É muito comum culpar apenas os governos pelos diversos problemas do mundo. Mas, em O mal-estar da globalização, o jornalista, escritor, consultor e gestor Luciano Martins Costa refuta essa idéia chamando a atenção para a responsabilidade dos gestores em relação à miséria, ao terrorismo e à degradação do meio ambiente do planeta.
O paradigma apresentado neste ensaio é a vulnerabilidade do sistema econômico. Sua demonstração mais clara, segundo ele, foram os atentados de 11 de setembro de 2001 e os escândalos das fraudes na Enron e na WorldCom. Dado esse quadro, o autor prega que a sustentabilidade é uma questão de sobrevivência do próprio sistema. Sem uma mudança do quadro atual, haverá, possivelmente, a revolta dos excluídos desse sistema e até o fim da diversidade biológica do planeta.
A ‘terceira cultura’
Para provar essa tese, ele lembra que hoje se produz 40% mais riqueza do que há 20 anos e que o grau de tecnologia alcançado, até agora, certamente pareceria ficção científica há meio século. Tudo isso com um custo altíssimo para o meio ambiente e ‘inadmissível para a consciência humana’. Outro dado: ‘Mais de 2 bilhões de indivíduos estão excluídos dos benefícios básicos da modernidade, como habitação, saneamento e garantia de nutrição.’ Para Costa, esse quadro de exclusão é o berço do terrorismo. E como as organizações vêm ganhando papel cada vez mais importante na dinâmica mundial, caberia então aos gestores tomar consciência e agir.
Entre as soluções propostas pelo autor está um dos pontos interessantes do livro: o capítulo sobre a chamada ‘terceira cultura’. Trata-se do conhecimento que não é dividido apenas por literatos e cientistas e que fica restrito entre essas categorias (as ‘duas culturas’ propostas pelo cientista, escritor e administrador público Charles Percy Snow), mas que chega diretamente ao público, seja por livros, televisão, cinema, internet… Graças a essa ‘terceira cultura’, os gestores podem desenvolver métodos de produção e gestão com responsabilidade social e ambiental.
Texto fluente
Outro ponto forte do livro é o perfil que o autor faz do gestor típico, graças a entrevistas com centenas deles, das mais diversas áreas de atuação. Desde os hábitos de leitura (muitos best-sellers de auto-ajuda), até as contradições entre o discurso (liberal) e as ações (conservadoras), nada escapou da percepção de Costa.
Se o discurso sustentável é apenas um modismo, só vamos saber futuramente, mas o livro aponta para um crescimento de ações positivas em relação às comunidades e ao meio ambiente por parte das empresas. E isso, não como instrumento de marketing, mas como forma de evitar instabilidade.
O texto é relativamente fluente, levando-se em conta a complexidade do tema. Mas talvez seja mais fácil de ser digerido por um gestor acostumado à linguagem de negócios do que por um leigo. Para qualquer leitor, porém, a ligação entre os assuntos tratados em cada capítulo nem sempre fica tão clara, o que pode ser resolvido com uma segunda leitura.
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