Segundo a Folha de S.Paulo, o secretário paulista da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, descobriu que a corrupção policial incita o crime. Esse é o título da reportagem que abre o caderno ‘Cotidiano’ de sexta-feira (15/5).
A afirmação – que lembra o Conselheiro Acácio, personagem imortal de Eça de Queiróz – pode ter sido um erro de interpretação do jornal, mas aponta para um fenômeno que se observa há cerca de duas décadas: a imprensa abandonou o jornalismo investigativo, afastou-se de suas fontes no interior do sistema institucional e perdeu a capacidade de interpretar sinais do dia a dia que apontam para a evolução de problemas sociais como a criminalidade.
É claro que a corrupção policial incita o crime, e uma afirmação dessas não se presta a título de reportagem.
A notícia verdadeira é que o novo secretário de Segurança está convencido de que a corrupção policial, no estado de São Paulo, chegou a tal ponto que coloca sob risco a eficiência da própria polícia. Pelo menos foi isso que ele declarou à Folha, apontando os fatos.
Retomar a prática
Depois do escândalo envolvendo o ex-secretário adjunto de Segurança Lauro Malheiros Neto, acusado de participar de um esquema de achaques a líderes de uma organização criminosa e de cobrar propina para aliviar a situação de policiais investigados pela corregedoria, a polícia paulista precisava de um choque de ordem. Esse é o sentido da reportagem da Folha.
Mas como aqui tratamos de imprensa e não da administração pública, convém observar que a reportagem da Folha faz um retrato escabroso da situação da segurança pública no Estado. Chama a atenção a aparente surpresa do jornal com o grau de comprometimento da estrutura policial com o crime, fato de amplo conhecimento de qualquer cidadão que tenha tido necessidade dos serviços de segurança pública nos últimos anos, especialmente nos bairros periféricos.
Se ainda tivesse repórteres investigativos, a imprensa não precisaria de declarações de autoridades para informar seus leitores sobre a grave situação. A corrupção policial é uma realidade nacional.
Além da Folha, também o Estado de S.Paulo e o Globo trazem nas suas edições de sexta-feira (15) reportagens sobre o envolvimento de policiais com o crime em Brasília e no Rio de Janeiro. A rigor, em muitos estados parte da polícia se associou ao crime organizado, quando não é a própria responsável por sua organização.
A reportagem da Folha, que reproduz uma extensa radiografia do problema em São Paulo, oferecida pelo secretário da Segurança, é apenas um enunciado.
A imprensa precisa retomar a prática do jornalismo investigativo para ajudar a sociedade a entender e combater o problema em sua totalidade.