Em 1817, quando o cientista sueco Jakob Berzelius (1779-1848) descobriu e isolou o selênio, não sabia que também estava inaugurando a história da televisão. É bem verdade que a tese de que o selênio podia transformar a energia luminosa em energia elétrica foi comprovada apenas 56 anos depois, pelo inglês Willoughby Smith. Pelo menos teoricamente, viu-se que era possível transmitir imagens por meio da corrente elétrica. Em 1884, o alemão Paul Nipkow, conhecido como ‘fundador da técnica de TV’, patenteou uma proposta de transmissão de imagens a distância.
Em 1892, os também alemães Julius Elster e Hans Getbel inventaram a célula fotoelétrica, mas foi a partir das invenções do engenheiro russo Vladimir Zworykin, o primeiro a conseguir transformar uma imagem em corrente elétrica, que se desenvolveu todo o sistema eletrônico da televisão moderna. Já a palavra ‘televisão’ foi criada em 1900, pelo francês Constantin Perskyi. Vem da junção das palavras tele (‘longe’, em grego) e videre (‘ver’, em latim). Perskyi apresentou uma tese no Congresso Internacional de Eletricidade, em Paris cujo título era ‘Televisão’. A tese descrevia um equipamento baseado nas propriedades fotocondutoras do selênio, que transmitia imagens à distância.
Não se pode, entretanto, atribuir a invenção da televisão a uma única pessoa. Os novos equipamentos eram construídos a partir de experiências anteriores de outros pesquisadores. Somente em 1920 é que se realizaram verdadeiras transmissões de imagens, graças às experiências de dois grandes cientistas: o escocês John Logie Baiard (1888-1946), considerado ‘o pai da televisão mundial’, e o americano Charles F. Jenkins (1867-1934). Ambos utilizaram analisadores mecânicos, sem que um tivesse conhecimento do trabalho do outro.
Em 1920, Baird realizou as primeiras transmissões através do sistema mecânico, baseado num invento de Paul Nipkow. Ao transmitir imagens do seu próprio laboratório, logo à frente do seu transmissor e do protótipo de câmera que também havia inventado, Baird demonstrou o que seria o seu invento. Em 1923, o russo Wladimir Zworykin patenteou o iconoscópio, invento que utilizava o tubo de raios catódicos Um ano depois, Baird transmitiu contornos de objetos a distância e, em 1925, fisionomias de pessoas. O padrão de definição tinha 30 linhas e era mecânico, mas, ali, Baird dava o primeiro passo para lançar uma invenção que tiraria dos cinemas boa parte do seu grande público.
No ar
Foi o americano Philo Farnsworth que patenteou, em 1927, um sistema de secador de imagens por raios catódicos, porém com nível de resolução não satisfatório, a televisão eletrônica. A imagem era apenas um fio cortando ao meio uma tela dentro de um tubo de vidro, mas representava um enorme passo na história das comunicações. Com ele, havia-se descoberto que os elétrons podiam formar imagens em uma tela, bastando enviar ordens que determinassem quais lugares deveriam ocupar no visor.
Em 1926, nascia, nos Estados Unidos, a RCA (Radio Corporation of America), que fez sua primeira demonstração televisiva ao gerar imagens do jardim em frente aos seus estúdios. A primeira seria justamente a estátua que ficava bem ao meio desse jardim, um monumento do famoso personagem de desenhos animados, o Gato Félix, que media 2 metros de altura. A transmissão foi feita com sucesso. A imagem aparecia através de um televisor que tinha 60 linhas de capacitação, tornando o conjunto desta parecido com uma persiana, que produzia a figura do felino. Quase 30 anos depois, esta mesma empresa, a RCA Victor, trazia ao Brasil sua tecnologia para fundar a PRF-3 TV Tupi-Difusora, em 1950.
Foi a Alemanha, entretanto, o primeiro país a oferecer um serviço de televisão pública, emitindo oficialmente, em março de 1935, um padrão de média definição: 180 linhas e 25 quadros por segundo. A BBC foi inaugurada em 1936, na Inglaterra, com imagem composta por 240 linhas, padrão mínimo que os técnicos chamavam de ‘alta definição’, por garantir boa qualidade e nitidez. Em três meses, seu sistema oficial já era de 405 linhas. No ano seguinte, três câmeras eletrônicas transmitiram a cerimônia da Coroação de Jorge VI, com cerca de 50 mil telespectadores.
Na Rússia, a televisão começou a funcionar em 1938 e, um ano depois, nos Estados Unidos, sendo este o país que melhor entendeu e absorveu a nova mídia. A NBC estreou em 1941, com anunciantes e patrocinadores sustentando a programação. A RCA produziu o primeiro tubo de televisão, chamado orticon, que passou a ser produzido em escala industrial a partir de 1945.
A Segunda Guerra Mundial começou em 1939 e a Alemanha foi o único país da Europa a manter a televisão no ar durante o período. Paris voltou com as transmissões em outubro de 1944, Moscou em dezembro de 1945 e, a BBC, em junho de 1946, com a transmissão do desfile da vitória. Em 1950, a França possuía uma emissora com definição de 819 linhas, a Inglaterra com 405 linhas, os russos com 625 linhas, e Estados Unidos e Japão com 525 linhas. Em setembro desse mesmo ano, inaugurou-se a TV Tupi de São Paulo, pertencente ao jornalista Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, com sistema baseado no americano.