O ‘caso Nelsinho Piquet’ foi bem acompanhado pela mídia: a Fórmula 1 é popular, badalada, apaixona homens e mulheres, adultos e crianças. Nada foi omitido, inclusive a troca de pesados insultos entre o jovem piloto e o seu antigo superior na Renault, Flavio Briatore.
Mas a confissão do piloto não pode ser comparada com o caso de um atleta que admite a ingestão de anabolizantes antes de uma prova. Piquet provocou um acidente que poderia ter trágicas conseqüências para favorecer seu companheiro da escuderia Renault, Fernando Alonso. E, pelo visto, estes perigosos ‘arranjos’ para intervir nos resultados de uma competição automobilística já aconteceram muitas vezes.
Significa que o alegre, milionário e charmoso Circo da F-1 é, na verdade, um circo de horrores, um verdadeiro esgoto. Esta veemência e contundência não apareceram na maioria dos comentários do último fim de semana. Exceções foram os textos de Ruth de Aquino da revista Época (edição nº 591, pág. 138) e Renato Maurício Prado no Globo (‘Piranhas Club’, domingo, 13/9, pág. 44) – ambos veículos, aliás, do mesmo conglomerado jornalístico da TV Globo, que detém a exclusividade das transmissões do campeonato da Fórmula 1 para o Brasil.
Os demais especialistas, teoricamente mais livres para desmontar o circo, preferiram a discrição e concentraram-se no frio desdobramento dos fatos.
Pois está na hora de devassar o espetáculo automobilístico, inclusive questionar a sua designação como esporte. E isto deveria ter sido feito há muito tempo pela mídia, sobretudo a grande mídia que tem recursos para despachar repórteres ao redor do mundo e cobrir os campeonatos.
Acontece que esta cobertura tem, geralmente, o apoio de grandes anunciantes, os mesmos que patrocinam eventos, escuderias ou pilotos. Fabricantes de carros não têm compromissos com o leitor, ouvinte e telespectador. A mídia tem.
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Em tempo – Nas edições de segunda-feira (14/9), os três jornalões vibraram com a vitória de Rubens Barrichello, em Monza, e esqueceram o caso Piquet. Apenas a Folha deu 20 linhas a respeito, sem destaque e sem acrescentar novidade alguma.