Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que se pode explicar de uma imagem

Quem quer que já tenha se deparado com a necessidade de utilização de imagens previamente produzidas para a construção de um novo produto sabe a importância de instrumentos que permitam classificar adequadamente essas imagens. A dificuldade de localizar tais instrumentos deve-se a muitos fatores, em particular à multiplicidade de leituras existentes em cada imagem. Já nos primeiros momentos do cinema demonstrava-se que a mesma expressão facial, por exemplo, ganha sentidos diametralmente opostos, dependendo das imagens que a precedem e, portanto, a contextualizam.

A imagem nunca é absoluta. Sua construção é fruto de uma grande complexidade e as informações nela contidas espalham-se numa rede interminável de significados. Essas constatações simples já bastariam para sugerir a dificuldade de se encontrar códigos que determinem o que está contido em cada imagem e no que é necessário sabermos para resgatá-la com o fim de a re-arranjarmos em contextos muitas vezes distintos daqueles sob os quais ela foi originalmente arquivada.

Recentemente, plataformas digitais passaram a permitir, por um lado, o radical processamento e transformação das imagens captadas; por outro a construção de mecanismos de busca atrelados a sofisticadas formas de catalogação e pesquisa – que há muito remeteram ao cotidiano a possibilidade da identificação de milhões de ocorrências em frações de segundo.

Resolver a questão do armazenamento e recuperação de informações puramente visuais depende então de um entendimento amplo da complexa estrutura da própria imagem e do que é capaz de lhe conferir importância, bem como da tecnologia para dar suporte às nossas necessidades. Uma coisa não pode ser feita sem outra. É portanto um desafio que perpassa diversos campos do conhecimento.

Neste livro, Antonio Brasil persegue um objetivo claro: o de propor um método que permita ao usuário a classificação de informações visuais, a partir de critérios muito mais eficazes – e menos frágeis – que a simples descrição dessas imagens por palavras. O autor se concentra nas imagens captadas da realidade pelo trabalho do telejornalismo e propõe então ao construtor de imagens jornalísticas uma ferramenta que pode mudar significativamente o seu método de trabalho de forma análoga a que a Internet, por exemplo, mudou quase instantaneamente toda as nossa forma de pesquisa. Se esse objetivo for alcançado na prática, será enorme a extensão de seus benefícios para os produtores e difusores de informação jornalística – e naturalmente para os consumidores de toda essa informação.

Novo texto

Para descrever seu método, o autor caminha por três vertentes distintas. Inicialmente, conceitua com clareza e grande riqueza de citações a própria imagem; busca estabelecer sua importância e as muitas formas em que ela é apreendida por diversas culturas. A seguir, detém-se na natureza dos mecanismos existentes de catalogação e recuperação de imagens, uma abordagem técnica mas necessária para situar o leitor. Finalmente, descreve com detalhes a sua proposta de modelo. Faz isso na primeira pessoa, num tom pedagógico que não somente facilita o entendimento do leitor como o torna parceiro dessa busca.

No universo do telejornalismo prevalece o conhecimento empírico, a hegemonia da prática sobre teorizações que muitas vezes parecem passar ao largo do seu objeto. Antonio Brasil, um jornalista com larga experiência em redações de TV, mas também um professor de comunicação voltado para a pesquisa acadêmica e a permanente procura por meios novos de expressar e desenvolver a prática jornalística, busca neste volume aproximar as duas coisas. Ao mesmo tempo em que reflete sobre a natureza da matéria-prima do trabalho telejornalístico, detém-se de forma responsável sobre a frágil maneira pela qual tentamos inutilmente colocar em palavras aquilo que as palavras são insuficientes para descrever.

Antonioni dizia que um filme que pode ser explicado por palavras não é um filme. Brasil tenta demonstrar, e faz isso com brilhantismo, que palavras não podem explicar senão uma pequena fração do que contém uma imagem – e isso é francamente insuficiente para quem precise usar a imagem jornalística de maneira consistente para a construção de um novo texto visual.