Em 2004, o rádio completou 82 anos de implantação no Brasil. Apesar da diversidade de meios e formas de comunicação aprimorados durante todo o século XX e, também, nesse início do século XXI, o rádio AM permanece vivo no país. Nesse contexto, a resistência do veículo já seria um bom motivo para estudá-lo. Outro: a deficiente memória do rádio. Pode-se dizer que, de uma certa maneira, a trajetória da radiodifusão no país constitui-se em uma sucessão de momentos marcantes, superados por outros que, por sua vez, ficaram para trás, assim como os personagens principais dessa história toda. O rádio precisou mudar. Alguns desses personagens adaptaram-se a essas mudanças; outros não – e acabaram ficando para trás.
De fato, muita coisa ficou para trás – os tempos gloriosos, principalmente. No entanto, o glamour da chamada época de ouro da radiodifusão brasileira permanece presente na memória de muitos. Assim como persiste a saudade das radionovelas, tão marcantes e tão características do rádio brasileiro das décadas de 40 e 50. O gênero – inaugurado em 1941, com a primeira radionovela brasileira, Em busca da felicidade, na Rádio Nacional – foi tão importante para o desenvolvimento da dramaturgia nacional que dele surgiria, em seguida, a base para as produções de TV. Não é à toa que a televisão brasileira, inicialmente, ficou conhecida como o rádio com imagem? um terceiro motivo para o debruçar sobre o veículo. Além de resgatar um pouco toda essa história, um dos objetivos principais deste trabalho é revelar como o rádio consegue, ao mesmo tempo, ser o mesmo e mudar tanto, sem perecer.
Para conduzir essa reflexão, em uma primeira etapa, foi realizada pesquisa bibliográfica, com consultas a fontes secundárias, como livros, artigos e matérias jornalísticas sobre os temas rádio, radionovela e radioteatro, além de trabalhos produzidos por outros pesquisadores, como projetos experimentais de conclusão de curso. Dados numéricos, como pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) dão suporte ao estudo e o complementam.
Porém, talvez a parcela mais significativa deste trabalho – e, portanto, aquela que mais o enriqueceu – seja aquela em que as impressões pessoais dos participantes são expostas. Por meio de depoimentos de jornalistas, radialistas, radioatores, dubladores e técnicos foi possível não somente analisar dois períodos tão distintos – o apogeu do rádio e a época atual, passando por fases de decadência e renascimento – e demonstrar o processo de modernização ao qual o rádio e os profissionais que nele atuam estão submetidos, mas, também, a permanência de formatos considerados por muitos arcaicos ou ultrapassados – como o radioteatro.
Um paradoxo interessante. Uma velha fórmula que continua dando muito certo, apesar dos novos rumos.