revista, a conversa entre o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o ministro Mendes aconteceu às 18h32min e durou pouco tempo. No momento da suposta conversa, o ministro estava a caminho do Palácio do Planalto, onde se reuniu com o presidente Lula e com o ministro da justiça Tarso Genro.

Nos últimos dias, só se ouve sobre o ‘ministro grampeado’ – uns se dizem ‘horrorizados’ com a situação, outros ainda nem bem entenderam todo o desenrolar das reportagens. Na verdade, a mídia em si esta radiante com mais esta fonte de informações para os jornalistas sensacionalistas deste país.

O ‘grampômetro da imprensa’

Nesta história toda, alguém poderia me dizer o que muda para os brasileiros? Qual a importância disso tudo para o trabalhador que, com grampo ou sem grampo, se levanta cedo todos os dias para sustentar suas famílias? Se quiséssemos, teríamos assunto para encher várias paginas de jornais, pois o Brasil tem muitos problemas. Muito pode ser dito e o ‘ministro grampeado’ também teria seu espaço, mas não estaríamos praticando a ‘imprensa do momento’, que prioriza certas informações e deixa outras de lado.

Digam-me quantas pessoas morrem por dia neste país em filas de hospitais? E a imprensa não está lá para noticiar. Quantas pessoas têm que se levantar antes das 4 da madrugada para ganhar o pão da cada dia? E muitas vezes, no fim do mês, ganhando pouco mais que 500 reais? É importante tratar este caso de um modo diferente, pois se trata da invasão de privacidade de uma autoridade, mas também é importante que, de vez em quando, mesmo que por um tempo menor destinado ao ‘grampômetro da imprensa’, todos nós voltemos nossos olhos para os brasileiros, e possamos enxergar que o jornalismo vai além do noticiário sobre ‘pessoas importantes’ e perceber que por aqui também vivem pessoas simples que, em muitos casos, nem mesmo sabem o que é STF.

******

Jornalista, Santo Antonio do Aracanguá, SP